África do Sul regista mais de meio milhão de violações anuais
2 de maio de 2012
Segundo dados oficiais, uma mulher é violada e abusada sexualmente na África do Sul a cada 17 ou 23 segundos.
Thora Mansfield é a diretora do centro de atendimento "Porta Aberta", na cidade de Pinetown, perto da cidade portuária de Durban, na África do Sul. Acaba de atender uma chamada telefónica. E descobriu que uma pessoa foi violada.
Além de oferecer aconselhamento 24 horas por dia, a organização não governamental que Mansfield dirige tem um serviço de reabilitação para vítimas de violação e abuso sexual. Existem também três estações de aconselhamento mais pequenas noutros lugares e um centro de abrigo para vítimas de violação em áreas rurais próximas, abrangendo uma população de mais de cinco milhões de pessoas.
Thora Mansfield diz que os casos de violação não param de aumentar e acredita que isso se deve principalmente ao facto de a África do Sul ser um país culturalmente chauvinista. Mas há outros conceitos falsos que também contribuem. "Acho que eles acreditam que o sexo com uma virgem ou com uma criança irá impedi-los de contrair o HIV", exemplifica a diretora do "Porta Aberta", que afirma ainda que os problemas graves acontecem especialmente "nas comunidades onde a pobreza é extrema".
Vítimas sem idade
A idade das vítimas varia entre um e 80 anos de idade. Num centro de atendimento administrado pela ONG "Porta Aberta" encontra-se uma jovem de 15 anos que foi encaminhada para aqui pela polícia.
Nos últimos quatro anos, a adolescente foi repetidamente violada na casa de uma família de acolhimento por um homem de 27 anos. Visivelmente traumatizada, conta o que lhe aconteceu na língua local, zulu: "Fui violada pelo meu irmão adotivo desde 2008. Não disse nada porque tinha medo. Tentei dizer à mãe dele, mas ela ignorou, porque pensava que eu era namorada do filho. Depois disso, a polícia trouxe-me para cá e fui admitida neste centro de abrigo".
Uma das 21 conselheiras do centro "Porta Aberta", Precious Msomi, acredita que os casos de violação são uma espiral fora de controlo. "É muito grave porque a maioria das vítimas são crianças e os responsáveis são membros da sua família, tios, pais e outros", diz, ao lembrar que muitas vezes os responsáveis estão bem perto das vítimas.
"Uma em cada duas mulheres na África do Sul é violada"
O centro “Porta Aberta” é apenas um das várias centenas de centros de aconselhamento para vítimas de violação existentes em todo o país. Outro deles é o da Fundação Jessica Ford, num hospital de Durban. Foi criado há alguns anos por Jessica Ford, uma jovem que foi violada em 2008 por cinco homens que invadiram a sua casa.
A Fundação oferece aconselhamento às vítimas de todas as idades e de todos os setores da sociedade. Cindy Aberdien, uma das conselheiras, afirma que "uma em cada duas mulheres na África do Sul é violada. As mulheres neste país têm mais hipóteses de serem violadas do que aprender a ler", explica.
Aberdien ainda reforça que o processo de acompanhamento das vítimas "é uma viagem. Não é algo que se faz de uma só vez. Vemo-las em cerca de 6 a 8 sessões ao longo de um determinado período de tempo. Fazemos mais sessões de acompanhamento e elas têm os nossos contactos e podem entrar em contacto connosco a qualquer momento", relata.
Autora: Subry Govender (Durban)/Madalena Sampaio
Edição: Renate Krieger/António Rocha