Guiné-Bissau: Crises políticas cíclicas penalizam ensino
28 de novembro de 2024Há uma década que as escolas públicas da Guiné-Bissau não conhecem estabilidade. O ensino público tem sofrido muito com as constantes instabilidades políticas e governativas. É abalado por sucessivas greves dos professores, pelas divergências entre os sindicatos e o Governo e há fuga dos alunos para as escolas privadas.
Apesar dos apelos para mudar o rumo dos acontecimentos, a situação mantém-se, afetando já as escolas públicas de formação superior. Os alunos das unidades da Escola Superior da Educação (ESE), vocacionadas para a formação dos professores, continuam sem conhecer os seus resultados do ano letivo anterior.
O professor universitário Kadafi Dias não hesita em culpar as cíclicas crises políticas e governativas pela instabilidade vivida no sistema de ensino.
Em declarações à DW, Dias começa por enumerar o que, na sua opinião, são as causas do problema: a falta de investimento sério no setor, indispensável para o desenvolvimento do país; "as nomeações de pessoas menos competentes para as funções de direção nas escolas públicas, com base no apoio declarado ao Presidente da República", Umaro Sissoco Embaló, e, em geral, "a desvalorização da educação da infância e do ensino básico, etapas cruciais para a formação de um ser humano".
Muitas carências
Os alunos, também ouvidos pela DW, lembram que são as maiores vítimas da instabilidade do setor do ensino, devido ao mau ambiente político vivido há muitos anos no país. Reclamam de outros problemas nas escolas, como a falta de docentes.
"Nós temos muitas dificuldades, por causa da falta dos professores. Por exemplo, a turma do nono ano não tem professor de Matemática", relatou uma aluna da escola 1° de Maio em Bissau. Um colega adiantou que faltam materiais didáticos, carteiras e quadros.
"Por isso, pedimos ao Governo para nos ajudar a ultrapassar esta situação", apelou.
Estabilidade precisa-se
Até agora, na Guiné-Bissau, sobretudo nalgumas zonas rurais, os alunos são obrigados a percorrer diariamente, a pé, mais de dez quilómetros para chegarem à escola. Em Bissau, em muitas escolas públicas, três alunos são obrigados a partilhar uma carteira, por insuficiência delas.
A DW contactou o Ministério da Educação Nacional, mas não conseguiu obter uma reação sobre o assunto.
Para Armando Lona, professor e ativista dos direitos humanos, é possível mudar a situação e estabilizar as escolas públicas. Lona defende um "investimento sério" do Estado no setor. Mas considera que, antes, é preciso um país em que vigore a cultura da legalidade. "É algo a que não temos assistido nos últimos anos", lamenta.
"Quando um país não consegue assegurar a estabilidade política e governativa, não pode viabilizar nenhum dos setores, e a educação é a fundação de tudo", concluiu Armando Lona.