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Raparigas de Chibok livres mas sem regresso a casa à vista

Adrian Kriesch
17 de maio de 2017

As 82 raparigas de Chibok que foram libertadas pelo Boko Haram na semana passada ainda não tiveram permissão para ver as suas famílias. O mesmo se passa com as raparigas soltas no passado mês de outubro.

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Nigeria Präsident Muhammadu Buhari und die freigelassenen Chibok-Mädchen in Abuja
Foto: Reuters/Presidential Office/B. Omoboriowo

Foi um dos dias mais felizes da vida de Lawal Emos. No ano passado, a 16 de outubro, o nigeriano pode, finalmente, abraçar a sua filha Comfort de novo. Ela era uma das reféns que o grupo terrorista islamista Boko Haram deteve durante dois anos e meio em cativeiro. Comfort e outras 20 jovens foram libertadas depois das negociações bem sucedidas entre o governo nigeriano e o grupo terrorista.

Quando Emos reencontrou a sua filha, chorou de alegria. Nem queria acreditar no quão sortudo era, conta em entrevista à DW. "Ela sente-se bem agora e está feliz por tudo ter terminado”, afirma Emos, acrescentando que Comfort quer agora recuperar o tempo perdido e prosseguir com a sua educação, regressando à escola.

Mais um "cativeiro”?

Mas Emos não sabe se esta vontade foi concretizada pois, aquele dia em outubro, após a sua libertação, foi a última vez que Emos viu a sua filha.

O nigeriano regressou a Chibok e Comfort ficou na capital nigeriana, Abuja – a 900 quilómetros de distância da sua terra natal. Mais de seis meses depois, o Governo nigeriano ainda não cumpriu o que prometeu: deixá-la regressar à casa dos seus pais.

Nigeria Chibok Girls
Emos Lawal (à esquerda) reencontra a sua filha Comfort que foi raptada pelo Boko Haram.

Emos não conseguiu ver a filha nas férias de Natal. "Eles [o Governo] dizem que as raparigas ainda são vulneráveis aos ataques do Boko Haram. Podem ser facilmente localizadas pelos terroristas e o Governo não quer dar qualquer informação que possa prejudicar o resgate das restantes reféns”, contou à DW, acrescentando que o correto a fazer era proporcionar-lhe o contato com a sua filha "e não mantê-la, ainda que de outra forma, num cativeiro mais uma vez”.

As 82 raparigas de Chibok, que foram libertadas a 6 de maio deste ano, estão também em Abuja. Têm estado a receber cuidados médicos.

Desde que voltaram à capital, as meninas de Chibok conheceram várias personalidades, como o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, vários ministros, o governador do Estado de Borno, membros do Parlamento e um chefe de distrito de Chibok. No entanto, não lhes foi permitido ver os seus pais. De acordo com os media locais, só um pai conseguiu falar com a sua filha por telefone.

Raparigas em Abuja contra a sua vontade?

Numa entrevista à Channels TV, canal nigeriano, Garba Shehu, porta-voz do Presidente da Nigéria, afirmou que "o Governo não impede qualquer pai de estabelecer contacto imediato com as suas filhas”.

Na mesma linha, Aisha Alhassan, ministra para os Assuntos Femininos, explicou aos jornalistas que as meninas não estão a ser mantidas na capital da Nigéria contra a sua vontade. Segundo esta responsável, pelo menos uma das raparigas estaria a visitar os seus pais. Acrescentou ainda que todas devem regressar à escola em setembro.

Por seu lado, Aisha Yesufu, uma das ativistas do movimento "BringBackOurGirls", critica a falta de informação existente. "Ninguém além do Governo nigeriano sabe o que têm feito estas meninas e o que vai acontecer com elas”, afirma esta responsável, acrescentando que "se as raparigas não têm acesso aos seus pais e vice-versa é mais ou menos como se estivessem numa espécie de cativeiro”.Para Aisha Yesufu, "a situação é muito preocupante”. "Mesmo que [o Governo] as esteja a proteger do resto da sociedade por razões de segurança, deveria permitir o contacto das raparigas com as suas famílias, é muito importante. Só assim as crianças podem sentir verdadeiramente que estão a salvo”.

17.05.2017 Bokoharam - MP3-Mono

Situação "perturbadora"

Isa Sanusi, porta-voz da Amnistia Internacional na Nigéria, confirma também que as 21 meninas libertadas em outubro estão ainda sob custódia do Governo e que os seus familiares não conseguiram ainda estabelecer o contacto com elas, nem pessoalmente, nem por telefone. O que pode querer dizer que também as raparigas agora libertadas terão um longo período de espera pela frente para voltar a ver as suas famílias. "É muito perturbador", acrescenta.

"Tudo o que o Governo quiser fazer pelas meninas, não será tão importante como levá-las de volta para as suas famílias e comunidades onde elas poderão voltar a ter uma vida normal", acrescentou.

Enquanto isso, Emos espera que alguém, em breve, o convide para ir a Abuja. Ele gostaria de comemorar com todos os outros pais das raparigas libertadas- e finalmente ver a sua filha Comfort de novo.