Ativistas angolanos apelam: "Precisamos salvar Nito Alves"
27 de maio de 2022De corpo franzino e rosto transformado, Manuel Chivonde Nito Alves tem causado alguma preocupação. Segundo o pai do ativista, Fernando Baptista, o aspeto do jovem deve-se a uma alegada agressão que Nito sofreu numa das manifestações em que participou.
"A situação começou quando lhe bateram na última manifestação, quando lhe partiram parte da nuca. Foi tratado, mas desde aí que o miúdo não ficou bom. Agora, não sabemos se lhe injetaram [algo] lá no hospital... É complicado... Há momentos em que ele se revolta", conta o pai do ativista à DW.
Fernando Baptista desmente os rumores de que o consumo de drogas e álcool estejam na origem do aspeto debilitado de Nito Alves.
Tratamento hospitalar levanta suspeitas
Tal como o pai de Nito Alves, também a ativista Rosa Conde desconfia do tratamento hospitalar que o companheiro de luta recebeu:
"Pode-se dar o caso das pancadas, que ele foi sofrendo durante as manifestações. Quando levavam o Nito inconsciente ao hospital, ninguém sabia o que estavam a aplicar ao Nito - se talvez lhe aplicavam uma substância não adequada, que podia destruir o organismo. O pessoal não está a parar para pensar nestas possibilidades", pondera Rosa Conde.
As críticas a Nito Alves intensificaram-se recentemente, depois de o ativista ter sido detido, supostamente por apedrejar um autocarro público. Antes do ato de violência, teria recusado pagar o serviço.
Campanha nas redes sociais
Na sequência, os ativistas lançaram nas redes sociais uma campanha a favor do defensor dos direitos humanos, denominada "Nito não precisa de críticas, Nito precisa de um psicólogo".
Rosa Conde, uma das ativistas que aderiram à iniciativa, explica que o objetivo é "salvar o Nito".
"Precisamos do Nito antigo, o Nito de 2011 ou 2012. Nós queremos aquele Nito ativo, aquele Nito forte", defende.
Em 2011, Nito Alves começou a notabilizar-se nas primeiras manifestações realizadas no calor da Primavera Árabe. Foi considerado "preso do Presidente" por ter sido processado pelo então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, pelos crimes de calúnia e difamação, em 2013.
Em 2015, foi detido no âmbito do conhecido caso dos "15+2", quando se encontrava ao lado de outros ativistas a ler o livro "Da Ditadura à Democracia" do professor norte-americano Gene Sharp.
Pedido de ajuda
Fernando Baptista diz que não possui condições financeiras para o tratamento do filho e deixa um apelo: "Eu quero que a sociedade civil e pessoas de boa fé nos ajudem".
Também o ativista Fabião Paulo Ancião entende que algumas organizações não-governamentais nacionais e internacionais deviam ajudar Nito Alves a sair da situação em que se encontra.
"Não devem olhar de forma impávida para a situação do nosso irmão, que está cada vez pior. A saúde do nosso irmão está em perigo. Está a gozar uma vida nefasta neste momento. É um jovem que todos nós conhecemos, com muita coragem e determinação", conclui.