Trabalhadores do Caminho de Ferro de Benguela em greve
1 de julho de 2021Para já, a greve é de seis dias e serve de aviso ao conselho de administração do Caminho de Ferro de Benguela (CFB). Os trabalhadores dizem que o salário-base, de 39 mil kwanzas (cerca de 50 euros), é demasiado baixo face às receitas da empresa. Por isso, pedem aumentos salariais de 50%. E não só.
"Nós recebíamos a cesta básica mensalmente e o conselho de administração retirou-nos essa regalia há aproximadamente 20 meses, sem pré-aviso", afirma Mário Suculembe, primeiro secretário da comissão sindical do CFB.
"Além de esta ser uma empresa orçamentada, também faz dinheiro. Mas ninguém sabe onde está esse dinheiro, só o conselho de administração é que sabe. Um trabalhador está a receber 39 mil kwanzas contra aproximadamente um milhão de um diretor da empresa."
Problemas de saúde
Os funcionários queixam-se também de atrasos no pagamento de salários e das condições laborais. José Celestino, que trabalha há 17 anos no Caminho de Ferro de Benguela, diz que a empresa não presta atenção aos seus trabalhadores.
"É uma lástima que a direção da empresa não reconheça os trabalhadores, principalmente os técnicos que fazem movimentar os comboios todos os dias", diz em entrevista à DW África. "Por causa desses trabalhos, perdi o foco da visão. Nós não estamos a ser vistos como técnicos, o mais importante para eles é que os comboios andem, e o que a empresa produz vai para o bolso deles, porque nós não vemos aquilo que produzimos."
Os trabalhadores garantem que, se a empresa não responder favoravelmente às suas reivindicações, alargarão a greve por mais trinta dias.
CFB cita dificuldades financeiras
Mas a administração do Caminho de Ferro de Benguela diz que – ao contrário do que os funcionários alegam – a empresa está a passar por dificuldades financeiras.
Ainda assim, segundo o administrador técnico do CFB, Edson Lopes, há dois pontos do caderno reivindicativo que já terão sido cumpridos de forma parcial: "O aumento do salário e o fornecimento da cesta básica".
Lopes refere, no entanto, que um aumento dos salários em 50% é demasiado alto "tendo em conta a conjuntura financeira da empresa". De acordo com Edson Lopes, o CFB também "não tem capacidade" para atribuir a cesta básica mensalmente, apenas de dois em dois meses.
"Para além disso, é um benefício e não um direito", frisa o responsável.
A greve foi declarada depois de vários dias de negociações entre os sindicalistas e o conselho de administração do CFB. O governador da província de Benguela, Luís Nunes, interveio nas negociações e assegurou que os problemas apresentados pelos trabalhadores da empresa pública seriam resolvidos em trinta dias. Mas já passaram mais de cinquenta.
Apesar da greve, o secretário-geral do Sindicato dos Transportes na província de Benguela, Bernardo Henriques, garante aos passageiros que os serviços mínimos serão salvaguardados, "especificamente o comboio de passageiros que faz [o percurso] Lobito-Benguela, um de manhã e outro à tarde, assim como o comboio de passageiros que parte do Cuito a Luena."
A paralisação afetará todas as outras ligações.