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Relações Brasil - PALOP em risco com eleição de Bolsonaro?

29 de outubro de 2018

Brasil conta com novo Presidente: Jair Bolsonaro. País mantém tradicionais relações com PALOP, nomeadamente Angola e Moçambique. Mas analistas angolanos receiam que esta cooperação possa estar em risco com novo Governo.

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Itamaraty Palace
Itamaraty - Ministério brasileiro das Relações ExterioresFoto: Gustavo Ferreira/Acervo MRE

O novo Presidente eleito no domingo (28.10), Jair Bolsonaro, fala num "Brasil acima de tudo" e num "Deus acima de todos". No seu discurso de vitória, Bolsonaro também prometeu respeitar os direitos e as liberdades do povo brasileiro.

E como serão as relações entre Brasil e a África na CPLP?

"Durante a campanha eleitoral Bolsonaro deixou transparecer mesmo a sua prioridade, por exemplo, são os Estado Unidos da América e Israel enquanto África não seria prioritária", diz o jornalista angolano Ilídio Manuel.

Uma incógnita

Para Osvaldo Mboco, professor de relações internacionais na Universidade Técnica de Angola, nesta altura, a política externa de Jair Bolsonaro com a África ainda é uma "incógnita".

"Quer ao nível do MERCOSUL (espaço de comércio-livre para a América Latina), a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) quer ao nível dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Atuação do próprio Presidente parece-me ainda não ter uma forma definida porque durante muito tempo Jair Bolsonaro evitou debates ao nível da televisão que fez com que as pessoas não podiam ter uma opinião muito mais clara, mais real sobre a sua visão em relação a sua política externa principalmente sobre África".Osvaldo Mboco desconfia que o novo Presidente brasileiro poderá optar pelo protecionismo e assim "redefinir" a forma de cooperação com a África lusófona.

Südafrika, Johannesburg: 10.ter BRICS-Gipfel
Foto: Reuters/S. Sibeko

"Tudo isso faz-nos pensar que o próprio Presidente poderá redefinir a sua estratégia de cooperação em termos de ajuda financeira para os países ligados à CPLP. Basta olharmos para o seu discurso da vitória onde dava conta de que aqueles governos que não fizeram uma boa gestão, uma gestão benéfica que pudesse trazer o desenvolvimento para os seus países ele poderia cortar as relações de financiamentos".

Unilateralismo?

Augusto Báfuabáfua, outro especialista angolano em questões internacionais também pensa que o novo Governo brasileiro poderá optar pelo unilateralismo.

"Vai olhar muito mais para aquilo que são as vantagens comparativas e competitivas dentro do próprio país. Todavia, Bolsonaro não descurou a possibilidade de lidar com outros países".

Recorde-se, que as relações entre Brasil – Angola e Moçambique, também foram alvo da "Operação Lava Jato", considerada a maior investigação contra a corrupção no Brasil e que revelou um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo várias empresas públicas do país. Alguns dos projetos financiados pelo país sul-americano e executados pela construtora Odebrecht foram envolvidos em corrupção para além do pagamento tardio da dívida. Isso, diz Ilídio Manuel, já belisca as relações de amizade e cooperação entre estes países na era Bolsonaro."Ele chega ao poder numa fase em que as relações entre o Brasil e os PALOP não estão muito boas, particularmente no que diz respeito a Angola e Moçambique. Aliás, tanto Angola como Moçambique foram atingidos pelo furacão "Lava Jato" tanto mais que Angola sofreu seriamente com isso porque foi o país africano entre os PALOP que mais se beneficiou com os créditos do Banco Nacional para o Desenvolvimento Económico e Social do Brasil e isso comprometeu seriamente determinadas obras", conclui Ilídio Manuel.

Brasilien Protesten gegen Korruption in Rio
Foto de arquivo: Manifestação contra corrupção no Rio de Janeiro (março de 2017)Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Entre as obras estão o polo Agro-industrial de Capanda e o Aproveitamento Hidroelétrico de Laúca (província de Malanje).

Papel da CPLP será sempre acessório

O diretor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Católica (Lisboa) considera que o papel da CPLP na política externa brasileira "será acessório" e que Portugal deve ter um papel importante enquanto plataforma giratória entre UE e Brasil.

"A haver mudança [na relação entre o Brasil e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)], será para menos participação" no espaço da lusofonia, disse Ricardo Ferreira Reis à Lusa a propósito das prováveis mudanças na política externa brasileira na Presidência de Jair Bolsonaro."O papel da CPLP será sempre acessório, nunca será primordial", considerou à Lusa o especialista em Relações Internacionais, defendendo que a solução para Portugal será "encontrar espaço no que Bolsonaro acha prioritário para ter um papel a desempenhar" porque "não há, na perspetiva dele, de maneira nenhuma, uma vocação para a CPLP".

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EUA, China e UE

Bolsonaro, acrescentou, elencou três parceiros primordiais para o Brasil - Estados Unidos, China e União Europeia -, sendo que no caso dos EUA, "a proximidade ideológica e de estilo com Trump poderá ajudar, e na China tem muito a ver com a propensão para as privatizações e saber que os chineses estão muito atentos a este tipo de mercados".

Neste contexto, vincou, "a China é crucial e aqui a CPLP, e em particular Macau, poderá ter um papel importante porque funciona como plataforma giratória de investimento chinês para o Brasil".

No que diz respeito à relação com a União Europeia (UE), Ricardo Ferreira Reis salientou que "o terceiro parceiro crítico elencado por Bolsonaro foi a UE, e não Portugal em particular, pelo que Portugal pode e deve desempenhar um papel importante enquanto plataforma giratória entre UE e Brasil".

Para o professor de Relações Internacionais, Portugal "tem de ter uma posição de prudência no discurso que já se notou no domingo nas declarações do Presidente da República e do primeiro-ministro, que são muito diferentes das declarações de há algumas semanas, nas quais mostraram uma posição de repúdio de Bolsonaro".

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