Armas e diálogo não combinam, dizem pequenos partidos
25 de fevereiro de 2014Moçambique não pode ficar feliz com o acordo alcançado sobre o pacote eleitoral entre o Governo e a RENAMO, afirmam os partidos políticos extraparlamentares.
Durante meses, a RENAMO exigiu, entre outros pontos, paridade nos órgãos eleitorais, uma reivindicação que o Governo sempre se recusou a satisfazer. Por causa do pacote eleitoral, as duas partes envolveram-se num conflito armado, principalmente na região centro de Moçambique, que ceifou vidas inocentes.
Os partidos sem assento parlamentar alertam que poderá haver outras situações que possam apoquentar a RENAMO e temem que a maior força da oposição volte a usar as armas para chantagear o Governo e alcançar os seus intentos.
Desarmar a RENAMO
Francisco Campira do PASOMO, Partido de Ampliação Social, sugere que, para que não voltem a acontecer ataques levados a cabo por homens da RENAMO ou de outro partido, mais partidos sejam incluídos na Comissão Nacional de Eleições (CNE). Seria também preciso desarmar a RENAMO, refere Campira. Mas isso passaria apenas pela integração no exército moçambicano.
"Enquanto a parte militar da RENAMO não for acomodada quer nas Forças Armadas, quer nas forças policiais, não poderemos dizer que o país está em paz", diz.
O presidente do partido Os Verdes, João Masango, também pede a integração dos homens da RENAMO: "Estes senhores precisam de ser integrados num determinado sítio. E o próprio Estado moçambicano precisa de se comprometer."
"Despartidarizar" a CNE
Masango acredita que é preciso haver uma CNE acima dos partidos políticos.
"Queremos uma CNE de pessoas que não vão lá para fabricar resultados para um determinado partido", afirma o político dos Verdes. "Para que quando os partidos, que agora se tornaram árbitro do processo, perderem, não haja nenhuma dúvida, à semelhança do que vimos em 1994. Para quem se recorda, nós tivemos uma Comissão de Eleições partidarizada."
Yacub Sibinde, presidente do Bloco da Oposição Construtiva, refere, no entanto, que a paridade na CNE é um assunto que diz apenas respeito à RENAMO e ao partido no poder, a FRELIMO.
"O problema é de eles os dois. Se nos colocarmos lá dentro, como terceira corrente de opinião, estaremos automaticamente a legalizar o sistema de paridade nos órgãos do Estado", diz o responsável. "Isso não pode ser assim."
Para esta coligação de partidos, não é ético a RENAMO continuar armada. Sibinde avisa que, um dia, poderá surgir um outro partido que vai pressionar o Governo com o uso de armas para alcançar os seus objetivos e dizer: "Foi o que a RENAMO fez e ganhou". E acrescenta o político: esse foi um "mau exemplo" para o futuro.