A hora da verdade para Theresa May
12 de julho de 2018A pergunta que fica depois das saídas de Boris Johnson e David Davis do governo da primeira-ministra Theresa May é: ela terá o apoio necessário para levar adiante seu projeto de soft Brexit ou será derrubada pelos hard Brexiters dentro do próprio partido?
Dito de outra maneira: as saídas de Johnson e Davis são o começo do fim do governo ou, ao contrário, May sai fortalecida? Afinal, ela se livrou de dois dos maiores oponentes internos da sua linha de negociação.
Até aqui, a falta de unidade no governo britânico foi um dos maiores entraves nas negociações com Bruxelas sobre a relação entre a União Europeia e o Reino Unido depois que este deixar o bloco, daqui a menos de nove meses.
Da perspectiva de Bruxelas, as saídas dos dois eurocéticos e o plano de um soft Brexit definido pelo gabinete britânico dois dias antes, em Chequers, podem significar que finalmente há um pouco mais de clareza e também consenso do lado britânico. Isso é bom para May, que precisa convencer o outro lado das suas propostas.
Porém, a premiê está muito longe de ter o partido unido em torno de si. Seu soft Brexit desagrada a muitos conservadores, que veem as propostas apresentadas por ela como concessões demasiadas. Como disse Johnson, o plano de May vai transformar o Reino Unido numa colônia da União Europeia.
Para os defensores de uma ruptura completa, May rompeu com o espírito do referendo de 2016, com a ideia central de "recuperar o controle", e está tentando vender aos britânicos um "meio Brexit".
Assim, ela está à mercê de uma moção de desconfiança do próprio partido. Para isso bastariam as assinaturas de 48 rebeldes dentro das próprias fileiras. Não deve haver dificuldades para eles alcançarem esse número, mas mesmo assim há bons motivos para acreditar que não farão isso.
Em primeiro lugar, os brexiters não têm uma proposta alternativa clara ao plano de May; em segundo, não há maioria para um Brexit hard dentro do Parlamento britânico; e, por fim, a queda do governo May poderia significar a ascensão ao poder dos trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn.
A parte mais difícil, para May, é outra: ela precisa agora conseguir convencer Bruxelas de seu plano "pragmático e ambicioso" para o Brexit, que prevê manter o Reino Unido no mercado de bens de consumo e produtos agrícolas, mas sem relações estreitas no setor de serviços, que inclui os bancos e o setor financeiro e responde por 80% da economia britânica. O plano também prevê a livre circulação de trabalhadores altamente qualificados e estudantes.
A União Europeia já sinalizou anteriormente que não concorda com esse tipo de proposta, visto em Bruxelas como "ficar só com o melhor". O plano de May pode até destravar as negociações, mas o resultado final delas continua completamente em aberto – e um Brexit hard (a saída sem acordo) continua sendo uma possibilidade.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
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