Moçambique despede-se de Marcelino dos Santos
18 de fevereiro de 2020Familiares, algumas personalidades, amigos e público em geral têm-se deslocado aos paços do Concelho Autárquico de Maputo para prestar a última homenagem a Kalungano, que faleceu no passado dia 11 de fevereiro.
Considerado um dos símbolos do nacionalismo africano, Marcelino dos Santos, que foi também um dos membros fundadores da FRELIMO, partido no poder em Moçambique, não pode ser esquecido. É o que defendem historiadores, políticos e veteranos da luta armada que já têm até planos para imortalizar os seus ideais.
Durante o velório, que se realizou esta terça feira (18.02), nos paços do Concelho Autárquico de Maputo, foram ouvidas algumas destas ideias, das quais se destaca a criação do Museu Marcelino dos Santos.
Em declarações à DW, Edmundo Galiza Matos Júnior, político e antigo deputado pela bancada da FRELIMO, explica que a ideia seria encontrar neste Museu: "a caneta dele, o cartão dele, o livro dele, [um lugar] onde possamos encontrar um pouco de tudo. As crianças, os mais pequeninos, vão perder esta história um dia, mas um museu, com mediateca, com sons, com vídeos e outros meios, pode ajudar a compreender quem foi Marcelino [dos Santos]".
Galiza Matos Júnior lamenta o facto de alguns moçambicanos não conhecerem Marcelino dos Santos e afirma que há muita desinformação acerca desta figura. Por isso, acrescenta, os veteranos que conheceram "muito bem" o histórico da FRELIMO têm a tarefa de "imortalizar as suas obras e feitos". Um trabalho que, explica, deve ser feito "também através das redes sociais, seguidas por milhares de pessoas todos os dias, e nas quais, infelizmente, se discute de forma diversa e apaixonada sem elementos concretos, quando há alguns fundadores vivos, que estiveram no momento da criação da FRELIMO e que podem ajudar a compreender", diz.
Preservação da História
Por seu lado, o historiador Alexandrino José sugere que o país treine técnicos com alto sentido profissional que possam lidar com matérias de preservação da história de Moçambique. Mas deixa um alerta: "Ouvi dizer que vão entregar o espólio documental à Fundação [Marcelino dos Santos]. Fico um pouco arrepiado porque não sei se há técnicos abalizados e idóneos para que esses materiais não apareçam no mercado negro. É preciso muita responsabilidade".
Muito se fala sobre o papel dos professores na divulgação da História de Moçambique, mas o historiador duvida que isso tenha pernas para andar e explica porquê: "O Ministério da Educação não vai fazer grande coisa se não houver essa recolha organizada e sistemática, analisada e divulgada e posta à disposição do público".
Inspiração
Na opinião de Mariano Matsinhe, veterano da luta armada, o povo moçambicano deve não só "aprender", mas "insprirar-se" naquilo que Marcelino dos Santos fez pelo país. "Aprender apenas não é suficiente. [O povo deve] participar arduamente na luta pelo desenvolvimento de Moçambique", afirma.
Já o antigo vice-ministro da Defesa e académico Patrício José entende que deve haver em Moçambique um diálogo inter-geracional para que muito manancial não fique perdido. "Para que a sucessão de gerações, tanto na liderança, como no processo normal histórico, não signifique que estejamos a perder o que já se teve. Temos que conhecer isto para que as novas gerações não destruam o que foram as opções anteriores", argumenta José.
O cortejo fúnebre de Marcelino dos Santos para a Praça dos Heróis será acompanhado por uma escolta da Polícia da República de Moçambique e duas companhias das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.
O funeral de Estado de Marcelino dos Santos realiza-se esta quarta-feira (19.02).