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PolíticaEstados Unidos

O que a reeleição de Trump pode significar para África

Martina Schwikowski
22 de outubro de 2024

A perspetiva de Donald Trump regressar à Casa Branca após as presidenciais de 5 de novembro preocupa alguns africanos, que receiam uma menor cooperação com o continente e políticas de migração rigorosas.

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Donald Trump reunido com delegações africanas durante o seu mandato (2016-2020)
Africanos divididos sobre possível retorno de Trump à Casa BrancaFoto: Fitsum Arega - Ethiopian ambassador to the United States

O antigo Presidente dos EUA, Donald Trump, é o candidato republicano às eleições presidenciais de novembro de 2024. Nas ruas de Accra, capital do Gana, as opiniões variam sobre Trump e a candidata democrata, Kamala Harris.

A estudante ganesa Abigail Grift diz que não gostaria de ver um segundo mandato de Trump nos EUA.

"Houve várias alegações contra Donald Trump. Ele foi alvo de duas impugnações, tentou influenciar a transferência pacífica de poder depois de perder as eleições presidenciais de 2020. Não creio que o seu regresso seja uma boa notícia para os EUA. Como africana, tenho receio de que ele ganhe as eleições", afirma.

Samuel Ofoso, por outro lado, diz que ficaria feliz se Trump fosse reeleito, "por causa da sua visão para África", salientando que Trump ajudou com projetos de infraestruturas e estreitou as relações políticas entre o continente africano e os EUA durante o seu mandato.

Donald Trump (esq.) e Kamala Harris (dta.)
Os dois candidatos às presidenciais de 5 de novembro nos EUA: O republicano Donald Trump e a democrata Kamala HarrisFoto: Evan Vucci/AP/dpa/picture alliance | Shawn Thew/Pool EPA/AP/picture alliance

Preocupações com o regresso de Trump

Etse Sikanku, professor catedrático da Universidade de Média, Artes e Comunicação de Accra, considera que "África deveria estar preocupada com o possível regresso de Donald Trump à Presidência norte-americana".

No que diz respeito à base ideológica que está no centro das políticas de Trump, o republicano "é alguém que acredita no isolacionismo em todos os aspetos. Ele olha mais para dentro".

Sikanku acrescenta que Trump não favorece a cooperação internacional com África e lembra o uso amplamente divulgado de linguagem depreciativa pelo político, em 2018, para descrever algumas partes da África enquanto falava contra a imigração desses países.

"Ele não trata o continente com respeito, mina os ideais democráticos. O que é que se pode esperar?", questiona Sikanku. Ao contrário dos seus quatro antecessores, Trump não visitou o continente uma única vez durante o seu mandato.

Recuo para o interior

Sikanku acredita que os EUA vão retirar-se dos assuntos internacionais se Trump voltar a assumir a Presidência norte-americana.

Priyal Singh, analista do Instituto de Estudos de Segurança em Pretória, ecoa esse sentimento, sugerindo que "se Trump ganhasse a próxima eleição, veríamos uma espécie de reversão para o período anterior da política externa dos EUA sob Trump, e isso está a enfraquecer o sistema multilateral global".

Donald Trump num comício eleitoral na Carolina do Norte, EUA, em outubro de 2024
Trump foi Presidente dos EUA entre 2016 e 2020Foto: Win McNamee/AFP/Getty Images

"Isto não seria benéfico para muitos países africanos que dependem desproporcionalmente do funcionamento deste sistema", afirmou.

No entanto, o analista político sul-africano Daniel Silke acredita que o foco de Washington na geoestratégia e os esforços para investir em algumas partes do continente e reforçar os laços diplomáticos com África vão continuar - independentemente de quem ganhar a Casa Branca.

Interesses geoestratégicos

Silke afirma que, apesar da retórica "América primeiro" de Trump, o mundo exige ação por parte dos EUA. A crescente influência da China, da Rússia e de outros países obrigaria Trump e a sua administração a serem menos isolacionistas do que muitos pensam.

Afinal, a Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA), um programa lançado pelo antigo Presidente dos EUA, Bill Clinton, em 2000, que proporciona aos países africanos elegíveis acesso isento de tarifas aos mercados dos EUA, continua a ter peso.

A lista de produtos AGOA inclui matérias-primas, produtos têxteis e vestuário. O acordo comercial, prorrogado até 2025, concede isenção de direitos aduaneiros às importações provenientes de mais de 30 países da África subsaariana. Em 2022, os EUA foram o segundo destino mais importante das exportações de bens da África do Sul, a seguir à China, com pouco menos de 9%, de acordo com a base de dados Comtrade da ONU.

Do ponto de vista da segurança, Silke argumenta que os Estados Unidos continuam a ser um pilar essencial para muitos países na luta contra as insurreições em muitas nações africanas, especialmente na África Ocidental e Oriental. O analista político sul-africano lembra que a batalha pela influência em África, pelos direitos de exploração dos minerais e pela expansão das tecnologias vai continuar.

"Os EUA têm um estatuto especial, são um ator poderoso. O acordo AGOA continua a proporcionar enormes benefícios para o comércio que sai de África para o mercado norte-americano, pelo que, do ponto de vista da segurança, os EUA constituem um importante apoio para muitos países africanos na sua luta contra as insurreições e outros tipos de grupos islamistas", afirma.

Duro com a imigração, mas brando com as alterações climáticas

"O continente africano é geopoliticamente relevante", diz Charles Martin-Shields, investigador sénior do Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade, sediado na cidade de Bona.

Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, e ex-Presidente dos EUA, Donald Trump, durante uma cimeira do G20 em 2017
Como será a relação de Trump com o continente africano, se for reeleito?Foto: picture-alliance/M.Sohn

No entanto, Martin-Shields "não espera que Trump expanda a sua política externa e de desenvolvimento".

O investigador diz à DW que Trump provavelmente se concentrará na política interna e na migração, particularmente na fronteira com o México, e ignorará as mudanças climáticas. Isso também poderia ter um impacto nos países africanos.

Martin-Shields refere que as medidas contra as alterações climáticas fazem atualmente parte da estratégia da Casa Branca.

"Quando falam das alterações climáticas e dos efeitos das alterações climáticas a nível global e em África, vejo uma administração presidencial assumir a responsabilidade pelo facto de os EUA e os países ricos terem emitido muito mais CO2 do que os países em África e nas regiões equatoriais, muitas vezes países mais pobres, que vão ser os mais atingidos pelas alterações climáticas", diz.

O analista Martin-Shields acredita que, se for reeleito, Trump provavelmente se concentrará na política interna e na migração, particularmente na fronteira com o México, e ignorará as mudanças climáticas.

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