Situação económica de Cabo Verde cada vez mais instável
3 de julho de 2013A missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que visitou Cabo Verde de 31 de maio a 7 de junho acaba de lançar o seu relatório de conclusões sobre o estado económico do país. Foram mais de 90% das empresas cabo-verdianas a fecharam o ano de 2012 com resultados negativos.
Por consequência destes valores decrescentes, as agências de notação financeira Standard & Poor's e Fitch desceram de estável para negativa a perspectiva de crédito soberano do país.
Segundo a agência de rating Standard & Poor's, foram os “elevados défices orçamentais e externos que levaram a um aumento do endividamento", que acabou por enfraquecer a capacidade do país “para responder a choques externos”.
Pior momento desde independência
Este momento que Cabo Verde atravessa está a ser considerado o pior desde a sua independência em 1975. As previsões apontam que a recuperação económica venha a ser lenta, o que pode condicionar as eleições legislativas de 2016.
O Banco de Cabo Verde estima que o Produto Interno Bruto (PIB), que em 2012 apenas cresceu 1%, decresça 1,5% em 2013. Segundo o relatório do FMI, a recessão económica de Cabo Verde é resultado da atual crise do euro.
No entanto, para o economista cabo-verdiano Victor Fidalgo, a origem da crise está em problemas internos e não externos. “O problema da crise em Cabo Verde tem sido um curso político errado tomado nos últimos anos, que tem procurado privilegiar excessivamente o investimento publico quase que numa tentativa de recuperar para o Estado o papel de motor da economia”, adiantou à DW África.
Algo que, segundo o economista, tem “falhado grandemente, com prejuízos enormes para o país”. Desde 2007 para cá, acrescenta Victor Fidalgo, as despesas públicas, e particularmente os investimentos públicos, têm aumentado quase a pique, ao apsso que o PIB tem descido.”
Cenário pode piorar ainda mais
Segundo dados oficiais da Caixa Económica de Cabo Verde, o segundo maior banco do país registou uma redução de mais de três milhões de euros nos lucros, relativamente ao ano anterior. Para além destes valores, 92% das empresas cabo-verdianas, apresentaram resultados negativos relativos à faturarão de 2012. Os dados são da Direção Geral de Contribuição e Impostos, que acrescenta ainda que o cenário poderá piorar ainda mais quando as empresas públicas também entregarem os seus relatórios de contas.
Fidalgo diz que o Estado tem aumentando grandemente as suas despesas, ao mesmo tempo que se tem tornado num grande devedor. “O Estado não tem pago às empresas o devido de volta e talvez esse não pagamento das empresas ao Estado seja uma reação protetora das próprias empresas”, explica, acrescentando que estas se perguntam a si mesmas para quê apresentar contas apropriadas se o Estado não lhes paga.
O que faz prever esta queda económica são os decrescentes investimentos, queda de remessas dos emigrantes e o número crescente de desemprego nas ilhas. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o desemprego já atingiu 16,8% da população e, segundo Victor Fidalgo, atingem-se estes valores graças à falta de incentivo para o sector privado.
A esperança da economia do país, segundo o economista, está no turismo, o pilar da economia cabo-verdiana, que tem crescido em média 14% anualmente.