1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Oposição moçambicana alerta para ameaças à paz

Lusa
6 de outubro de 2022

A RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, e o MDM, terceiro partido, consideraram hoje a exclusão e a partidarização do Estado uma ameaça à paz, assinalando que reconciliação nacional continua uma "miragem".

https://p.dw.com/p/4HrTh
Foto: DW/L.Matias

A paz que o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, simboliza "pode não estar garantida, enquanto os valores fundamentais que enformam o Estado de Direito Democrático não prevalecerem e não forem respeitados por todos", afirmou Viana Magalhães, chefe da bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) na Assembleia da República.

Magalhães falava durante o discurso de abertura das sessões plenárias do parlamento, que recomeçaram hoje após a tradicional pausa.

Numa intervenção marcada pela alusão ao 30.º aniversário do Acordo Geral de Paz, celebrado no dia 4 de outubro, o chefe da bancada parlamentar do principal partido da oposição acusou a Frente de Libertação de Moçambique (frelimo), no poder, de colocar permanentemente a estabilidade política e social em perigo, através de uma alegada intolerância, exclusão, partidarização do Estado, fraudes eleitorais e violação dos direitos e liberdades fundamentais.

"No Moçambique real, ser da oposição é assinar a sua própria sentença de exclusão e de morte, quem se atreve a ser da oposição tem de aceitar ser discriminado e ser privado da sua cidadania", acusou Viana Magalhães.

MOZAMBIQUE-VOTE
Foto: Getty Images/G. Guercia

Magalhães defendeu que a recusa do gozo dos direitos económicos e sociais às camadas da população não filiadas à FRELIMO cria descontentamento e coloca os jovens numa situação de propensão para a violência armada.

Apontou o recrutamento de jovens por grupos extremistas na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, como resultado da marginalização.

O chefe da bancada parlamentar da RENAMO acusou a FRELIMO de manipular os órgãos eleitorais para a prática de fraudes, visando a manutenção do poder e a recusa da alternância política.

A atual polémica sobre a escolha do novo diretor do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), prosseguiu Viana Magalhães, é exemplo de que os órgãos eleitorais são manietados pela FRELIMO.

"Urdir fraude eleitoral" deve ser considerado algo que é "inimigo da paz", observou.

Por outro lado, Viana Magalhães defendeu que o combate aos grupos armados no norte de Moçambique não deve ser feito apenas através da via militar, impondo-se o ataque às causas sociais e económicas por detrás da adesão de jovens aos grupos armados.

Cabo Delgado
Para Viana Magalhães, combate aos grupos armados no norte de Moçambique não deve ser feito apenas através da via militarFoto: Roberto Paquete/DW

Reconciliação nacional, uma "miragem"

O líder da bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, também considerou que a exclusão social, económica e política constitui uma ameaça à paz.

"É um erro pensar que a paz é apenas o calar das armas. A paz pressupõe o bem-estar, a partilha das riquezas nacionais e uma democracia mais inclusiva e participativa", declarou Simango.

A primazia à filiação partidária no acesso às oportunidades económicas e profissionais no Estado e no setor privado tornam a reconciliação nacional uma miragem, acrescentou.

Lutero Simango
Lutero SimangoFoto: Marcelino Mueia/DW

O chefe parlamentar do MDM também abordou a violência no norte de Moçambique, advogando igualmente que a solução militar não deve ser o único caminho, porque sozinho será ineficaz.

"Os conflitos de natureza militar cíclicos devem ser resolvidos de raiz e com conhecimento das causas e motivações. Soluções militares para problemas domésticos, ignorando as causas e motivações dos mesmos, é simplesmente tapar o sol com a peneira", observou.

O debate no parlamento prossegue na sexta-feira (07.10), com a Tabela Salarial Única (TSU) na agenda, um instrumento com o qual o Governo pretende harmonizar os critérios de cálculo de salários na Administração Pública e corrigir os desequilíbrios da matriz remuneratória do setor.

A ordem de trabalhos dos deputados inclui ainda, até dezembro, o debate das propostas de lei da comunicação social e radiodifusão, a revisão da lei sobre o regime jurídico dos cidadãos estrangeiros em Moçambique, debate da lei cambial e da lei que estabelece o regime jurídico da conta bancária.

A informação do chefe de Estado sobre o estado da nação, informação do provedor de Justiça, sessões de perguntas ao Governo e o debate do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado de 2023 contam também da agenda parlamentar.

A Assembleia da República é dominada pela Frelimo com uma maioria qualificada de 184 dos 250 assentos do hemiciclo.

A RENAMO tem 60 deputados e o MDM detém seis assentos.

Moçambique: 30 anos do Acordo Geral de Paz

Saltar a secção Mais sobre este tema