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Desvalorização do euro afetará economia de Cabo Verde

Nélio dos Santos (Cidade da Praia)8 de julho de 2015

O "Não" dos gregos no referendo do último domingo (05.07) está a ter repercussões em Cabo Verde. O economista cabo-verdiano Paulo Monteiro Júnior, alertou que a depreciação do euro terá impacto no arquipélago.

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Foto: Colourbox

Entre os analistas cabo-verdianos é praticamente consensual: se a Europa espirra Cabo Verde "constipa-se".

O economista Paulo Monteiro Júnior chama a atenção de que é preciso evitar essa "constipação" que pode ter efeitos nefastos na saúde financeira e económica de Cabo Verde: "Havendo uma depreciação, que estamos a assistir hoje, tem efeito sobre a nossa inflação importada e tem efeito também sobre a nossa balança comercial."

Monteiro explica de forma mais clara que "a taxa de inflação é paga em euros e alguns produtos são pagos internacionalmente em dólares" e dá exemplo: "O petróleo é pago em dólares, nós temos euros e temos de trocar para dólares para poder pagar a importação do petróleo. Isso faz com que o preço do barril de petróleo chegue muito mais caro ao mercado."

Fischereiverkäuferinnen Kapverden
Vendedoras de peixe num mercado de Mindelo, Ilha de São VicenteFoto: DW/K. Gomes

As consequências para Cabo Verde

Uma vez que Cabo Verde importa quase tudo, Paulo Monteiro Júnior alerta que isso pode ter um efeito de cascata nos preços de vários outros produtos no arquipélago: "A percentagem ou ponderação da inflação importada aumenta e a taxa da inflação interna, em média, vai também aumentar. Ao nível da balança comercial formal, através da importação do petróleo, a taxa de câmbio do nosso escudo está indexada ao euro. Com o euro a desvalorizar em relação ao dólar, o petróleo será mais caro aqui no mercado de Cabo Verde."

O professor universitrário, que trabalhou durante vários anos na Comissão Europeia em Bruxelas, avisa que o setor informal cabo-verdiano também não vai ser poupado: "Nós temos um mercado informal bastante forte que importa muitas vezes de lá, onde se paga em dólares, dos Estados Unidos e do Brasil. Eles também irão ter influência nisso porque vão trazer produtos muito mais caros. E subindo o dólar as suas importações serão muito mais elevadas. Isso também vai causar uma subida do custo de vida no país."

Porträt José Maria Neves
Primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria NevesFoto: DW/N. dos Santos

Diversificação das reservas cambiais é uma das soluções

As reservas cambiais de Cabo Verde serão afetadas por uma depreciação do euro: "A percentagem dominante das reservas cambiais do Banco Central de Cabo Verde em euros (anda) à volta dos 75%. Desvalorizando o euro em relação ao dólar as suas reservas cambiais em termos de dólares vão sofrer uma forte depreciação ou desvalorização."

O economista Paulo Monteiro Júnior avisa que a situação na Grécia é complexa, por isso sugere ao Banco de Cabo Verde que diversifique quanto antes as reservas cambiais do país: "Num curto prazo é efetivamente preciso tentar gerir melhor a diversificação das reservas cambiais, tentar aumentar a proporção do dólar dentro das reservas cambiais do país. Uma terceira (possibilidade) é ver se se negocia alguma linha de crédito em dólar com alguns parceiros ou credores internacionais"

O Primeiro-ministro, José Maria Neves, já veio dizer que o seu Governo está a acompanhar atentamente a situação: "Estamos a fazer tudo para que haja um acompanhamento do desdobramento do não. Poderá ser um grande problema para a Grécia e eventualmente para a zona euro e para as economias que estão muito ligadas, umbilicalmente ligadas à zona euro - diria eu, como é o caso de Cabo Verde. E portanto, estamos a acompanhar o caso com muita atenção e em função dos desdobramentos vamos ver que medidas tomar."

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