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Um ano após morte de Nhongo: Deslocados em paz mas com fome

Bernardo Jequete (Manica)
21 de outubro de 2022

Mais de 240 famílias deslocadas na sequência dos ataques da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, no distrito de Gondola, relatam uma vida tranquila e de paz. No entanto, queixam-se da falta de alimentos.

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Mosambik RENAMO-Militärjunta in Gorongosa | Mariano Nhongo
Foto: DW/A. Sebastião

Um ano depois da morte do líder dos dissidentes, Mariano Nhongo, os deslocados descrevem um ambiente de paz. No entanto, estão a passar fome. Alimentam-se de tubérculos, como mandioca e batata-doce, e papas de manga verde e outros frutos silvestres.

Os alimentos escasseiam, diz Chica Francisco, deslocada que está naquele centro há três anos.

"Cultivamos e semeamos milho, e não saiu quase nada. Levamos a mandioca, cascamos e colocamos ao sol, e depois levamos a moagem para moer."

Chica Francisco, sentada em sua casa junto de alguns filhos
Chica Francisco, sentada em sua casa junto de alguns filhosFoto: B. Jequete/DW

Johane Ranguisse é um jovem deslocado há dois anos. Hoje, lamenta a falta de apoio alimentar por parte do Governo moçambicano:"Há água, mas em termos de comida, há dificuldades por causa do sol. Estamos a comer o que cultivámos no ano passado, mas não saiu bem por causa da chuva, que demorou a chegar. As pessoas comem mandioca e outras fazem papas de manga", disse.

Sem olhar para trás

Ranguisse mostra-se feliz pelo silenciar das armas. Mas apesar do ambiente de paz, não pensa em regressar a casa."Não planeio voltar para casa, porque já me habituei aqui".

Ranguisse não é caso único. "Queremos estar em paz e semear papaieira, cajueiro, mangueiras, sabendo que os ataques não voltarão mais", disse Chica Francisco.

Também os automobilistas saúdam o regresso da normalidade. Diretamente da Estrada Nacional 1, Baptista Feijão já não teme conduzir na região.

"Agora circulamos em paz e sem medo de andar na EN1. O cessar-fogo ajudou muito os moçambicanos a progredirem com os seus negócios”, disse.

Uma das deslocadas preparando a mandioca para pôr à seca e moer
Uma das deslocadas preparando a mandioca para pôr à seca e moerFoto: B. Jequete/DW

O condutor explica que o cessar-fogo permitiu o "levantamento do controlo militar" ao longo das estradas e que já não se dorme três ou quatro vezes na estrada” para chegar a Maputo".

Golone Ferro Chiri, líder comunitário do bairro de reassentamento de Massequece, em Gondola, destaca a tranquilidade que se vive após a morte do líder da autoproclamada junta militar da RENAMO, mas as cicatrizes permanecem.

"Estamos a construir as casas, outrora tendas. Não pensamos em voltar para casa. Quem viu e viveu aquele sofrimento, acho que não vai voltar. Eu perdi muita coisa", disse Ferro Chiri.

Um novo começo

Apesar das dificuldades, os deslocados ouvidos pela DW África pretendem refazer a vida na região onde foram reassentados. Manuel Mabunda, pai de sete filhos, lembra que o calar das armas permitiu que as pessoas deslocadas desenvolvessem várias atividades, como o comércio de produtos de primeira necessidade.

"Agora está normal, porque cada pessoa está a fazer o que quer. Eu não voltarei, porque vi muito sofrimento. O meu plano é construir a minha casa para ficar com a minha esposa e filhos."

Crianças na Escola Primária de Muda Serração
Crianças na Escola Primária de Muda SerraçãoFoto: B. Jequete/DW

Elisa José, deslocada e aluna do 6º ano da escola primária de Muda Serração, está feliz pelo regresso às aulas.

"Fugimos à guerra e ficamos três meses sem estudar. Desde que os ataques de Nhongo pararam, estamos à vontade. Vamos ficar aqui", disse.

Manuel da Paz Manhiça é o diretor da escola de Muda Serração, uma das instituições de ensino que acolheram muitos alunos deslocados quando a tensão político-militar implodiu.

"Depois do cessar-fogo, as coisas voltaram ao normal, visto que algumas crianças regressaram para as suas zonas de origem. Tínhamos crianças que estavam aqui deslocadas de Chibuto", disse.

Há mais de 1300 refugiados no centro de Massequece, distrito de Gondola, na sequência de ataques da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, entre 2019 e 2021, nas províncias de Manica e Sofala.

Família de Mariano Nhongo vive em situação precária

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