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Académicos angolanos lançam grito de alerta

26 de fevereiro de 2021

Estudantes denunciam clima de intimidação depois de efetivos da polícia angolana invadirem duas universidades e deterem pelo menos 20 jovens. Grupo de professores solidariza-se com os estudantes.

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Fotografia de arquivo: Protesto contra taxas de acesso a universidades públicas, janeiro de 2019Foto: DW/M. Luamba

Assim é complicado, afirma o estudante Adilson Manuel. Esta semana, pelo menos 20 estudantes foram detidos nas instalações da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e da Universidade Kimpa Vita, na província do Uíge, quando tentavam protestar contra o aumento das taxas e emolumentos.

A polícia não explicou a razão das detenções e as direções das universidades também não reveleram por que motivo pretendiam impedir os protestos.

Para os estudantes, o motivo é óbvio: abafar as vozes críticas.

Aktivist Adilson Manuel aus Angola
Adilson Manuel: "É complicado fazer ciência num país em que não há liberdade de expressão"Foto: Borralho Ndomba/DW

"É complicado fazer ciência num país em que não há liberdade de expressão, liberdade de informação e especialmente liberdade de manifestação", lamenta Adilson Manuel, um dos promotores da manifestação desta semana.

"No dia 22 de fevereiro, verificou-se que nem estudantes, nem outros órgãos da sociedade civil, [se podem] expressar para mudar o quadro na sociedade ou mesmo nas academias."

O mesmo se passou em novembro passado, quando universitários pretendiam homenagear o estudante Inocêncio Matos, morto na manifestação de 11 de novembro, em Luanda, lembra Adilson Manuel.

Professores solidarizam-se

Esta semana, um grupo de professores da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto repudiou a detenção dos estudantes. Em comunicado a que a DW África teve acesso, os docentes apelam aos "órgãos internos da faculdade e da universidade para que não se calem perante tão graves violações dos direitos e liberdades dos estudantes".

Angola | Luanda | Movimento Propinas Not
Protesto em Luanda contra a implementação de propinas no ensino universitário público, janeiro de 2020Foto: DW/M. Luamba

Os estudantes estão contra o valor das provas de recurso - que subiu de 1.500 kwanzas (1,95 euros) para 5.000 kwanzas (6,50 euros) - e o ajuste de emolumentos. As novas taxas só deveriam entrar em vigor no próximo ano letivo, mas as instituições anteciparam a implementação.

Adilson Manuel diz que muitos estudantes não têm condições para continuar a financiar os estudos, porque "já gastam muito com o táxi e materiais escolares".

"São muitos os gastos que os estudantes fazem, e muitos deles não têm trabalho fixo para poderem sustentar a problemática das propinas e emolumentos", afirma o estudante.

"Elite governativa levou tudo"

 Universität Agostinho Neto, Fakultät für Literatur und Sozialwissenschaften
Estudantes contestam aumento de taxas e emolumentosFoto: Borralho Ndomba/DW

Para o secretário provincial do Movimento Estudantil de Angola no Uíge, Guimarães Canga, o Governo deve parar de "extorquir" os estudantes que, na sua sua maioria, são de famílias carenciadas: "Somos um país rico e o Estado não pode sobreviver de um imposto que incide sobre o bolso do estudante. O estudante já vive carente", frisa o dirigente.

"Reprovamos essa ideia de aumento de emolumentos, quaisquer que sejam. Se o país não tem dinheiro, é culpa do Governo. Sob o seu olhar, a elite governativa levou tudo e não é o estudante que deve pagar. Passamos fome nas nossas casas para sustentar os estudos."

O analista em governação local e políticas públicas, Osvaldo João, também alerta para o facto de as famílias angolanas estarem cada vez mais empobrecidas.

"O Governo tem que intervir e criar políticas públicas que vão salvaguardar os interesses dos cidadãos, principalmente face à situação de extrema pobreza que o país vive. Há uma fome extrema no país e não se justifica a subida de preços nas universidades públicas", conclui.

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