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Jovens mamães: gravidez indesejada na Tanzânia

4 de julho de 2011

Pesquisa revela o aumento de gestações indesejadas em escolas da Tanzânia. Cresce o número de estupros cometidos pelos próprios professores. Ameças e troca de favores são frequentes, ressalta especialista.

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Gravidez na Tanzânia: motivo para deixar a escolaFoto: picture-alliance/ZB

Todos os anos, mais de oito mil meninas abandonam a escola, na Tanzânia, por causa de uma gravidez indesejada. Os motivos são os mais variados. O que pouco se sabe é que cada vez mais os pais dos bebês gerados são os professores das jovens mães.

A história de Esther

Na escola de Ihanamilo, as aulas começam às 8h. Esther é uma das jovens uniformizadas no caminho da sala de aula. Aos 19 anos, ela estuda na décima classe e no ano passado (2010), teve um bebê: “eu não conseguia mais vir sempre à escola. Era comum perder aulas porque durante a gravidez, tive problemas de saúde. Nada mais era como antes”.

Mas ainda assim, Esther é uma garota de sorte porque teve apoio dos pais. Quando engravidou, disseram-na que gravidez não era o fim do mundo e que o importante era terminar a escola - mesmo com um bebê.

Nem todas as famílias reagem como os pais de Esther. Na mesma escola, algumas garotas largaram os estudos porque não tinham com quem deixar seus filhos.

Quando questionada sobre a gravidez, Esther opta por ficar calada.

Um estudo da Plan, uma organização não governamental que atua em colaboração com a Organização das Nações Unidas (ONU), divulgou recentemente que geralmente são os homens que se recusam a usar preservativos durante as relações sexuais com as jovens.

Schule in Afrika
Foto ilustrativa de uma escola em África. Aqui, sala de aula numa favela em NairobiFoto: picture-alliance/photoshoot

Sexo: moeda de troca

Esther mora no distrito de Geita, no noroeste da Tanzânia. A região é conhecida pela minas de ouro, porém os negócios não enriquecem os locais, mas sim, na sua maioria, os estrangeiros.

A pobreza é a principal causa das situações enfrentadas pelas meninas, explica Ananilea Nyka, da Tanzania Media Women, uma associação em prol dos direitos das mulheres.

"Imaginemos meninas que saem de casa, de manhã cedo, sem terem se alimentado, e que talvez ainda tenham de caminhar 15 quilômetros até a escola. Muitas vezes, nem há comida nas escolas. Então, é fácil atrair estas garotas com pequenas coisas. Basta um pão ou uma limonada", exemplifica Nyka.

Os abusos sexuais acontecem principalmente no caminho à escola quando os homens oferecem-nas boleia e pedem favores sexuais em troca. Porém uma pesquisa de uma organização em prol das mulheres mostrou que os abusos não terminam quando chegam à escola. Sempre de novo, os violadores são os próprios professores.

"Os professores ameaçam as alunas: 'se você não dormir comigo, você não irá passar nos exames'. E não podemos esquecer que professores têm um grande poder de influencia", complementa Nyka.

Para os sociólogos, a justificativa para gestações indesejadas é a falta de informação. Fala-se pouco sobre estupro, especialmente em regiões rurais da Tanzânia.

Autor: Jan-Phillip Scholz / Bettina Riffel

Revisão: António Rocha