Duelo presidencial no Quénia cada vez mais renhido
8 de março de 2013Na tarde desta sexta-feira (08.03), o atual vice-primeiro-ministro, Uhuru Kenyatta, que concorre pela Coligação Jubileu, somava 50,03% dos votos, contra 43,80% do atual primeiro-ministro, Raila Odinga, da Coligação para as Reformas e a Democracia. No entanto, falta ainda contabilizar pouco mais de um quarto das circunscrições. A comissão independente eleitoral do Quénia prometeu divulgar os resultados finais das presidenciais esta sexta-feira.
A confirmarem-se os resultados provisórios, esta será a segunda derrota consecutiva de Odinga, que, em 2007, se recusou a admitir a derrota nas eleições, desencadeando uma onda de violência que fez cerca de 1.200 mortos.
“Vimos o que aconteceu depois das eleições de 2007 e sabemos o impacto que teve junto das pessoas no Quénia, no desenvolvimento económico e no progresso do país. Eles sabem que se deve fazer tudo para que isso não se repita”, recorda Günter Nooke, encarregado de assuntos para África da chanceler alemã, Angela Merkel.
Críticas ao processo eleitoral
Se nenhum dos candidatos atingir os 50%, os dois candidatos com maior número de votos vão disputar a segunda volta em abril. Porém, tanto a candidatura de Raila Odinga como a de Uhuru Kenyatta levantaram questões sobre o processo eleitoral.
Na quinta-feira (07.03), o vice-presidente cessante e candidato a “número dois” de Odinga, Kalonzo Musyoka, pediu a suspensão da contagem dos votos, alegando fraudes no apuramento dos resultados parciais, que davam a vantagem ao seu, ao vice-primeiro-ministro Uhuru Kenyatta.
Kenyatta, por sua vez, opôs-se à contagem dos votos nulos que, segundo a comissão eleitoral, que cita a Constituição queniana, devem contar para o número total de votos.
Para o político alemão Günter Nooke, “o debate sobre os votos nulos que, entretanto já não existe, mostra que há qualquer coisa de errado.“ No entanto, o encarregado especial de Angela Merkel para assuntos de África defende que é preciso “certificar seriamente” o que se passou”, o que implica apurar qual dos candidatos tem razão e se alguém manipulou conscientemente a votação. “E se nada disto aconteceu na realidade, e um candidato atingir os 50% dos votos, de acordo com a Constituição, então digo que uma segunda volta é a melhor opção para o país”, conclui.
Um Presidente indiciado pelo TPI?
No entanto, a confirmar-se a tendência, a vitória de Kenyatta constituirá um desafio para o país. O Quénia terá de justificar como será presidido por alguém indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade ligados à violência durante o período pós-eleitoral de 2007. Uhuru Kenyatta deverá apresentar-se no tribunal internacional em julho.
Segundo Günter Nooke, as relações entre a Alemanha e o Quénia seriam complicadas caso houvesse uma condenação após o processo do TPI. “Seria naturalmente um problema, sobretudo se a Alemanha, que apoiou o TPI e chegou mesmo a ajudar na sua fundação, fosse contra o que o TPI significa. Nesse caso, teríamos de contar com algumas complicações, mas ainda não chegamos a esse momento”, afirma.
Apesar de a etnia a que os candidatos pertencem ainda ter um papel muito importante na escolha dos candidatos, Günter Nooke acredita que “o Quénia é um país em que a participação nas eleições está enraizada na população”. Sublinha também que, na segunda-feira (04.03), dia da votação, “viu-se como as pessoas enfrentaram as longas filas e como tentaram participar na votação de forma ordeira e muito disciplinada”. Por isso, remata, “o Quénia está de parabéns em comparação com outros países africanos.“
Resultados revelados a conta-gotas
Na tarde desta sexta-feira, o Supremo Tribunal Civil do Quénia rejeitou a petição entregue na véspera pela aliança CORD, encabeçada por Odinga. A comissão eleitoral tem assim também o apoio judiciário para anunciar os resultados de várias circunscrições que faltavam, o que poderá acontecer até depois da meia-noite. O secretário da Comissão, James Oswago, concordou com a estimativa de jornalistas e observadores no centro de eleições, em Nairobi, de que será uma longa noite.
O presidente da comissão eleitoral independente, Isaak Hassan, já pediu desculpas pelos atrasos. “Apesar de termos uma data legal para anunciar os resultados, esperávamos anunciá-los mais cedo, foi uma promessa minha. Mas às vezes planeamos coisas e elas não acontecem de acordo com os planos. Por isso, estamos a trabalhar continuamente para finalizar a contagem hoje”, declarou.
Autora: Carla Fernandes
Edição: Madalena Sampaio/Renate Krieger
[Artigo atualizado às 18:46 TUC]