Mali vai a votos na segunda volta das presidenciais
12 de agosto de 2018A segunda volta é uma repetição de uma disputa de 2013 que Ibrahim Boubacar Keïta, de 73 anos, venceu com grande vantagem sobre o ex-ministro das Finanças, Soumaïla Cisse. Entretanto, as eleições deste ano são marcadas pelo fracasso do chefe de Estado em reduzir a onda de violência jihadista e étnica, além das crescentes acusações de fraude eleitoral por parte da oposição.
O Presidente Ibrahim Boubacar Keïta alertou contra "manobras" e "encenações" de fraude eleitoral, pouco depois de a oposição ter denunciado um processo de manipulação em curso. "Há manobras que estão em curso para fazer acreditar que estamos numa lógica de fraude", afirmou Keïta aos media após votar este domingo num bairro pobre de Bamako, situado perto da sua casa.
"Como enganar quando há a garantia da estima do seu povo? Porquê tentar enganar", questionou o candidato à reeleição presidencial, pedindo que não haja resposta a "qualquer tipo de provocação".
Poucas horas antes, Soumaïla Cissé, ex-ministro das Finanças, de 68 anos, tinha dito que os boletins de voto estão a "circular pelo país" para facilitar a vitória do candidato que está no poder.
Numa conferência de imprensa à noite, o seu chefe de campanha, Tiébilé Dramé, exibiu um caderno de cinquenta boletins selados, mas apreendidos por um "agente de Bamako" encarregado pela distribuição, como prova da manipulação do escrutínio.
Resultados contestados
Na primeira ronda, a 29 de julho, os resultados apresentados pela presidente do Tribunal Constitucional, Manassa Danioko, mostraram Ibrahim Boubacar Keïta, também conhecido por IBK, como o mais votado, com 41,70% dos votos. Cissé, que reuniu 17,78% dos boletins válidos, contestou estes resultados, alegando que não eram "verdadeiros ou credíveis".
A oposição, que acusou o Governo de utilizar o clima de insegurança no país para manipular as eleições, apresentou vários recursos contra os resultados da primeira volta, mas foram rejeitados pelo Tribunal Constitucional.
Segurança
O primeiro turno foi marcado pela violência e ameaças de grupos armados que levaram a centenas de assembleias de voto a serem fechadas, principalmente na região central sem lei. O país vive uma situação de insegurança e crise política desde o golpe de Estado militar de 2012, a que se seguiu uma rebelião independentista dos tuaregues no norte, apoiados por grupos jihadistas locais.
No ato eleitoral deste domingo, que decorre entre as 8h e às 18h locais, a segurança será garantida por 36 mil militares, cerca de 20% mais que na primeira volta, a 29 de julho. Neste sábado, véspera da votação, os serviços de segurança disseram que interromperam uma conspiração para realizar "ataques direcionados" na capital, Bamako.
Comunidade internacional acompanha de perto
A comunidade internacional deverá seguir com atenção esta segunda ronda, mas o desfecho da votação deverá ter pouco efeito sobre os milhares de milhões de dólares de ajuda que Bamako recebe, de acordo com especialistas citados pela agência France-Presse.
Com cerca de cem observadores na primeira volta eleitoral, a União Europeia, o maior doador internacional do Mali, exigiu a publicação de resultados discriminados e pediu mais transparência na segunda ronda, bem como a garantia de acesso a todos os locais de votação – na primeira volta, cerca de 250 mil eleitores não conseguiram votar no centro e no norte do país.
A diplomacia maliana instou a UE a "não atrapalhar o processo eleitoral". Entre as contribuições diretas da Comissão Europeia e as dos Estados-Membros, os 28 pagam anualmente ao Governo maliano, para o seu bom funcionamento, cerca de 400 milhões de euros, num total de projetos em curso superiores a dois mil milhões de euros.
Os Estados Unidos da América, por sua parte, anunciaram que vão reduzir drasticamente o apoio de cerca de 100 milhões de dólares (87,55 milhões de euros) entre 2017 e 2018, dos quais 81,5 milhões previstos para este ano, mas não precisaram qual será a verba nem os motivos para o corte.
Além da UE, o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento e o Canadá financiam diretamente o orçamento operacional do Governo do Mali, um dos países mais pobres do mundo.