Universidade Católica de Angola: Incubadora de governantes?
5 de abril de 2024Márcio Daniel é o mais recente professor da UCAN a ocupar a pasta de um ministério. Foi esta semana empossado como ministro do Turismo de Angola, depois de ter sido secretário de Estado no Ministério da Administração do Território (MAT).
Márcio de Jesus Lopes Daniel nasceu a 8 de outubro de 1985. Licenciou-se em Direito pela Universidade Católica de Angola onde, entre outras disciplinas, lecionou a cadeira de Direito Económico.
Agora tem a missão de revolucionar o setor turístico angolano, um importante segmento para a diversificação da economia, fortemente dependente do petróleo. "Já era sem tempo ser nomeado como titular da pasta. Não foi titular do MAT e foi para o turismo", comenta o investigador angolano Cláudio Fortuna.
"Acaba por ser uma espécie de fuga para frente, na medida em que se está na fase de preparação das autarquias e ele foi um dos mais antigos dedicados reesposáveis desta área no Ministério da Administração do Território e era suposto que continuasse ou ascendesse porque veem grandes desafios nesta direção", acrescenta.
Outros casos
Este não é um caso isolado. Em outubro de 2019, o MPLA, o partido no poder, também nomeou Vera Daves para o cargo de ministra das Finanças, tornando-se na primeira mulher a exercer tais funções. Licenciada em Economia pela Universidade Católica de Angola, Vera Daves também já foi secretária de Estado para as Finanças e Tesouros.
E os exemplos não ficam por aqui. Milton Reis, professor de Economia Internacional da UCAN, é atualmente secretário do Presidente da República para os Assuntos Económicos. Antes foi secretário de Estado para o Planeamento.
Na União Africana (UA) está Wilson de Almeida, professor de Direito Africano e Direito Internacional Público, também da referida instituição superior. Hoje ocupa os cargos de presidente do Comité dos Direitos e Bem-Estar da Criança e responsável da Arquitetura da Governação Africana - um órgão que promove a democracia, boa governação e respeito pelos direitos humanos.
Será a UCAN a nova fonte de governantes angolanos?
"Eu acredito que resulta do facto de a Universidade Católica ser uma universidade com prestígio, o peso que a igreja católica tem em Angola e também não podemos nos esquecer o facto de a UCAN é a mais antiga universidade privada de Angola", responde Cláudio Fortuna.
"Também o rigor que a universidade tem, a questão do lobby simbólico que a igreja tem, também joga um pouco nestas circunstâncias", acrescenta o investigador.
Questionado sobre se estes quadros são uma mais valia na governação do MPLA, o investigador responde: "Em determinadas circunstâncias sim e noutras nem por isso. De uma maneira geral, estes quadros que veem da Universidade Católica, na lógica de alguns professores e outros estudantes, sofrem exatamente as mesmas influências que outros quadros sofrem."
Para o jurista Agostinho Canando, é necessário apostar-se mais em tecnocracia em detrimento da militância. "Até porque existem posições sociais a nível de empresas e organizações que devem ser respondidas pura e simplesmente por aqueles que compreendem tecnicamente da matéria", diz.
"Pelo que, apesar das pessoas muitas vezes terem uma grande militância não respondem como tal com os anseios daquele cargo ou daquele órgão de direção", conclui.