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Cultura

Músicos de Manica abandonam festival cultural

Bernardo Jequete (Chimoio)
25 de novembro de 2017

Em Moçambique, artistas locais boicotam a 4ª edição do Festival Turístico e Cultural de Manica e acusam o Governo provincial de dar preferência aos músicos de Maputo e do Zimbabué.

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Músicos moçambicanos em Maputo (foto de arquivo/2014)Foto: DW/Marta Barroso

Os músicos da província de Manica, no centro de Moçambique, que foram convidados para fazer parte do IV Festival Turístico e Cultural, em Chimoio, abandonaram o evento que começou esta sexta-feira (24.11). Eles  alegam falta de consideração e reconhecimento por parte do setor da Cultura e Turismo local.

Os artistas mostraram-se visivelmente revoltados, pelo facto de o setor estar a tratá-los mal, dando primazia aos artistas oriundos de Maputo e do país vizinho Zimbabué, conforme relataram.

"Em todas datas comemorativas, nós somos convidados para abrilhantar as festividades, não convidam músicos forasteiros porque esses eventos são grátis. Mas quando há dinheiro, somos esquecidos, menosprezados e colocados fora do circuito, facto que nos deixa agastados", disse Alexandre Domingos, responsável da banda Pedra Angular.

Mosambik Musiker Djipson Mussenze
Djipson Mussenze: "Falta consideração aos artistas locais"Foto: DW/B. Chicotimba

O cenário também não agradou o músico Djipson Mussenze, que faz parte da comissão organizadora do evento. "Somos figuras da província, mas com o que está a acontecer posso dizer que este é um "show" qualquer, não um festival como estão a dizer".

Ainda segundo Mussenze, "as coisas aqui estão mal no que diz respeito a organização, consideração e tratamento dos artistas".

O músico revelou que, durante a preparação, "houve muitas promessas de coisas boas para os locais". No entanto, "chegado o dia,  a coisa ficou  totalmente remodelada. Os artistas locais não foram pagos, o que não deveria ter acontecido. Não há bom relacionamento entre os músicos locais e o Governo".

Acordo não foi cumprido

Outro membro da comissão organizadora do evento, em representação dos músicos Simate Mapope, também lamentou a atitude do setor da Cultura e Turismo de Manica pela alegada falta de consideração.

Segundo Mapope, havia um acordo entre os músicos e as autoridades provinciais para que, durante o evento, eles pudessem apresentar seus trabalho e também expor os seus discos.

Mosambik Musiker Simate Mapope
Simate Mapope: "Estou indignado"Foto: DW/B. Chicotimba

"Para falar a verdade, eu estou indignado. Os dirigentes do turismo estão a dar atenção apenas aos músicos forasteiros e com todas as regalias pagas, mas aos locais nem sequer um tostão", explicou.

O secretário provincial de Manica da Associação dos Músicos Moçambicanos, Kidmor Vukbonde, que também boicotou o evento, disse estar de costas voltadas para o setor de Cultura e Turismo da província.

"A nossa província nunca foi convidada para fazer parte dos festivais que se realizam em outras províncias e países vizinhos, mas em Manica sempre que há uma ativiadde que envolve dinheiro aposta-se em artistas de Maputo, Zimbabué e outros locais, o que deixa a desejar a todos musicos", afirmou Kidmor Vukbonde.

Autoridades negam mau relacionamento com artistas

Instado a comentar sobre as inquietações apresentadas pelos artistas, Jossias Vurande, diretor provincial de Cultura e Turismo em Manica, refutou as reclamações dos artistas, tendo dito que o combinado seria de pagar, pelo menos, 50% do valor acordado posteriormente aos músicos locais.

Vurande também assegura que a relação com os artistas locais é boa. "Quanto à relação, eu penso que nós, enquanto Governo, estamos abraçados com os músicos locais, porque são nossos filhos”, garantiu o diretor provincial de Cultura e Turismo de Manica.

Entre as bandas confirmadas na programação do Festival Turístico e Cultural de Manica estão a Simbarashe Muchita Hungwe Sounds, do Zimbabué, e Ziqo, e Mabermuda, de Maputo. Dos artistas locais que não abandonaram o evento, estão os Djakas da Beira, além de humoristas. O evento termina este domingo (26.11).