Reinício do centenário tráfego no CF de Benguela
7 de março de 2018A informação foi confirmada à agência de notícias Lusa por fonte do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), dando conta que a carga, que partiu na segunda-feira (05.03) da estação do Luau, província angolana do Moxico, no leste, corresponde a 1.000 toneladas de manganês, que chegaram, também pela linha ferroviária, do país vizinho, em 25 vagões com 50 contentores.
De acordo com informação do Ministério dos Transportes angolano, o minério, que está a ser exportado pela Sociedade Comercial de Kissengue Manganês, da RDCongo, chega ao porto do Lobito - de onde será exportada por via marítima - por intermédio do CFB, nos termos de um acordo de cooperação rubricado em 2017 entre aquela empresa pública angolana e a Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro do Congo (SNCC).
Tráfego internacional suspenso em 1984
Na prática, trata-se do reinício do centenário tráfego internacional no Caminho de Ferro de Benguela, iniciado no período colonial português, com a construção da linha, mas que foi suspenso em 1984, devido à guerra civil em Angola, que só terminou em 2002.
Desde 01 de maio de 1931 que a linha do CFB está ligada à dos Caminhos de Ferro do Baixo Congo, sobre a ponte do rio Dilolo, para dar resposta à necessidade congolesa de aceder a um porto, neste caso no Lobito, Angola, para exportar por via marítima o minério extraído no interior do país.
Em 1974, no fim do período colonial português, o tráfego internacional já era responsável por 90% das receitas do CFB, com uma capacidade anual de transporte de 10 milhões de toneladas.
Reabilitação da rede ferroviária levou 10 anosA reabilitação da rede ferroviária angolana, destruída pela guerra civil, custou, entre 2005 e 2015, mais de três mil milhões de euros, conforme anunciou a 14 de fevereiro de 2015 o ministro dos Transportes de Angola, Augusto da Silva Tomás. O ministro falava precisamente no Luau, onde naquela data foi inaugurado o troço final do Caminho de Ferro de Benguela na província do Moxico, representando o regresso, mais três décadas depois, da ligação de comboio entre o Atlântico (Lobito) e o interior de Angola, num percurso de 1.344 quilómetros. "Muitas vezes, e nem sempre de boa-fé, alguns perguntam onde é que vai o nosso dinheiro. Pois bem, a resposta está aí. Parte da reposta está aqui no Luau, na extensão do Caminho de Ferro de Benguela", ironizou Augusto da Silva Tomás.
A reabilitação das três linhas nacionais edificadas durante o período colonial - além do CFB também o Caminho de Ferro de Luanda e o Caminho de Ferro de Moçâmedes -, envolveu um investimento público de 3,5 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) em 2.612 quilómetros de rede e na construção de raiz de 151 estações ferroviárias.
Em concreto, só a reabilitação da linha do CFB custou quase 1,9 mil milhões de dólares, cruzando quatro províncias angolanas e uma área com sete milhões de habitantes.
Principalmente transporte de mercadoriasO sistema ferroviário angolano está alicerçado nos portos de Luanda, Lobito e Namibe, criando desta forma uma rede intermodal para servir também o transporte de mercadorias.
Toda a rede ferroviária nacional, reabilitada sobretudo por empresas chinesas, foi utilizada para a passagem de uma linha própria de fibra ótica, tendo sido ainda adquiridas 42 locomotivas, 248 carruagens de várias tipologias e 263 vagões.
Em 2015, na cerimónia no Luau, em que foi enfatizado o "dia histórico" do regresso do comboio, além do Presidente angolano, então José Eduardo dos Santos, marcaram presença igualmente os chefes de Estado da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, e da Zâmbia, Edgar Chagwa Lungu. Os dois países, que fazem fronteira nesta região com Angola, têm na reabilitada ligação ferroviária uma forma de exportar por via marítima - através do CFB e do porto do Lobito - os minérios extraídos nas regiões de Katanga (RDCongo) e Copperbelt (Zâmbia), com a interligação futura das três redes ferroviárias.