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Renúncias de Davis e Johnson expõem divisão no governo May

Alexandre Schossler | Barbara Wesel
9 de julho de 2018

Poucas horas depois de Theresa May festejar consenso em torno do Brexit, negociador-chefe e ministro do Exterior anunciam suas renúncias, deixando incerto o futuro da premiê à frente do Reino Unido.

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David Davis e Boris Johnson
David Davis e Boris Johnson são figuras proeminentes dos brexiters, ou defensores de uma ruptura forteFoto: Picture alliance/dpa/Pa/PA Wire

A paz não durou nem dois dias. Na sexta-feira passada (06/07), o governo britânico definiu um plano sobre a futura relação do Reino Unido com a União Europeia (UE). Já naquele momento estava claro que o acerto não agradava aos brexiters, como são conhecidos os defensores do hard Brexit, ou ruptura forte.

A conta veio no domingo à noite, com a renúncia do negociador-chefe do Brexit, David Davis, e ficou ainda mais cara nesta segunda-feira, com a saída do ministro do Exterior, Boris Johnson, o principal rosto público da campanha pró-Brexit em 2016. Johnson será substituído por Jeremy Hunt, que até então comandava a pasta da Saúde e é considerado um dos mais leais ministros da premiê Theresa May.

Nem Davis nem Johnson concordam com o que chamam de concessões excessivas à União Europeia, que, segundo eles, colocam o Reino Unido numa posição de fragilidade. Segundo Davis, May está "entregando demais, muito facilmente". Já a insatisfação de Johnson com a linha adotada por May nas negociações era conhecida.

As renúncias desses dois proeminentes nomes dos brexiters expuseram o tamanho da divisão dentro do Partido Conservador e lançaram o já enfraquecido governo da primeira-ministra britânica numa crise sem precedentes, deixando incerto o futuro dela à frente do governo.

Falta de unidade interna

Da perspectiva de Bruxelas, fica claro que as amplas divisões internas no governo May são de fato o principal empecilho nas negociações entre a União Europeia e o Reino Unido sobre a relação entre os dois lados depois da saída, marcada para 29 de março de 2019.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reagiu com ironia à saída de Johnson, afirmando que ela "prova claramente" que havia unidade dentro do governo britânico.

Dominic Raab
Dominic Raab é o novo ministro britânico para o BrexitFoto: picture-alliance/ZumaPress

Da perspectiva britânica, fica a dúvida se a premiê vai enfrentar uma oposição interna cada vez maior nos próximos dias, o que, em última instância, pode significar o fim de seu governo, ou se ela terá força suficiente para seguir adiante com sua proposta de um soft Brexit, ou ruptura suave.

Johnson e Davis receberam o apoio de muitos brexiters dentro do Partido Conservador, incluindo o influente legislador Jacob Rees-Mogg, após as suas saídas. Essa insatisfação com May pode levar a uma revolta dentro do partido, já que muitos brexiters veem a tentativa de um Brexit suave como traição ao seu objetivo de "recuperar o controle".

O tempo corre

No Parlamento, pouco depois das renúncias, May deu a entender que vai manter sua linha e defendeu seu plano de buscar relações econômicas o mais estreitas possível com a UE. Ela argumentou, por exemplo, que seu plano é a única maneira de evitar o fechamento da fronteira entre as Irlandas. O plano dela – que prevê a livre circulação de bens, mas não de serviços e trabalhadores – é o right Brexit, ou Brexit correto, afirmou a premiê, porque evitaria controles na fronteira com a Irlanda, que é membro da UE.

Não está claro, porém, se a União Europeia vai concordar com as propostas contidas no plano britânico. As negociações deverão agora continuar com o novo negociador-chefe, Dominic Raab, um forte defensor do Brexit. A última rodada de negociações em Bruxelas, aliás, já havia sido dirigida por Ollie Robbins, do gabinete de May. Davis já havia sido tacitamente desautorizado e posto de lado. 

O que torna a situação ainda mais dramática é o fato de que restam apenas de três a quatro meses para se chegar a um consenso sobre o acordo de separação. Na próxima semana, deverá haver mais uma rodada de negociações, depois vem a pausa de verão, e só em setembro é que as conversações continuam.

Porém, no mais tardar no início de dezembro, as negociações teriam que apresentar algum resultado devido aos processos de ratificação na UE. Se não houver um acordo de separação, aumentam as chances de um Brexit duro em 29 de março de 2019, com consequências imprevisíveis para a economia britânica e também para a UE.

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