ONG angolanas pedem imprensa pública "isenta e plural"
25 de maio de 2022As eleições gerais estão quase à porta. Os partidos preparam os materiais para a campanha: cartazes, carros e megafones.
Mas a pré-campanha eleitoral já começou há muito. E segundo José Maria Katiovala, secretário-geral da Ação para Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), a imprensa pública tem passado quase sempre o mesmo canal: o canal do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
"Há uma tendência da comunicação social, sobretudo a pública, de favorecer o partido governante na divulgação das suas atividades, e isso contraria o espírito da Constituição", lembra.
Queixas da UNITA
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) queixa-se do mesmo. Em comunicado, o maior partido da oposição no país disse que o Presidente João Lourenço tem demorado a marcar as eleições para que o MPLA possa tirar o máximo proveito do período de pré-campanha, usando recursos do Estado para publicitar os seus feitos enquanto as outras forças políticas "aguardam pela convocação das eleições".
É algo que não deve acontecer, afirma o secretário-geral da ADRA, José Maria Katiovala. "Sobretudo, os principais atores políticos, os partidos, têm direito a igualdade de tratamento por parte da entidade que exerce o poder público, têm direito a um tratamento imparcial da imprensa pública", defende.
A ADRA e outras organizações não-governamentais, incluindo a Mosaiko, o Misa-Angola e o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), publicaram uma declaração em que apelam a uma imprensa "isenta e plural" no processo eleitoral.
"Entendemos que o trabalho em advocacia social só pode ter resultados desejados se for realizado em rede e em articulação com outras organizações da sociedade civil no sentido de influenciar as políticas e as práticas de governação", explicam.
Parcialidade: um problema antigo
Wylsony dos Santos, autor do livro "Comunicação – Espelho de um País", lançado em setembro de 2017, aplaude a iniciativa da sociedade civil. Segundo o consultor de média, a falta de imparcialidade de alguma imprensa em tempo de eleições é um problema antigo em Angola.
"Ao longo dos anos, isto não tem permitido que tenhamos uma ideia do que está a ocorrer do ponto de vista dos partidos políticos, das estratégias destes partidos. E é desleal para quem deve se apresentar para as eleições com alguma imparcialidade, dando espaço para todo o mundo", afirma.
O especialista espera que, nas eleições de agosto, a imprensa possa cumprir com o seu papel: informar com isenção e pluralidade.
"Esperamos que estas próximas eleições sejam, pelos menos, as mais transparentes e justas possíveis, sobretudo no que diz respeito ao papel da imprensa, que não pode ser um ator, mas sim um facilitador destas ideias, até para esclarecer o público de um modo geral", apela.