Liga dos Campeões com vídeo-árbitro esta época
6 de dezembro de 2018Confrontada com alguns erros comprometedores, a UEFA cedeu às pressões, e assume a integração do sistema de vídeo-árbitro já a partir dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, em fevereiro do próximo ano. O organismo dirigente do futebol europeu, que previa a utilização desta ferramenta apenas a partir da temporada 2019/2020, reconhece assim, tacitamente, a sua utilidade, desde que, a nível internacional, foi implementada pela FIFA nos últimos Mundiais de clubes (nos Emirados Árabes Unidos) e de seleções (na Rússia).
Até ao final da fase de grupos, a Liga dos Campeões integra seis elementos nas equipas de arbitragem: os habituais árbitro, dois árbitros assistentes e quarto árbitros, acrescidos de dois árbitros assistentes adicionais, com responsabilidades de atuação nos lances das grandes-áreas e na sinalização dos golos (uma vez que a "Goal Line Tecnology" ainda não foi adotada nas principais competições europeias de clubes).
Porém, apesar deste "reforço" de meios humanos, os erros têm sido notórios e, curiosamente, partindo de situações em que não podem ser responsabilizados os árbitros assistentes adicionais. Os lances de golo em posição irregular ("foras-de-jogo") são os maiores alçapões para os árbitros, uma vez que todos os jogos da Liga dos Campeões são televisionados e, com os recursos ao seus dispor, os telespetadores facilmente identificam os erros arbitrais.
Experiências de sucesso na FIFA
Com a subida da contestação surge, igualmente, a garantia de fiabilidade do sistema VAR (do inglês Video Assistant Referee). A FIFA, que havia realizado experiências no decurso da Taça das Confederações, na Rússia, em 2017, adotou oficialmente o recurso no Mundial de clubes dos Emirados Árabes Unidos, há um ano, e replicou-o, com sucesso, no Mundial para seleções nacionais, no verão passado.
As equipas de arbitragem são reforçadas por quatro elementos (um vídeo-árbitro principal e três assistentes), não sendo sequer necessária a sua deslocação aos recintos onde decorrem as partidas. No Mundial da Rússia, toda a tecnologia para aplicação desta ferramenta estava sediada no IBC (International Broadcast Centre), em Moscovo, e foi da capital russa que se estabeleceu a comunicação com todas as equipas de arbitragem, nos doze estádios (em onze cidades) onde decorreram os 64 jogos da competição.
Um dos entraves encontrados pela UEFA para assumir de imediato o sistema VAR, sobretudo na fase de grupos das suas competições para clubes, foi a necessidade de uniformização de meios para as transmissões televisivas de todos os jogos.
Nas primeiras fases da Liga dos Campeões e da Liga Europa, facilmente se encontram exemplos de cidades e países cujas estações de televisão não dispõem, na íntegra, dos meios e do número de câmaras para cada jogo requeridas para legitimar a eventual intervenção da equipa de vídeo-árbitros. Essa é, porém, uma questão agora ultrapassada, porque, para os oitavos-de-final (primeira fase eliminatória) da Liga dos Campeões essa uniformização de meios está garantida.
Deste modo, o esloveno Aleksandar Ceferin, presidente da UEFA, cedeu às sucessivas interpelações de clubes e associações nacionais, no sentido de antecipar para esta época a utilização do VAR. O italiano Roberto Rosetti, líder da comissão de arbitragem da UEFA, e principal responsável pela designação dos árbitros no velho continente, iniciou já um conjunto de ações junto dos árbitros com maior experiência na aplicação desta tecnologia. Neste particular, as ligas portuguesa, italiana e alemã deram um contributo fundamental, uma vez que, há dois anos, assumiram a responsabilidade de encabeçar as experiências "em competição".
Em que situações pode intervir o vídeo-árbitro?
São quatro os momentos em que a equipa de vídeo-árbitros pode - e deve - intervir no desenrolar de um jogo: em lances de golos (quando há uma falta ou "fora-de-jogo" em lances decisivos), nas grandes penalidades (quando há uma decisão errada na atribuição ou não atribuição de falta passível de castigo máximo), nos cartões vermelhos (sempre que seja descortinada uma situação que possa ou deva conduzir a uma eventual expulsão) e em casos de identidades trocadas (quando o árbitro tenha admoestado o jogador errado). Estas são as quatro únicas situações previstas no protocolo de atuação do vídeo-árbitro, num princípio de "mínima interferência, máximo benefício", que rege a postura da equipa de vídeo-árbitros em cada jogo.
Importa, todavia, sublinhar que a decisão final, em qualquer dos casos referidos, é sempre tomada pelo árbitro central do encontro. Tal facto valeu, por exemplo, ao alemão Felix Brych, no (único) encontro que dirigiu na fase final do Mundial (Sérvia-Suíça, em Kaliningrado), uma dispensa prematura da competição. O advogado de Munique - um dos melhores árbitros mundiais da sua geração, mas conhecido, também, por alguma "teimosia" - não escutou sequer os alertas da equipa de VAR em relação a uma jogada que se revelaria decisiva no encontro, após uma sua decisão errada.
VAR poderá passar a ser carreira
Nesta primeira fase de implementação internacional da tecnologia VAR, são utilizados árbitros com insígnias da FIFA em atividade, sejam juízes centrais ou árbitros assistentes. Porém, a evolução operacional dos VAR poderá, a curto prazo, levar a uma especialização nas funções. Isto é, serão criadas equipas específicas de vídeo-árbitros, independentes das listas de árbitros internacionais à disposição das confederações continentais e da FIFA. Portugal, por exemplo, segue um caminho misto, com a integração de ex-árbitros, que terão abandonado as carreiras nos relvados por limite de idade, e que, com a sua experiência, auxiliam de modo decisivo nas cabines de VAR.
Independentemente das opções, um dado é incontornável: o futebol, pelo menos ao nível das suas principais competições mundiais de clubes e de seleções, ganhou uma ferramenta de utilidade indiscutível, e que auxiliará de modo decisivo as equipas de arbitragem no terreno. Acabarão os erros? Enquanto errar for humano, certamente que não. Mas podem, drasticamente, diminuir.