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RENAMO denuncia tráfico de armas para extrair mercúrio

Nádia Issufo28 de fevereiro de 2014

Porta-voz do líder do partido moçambicano diz que membros do exército estão a traficar armas e a vender mercúrio para o garimpo de ouro, mas Governo nega. ONG também duvida, mas atesta comércio do metal no país.

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Amálgama de pepitas de ouro feita com a ajuda de mercúrioFoto: DW/J. Hahn

Elementos do exército moçambicano estão a traficar armas e a extrair-lhes mercúrio, denuncia António Muxanga, porta-voz de Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição.

"A preocupação das forças de defesa em usar armamento pesado, supostamente contra os guerrilheiros da RENAMO, é uma forma de tirar legalmente o armamento dos arsenais em todo o país. Porque eles esvaziam ogivas que têm mercúrio por dentro", afirma Muxanga em entrevista à DW África. "Esse mercúrio é traficado para fornecer o mercado negro de ouro a nível nacional, assim como na África do Sul."

O mercúrio é utilizado com frequência no garimpo de ouro, pois consegue ligar as pequenas pepitas do metal em amálgamas.

O porta-voz do líder da RENAMO diz ainda que há informações que apontam para o tráfico de armas para a zona dos Grandes Lagos.

Porém, Benjamim Chabuala, responsável pela imprensa no gabinete do ministro da Defesa, declara que não tem conhecimento de que isso esteja a acontecer. "A única informação que temos sobre o movimento de armas foi a apreensão de uma camioneta que carregava armas no centro do país", explica.

Unruhen in Mosambik
Muxanga diz que alguns elementos das forças de defesa estão a traficar armasFoto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

Abrir armas para extrair mercúrio

Chabuala não respondeu à questão do mercúrio, mas assumiu que o exército tem usado armas de artilharia. E nega o uso de aviões de combate e de armas do tipo B 11.

A FOMICRES, uma organização não-governamental moçambicana que trabalha na área da proliferação de armas, também nas zonas fronteiriças com a Zâmbia, Zimbabué e Malawi, com base nas suas atividades e constatações, confirma as afirmações do Governo. O diretor da instituição, Albino Forquilha, conta que não tem "nenhuma evidência que indique que haja tráfico de armamento" de Moçambique para o exterior.

"O que, de facto, temos conhecimento é que tem havido alguns moçambicanos a tentarem pegar no armamento antigo que veio, por exemplo, da União Soviética, como alguns explosivos, cujo fabrico se suspeita ter envolvido mercúrio", refere Forquilha. "Tivemos casos de acidentes dentro do país de pessoas que procuram abrir estes explosivos para encontrar o mercúrio para posterior venda."

Ainda em dezembro passado, a imprensa dava conta da morte de três jovens, na província de Maputo, ao tentarem extrair mercúrio de uma granada.

RENAMO denuncia tráfico de armas para extrair mercúrio

Armas sob controlo?

Esta situação levanta dúvidas sobre a capacidade de supervisionamento e controlo de armas no país. E ainda na esteira das acusações a RENAMO, o último incêndio no paiol de Maputo terá sido originado pelo esvaziamento de mercúrio em ogivas, facto, na opinião do partido da oposição, nunca assumido pelo Governo.

Face a tudo isso, estará o Governo capaz de controlar a circulação do seu armamento?

Benjamim Chabuala garante que sim. "É um exército do Governo, organizado, e não se pode colocar uma situação de falta de controlo. Os paióis estão a ser transferidos para zonas mais seguras, mais protegidas e mais organizadas", diz. "Duvidar da capacidade de controlo e organização é um pouco ridículo."

E mais uma vez Albino Forquilha, da FOMICRES, vai no mesmo diapasão que o Ministério da Defesa, mas comenta que "a única capacidade que ainda está longe de ser conseguida é o controlo das suas fronteiras marítimas, aéreas e mesmo no interior do país. [Em Moçambique,] ainda não temos essas capacidades."

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