Alfabetizadores não recebem salários há 3 anos
21 de maio de 2021Há três anos que os professores encarregados de uma campanha de alfabetização não recebem o salário mensal de 10 mil kwanzas (equivalente a 7 euros). Ouvidos pela DW África, os alfabetizadores dizem estar a passar fome.
Jeremias Nicolau, alfabetizador há onze anos, pede sensibilidade ao Executivo para a resolução rápida do problema.
"Somos chefes de família, uma das vezes a nossa família não quer saber, pensam que talvez alguns estejam inseridos. Até o estudante não é cobrado, há fome”, conta.
Este professor diz que muitos colegas já abandonaram o programa de alfabetização. Os que ficaram estão, neste momento, a trabalhar de graça.
"O Governo devia resolver para que tenhamos uma outra motivação”, apela.
Gabinete provincial confirma dívida
Miguel Kahime, diretor do gabinete provincial da educação no Cuando Cubango, confirma a dívida de mais de 127 mil euros para com os 450 alfabetizadores da província e reconhece o papel do serviço que estes prestam.
E o responsável justifica: "Nesta altura decidimos que, em função de não existirem valores para acudir esta situação, é melhor nos mantermos com esta dívida de 3 anos enquanto o Governo vai arranjando forma para encontrar valores para o pagamento, porque a alfabetização não tem dinheiro que sai do orçamento (OGE). São financiamentos”.
"Continuamos com aqueles que decidiram mesmo ser voluntários que são cerca de 150 professores. O quer dizer que os restantes 300 deixaram de trabalhar. E a dívida que nós temos com estes rondam os 100 milhões de kwanzas para o Cuando Cubango, de 3 anos com todos alfabetizadores tanto do programa ‘Sim eu posso' como do programa normal”, continua.
"É urgente resolver o problema”
O secretário de Estado para a educação pré-escolar e ensino primário, Francisco Pacheco, adianta que a dívida do Ministério da Educação com os alfabetizadores deve-se à situação financeira que o país vive.
"É uma dívida que ronda os 3.000.000.000.00 bilhões de kwanzas (mais de 381 milhões de euros) com cerca de 10 mil alfabetizadores em todo o país nestas condições", diz.
Contudo, garante que "tudo está a ser feito para se minimizar esta situação, dentro de dias este problema será minimamente resolvido. Em função da situação financeira que o país vive não será possível liquidar a dívida na totalidade mas sim de forma faseada”.
Francisco Pacheco, que esteve de visita ao Cuando Cubango em abril último, disse ser urgente resolver o problema.
"Tivemos que suspender ainda estes contratos para não continuar a acumular divídas. Então, o mais certo é que se conseguirmos resolver esta situação teremos é que incentivar cada vez mais a questão da alfabetização porque a nossa população que necessita. No entanto é preciso que se resolva com maior urgência possível a questão desta dívida”, reitera.