Gramática de Kimbundu resgata valores culturais de Angola
17 de janeiro de 2022"Aprender e ensinar Kimbundu" é o título da gramática lançada em outubro de 2021, em Malanje, pelo jornalista angolano Ricardo Prata.
"É habitual as pessoas dizerem 'Wazekele, wazekele kyeve' mas na realidade essa forma de saudação é pejorativa, está incorrecta", explica Prata.
O jornalista reconhece a falta de conhecimento formal na língua e diz que o livro mostra "como se deveria saudar corretamente na língua nacional Kimbundu".
"Outro aspeto que causou também foi precisamente o termo mulher, é habitual os mais velhos dizerem assim, 'Mukaji Ami, Mukaji a Monamy'. Na realidade, Mukaji é sinónimo de fêmea e fêmea é para animais", explica.
Cerca de mil exemplares foram distribuídos por cinco províncias, Bengo, Kwanza Norte, Luanda, Malanje e Uíge, que integram o grupo etnolinguístico Umbundu.
Manual pode ajudar nas aulas
De acordo com jornalista, o manual conta também com uma componente pedagógica que está a contribuir para a potencialização dos falantes da língua. "Trouxemos um suplemento para auxiliar os professores de língua nacional Kimbundu", diz.
O próprio manual tem sugestões que os professores podem aplicar ao plano de aula, durante o ensino da língua.
Em Malanje, o falante de Kimbundu David Kimwanga mostra-se satisfeito com a iniciativa.
"Este manual trouxe um grande contributo, sobretudo o despertar do interesse por parte da juventude, em querer aprender realmente a língua nacional Kimbundu."
O autor apela ainda a outros escritores que elaborem também obras do género. "Nós temos bons escritores em Angola", sublinha.
"Aprendemos falar Kimbundu principalmente na igreja e sobretudo com os nossos avôs. Agora, já tendo uma obra literária que fala sobre Kimbundu já é muito bom para nós", diz Prata.
Ricardo Prata é o primeiro angolano a publicar uma gramática em Kimbundu. Os livros que existem em Malanje nesta língua contaram com a intervenção direta de estrangeiros, entre eles missionários.