Moçambique: "Chupa-sangue" deixa populares em alvoroço
26 de outubro de 2017O padre André Satchicuata teme novos confrontos no distrito de Gilé, na província da Zambézia, centro de Moçambique, devido ao fenómeno "chupa-sangue". As autoridades de saúde garantem que não existe um espírito "chupa-sangue", mas que estão a trabalhar com os líderes locais. As autoridades policiais estão a investigar.
"A situação está calma, mas todo o cuidado é pouco. É um assunto que está muito espalhado e o boato ainda continua", comenta o sacerdote, que recorda que o medo e os rumores provocaram tumultos na semana passada, culminando na morte de duas pessoas.
Um grupo de residentes incendiou também a casa do chefe do posto da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Gilé e vandalizou várias infraestruturas sociais, acusando as autoridades de protegerem os indivíduos responsáveis pelo alegado esquema.
Sangue terá como destino hospitais locais
Segundo os rumores que circulam pelos bairros locais, o sangue é retirado e enviado para hospitais, uma acusação que as autoridades de saúde refutam.
"Estamos cientes desta desinformação. Temos acompanhado em algumas comunidades este assunto. Dizem que há um espírito que chupa o sangue durante a noite. Já estamos a trabalhar com os líderes comunitários, porque isto não existe", assevera o diretor provincial de Saúde, Hidayat Kassim.
No entanto, o clérigo André Satchicuata é mais cauteloso e pede a intervenção rápida do Governo: "Devem existir pessoas do próprio Governo capazes de fazer frente a este fenómeno e de descobrir do que realmente se trata. Na verdade, não se trata de chupar sangue no verdadeiro sentido da expressão. Mas há alguma coisa por detrás, que ninguém consegue explicar... Por isso, as autoridades deveriam prestar muita atenção ao que povo está a dizer", sugere o padre.
Vítimas falam em ataques noturnos
O fenómeno já se alastrou a várias regiões da província da Zambézia. Lúcia Mário, residente em Mocuba, afirma ter sido vítima de um "chupa-sangue". "Foi num domingo, por volta das 00h00, quando eu estava a dormir. Vi a manta a mexer-se. Pela manhã, a manta estava cheia de sangue. Na sexta-feira voltaram", relata a alegada vítima.
Tomás Mário Xavier também diz que foi atacado durante a noite: "Eram 21h00. Já dormia. Quando acordei, doente, vi o meu braço direito cheio de sangue. A gente aqui não dorme, estamos com muito medo".
O padre André Satchicuata lamenta "o facto de não existir um bom diálogo entre o Governo ou a polícia e a população" e por isso lança um apelo às autoridades para que "reforcem o efetivo da polícia".
O porta-voz do comando da polícia da Zambézia, Miguel Caetano, diz que a corporação já mobilizou recursos para averiguar a situação. "No cenário de Gilé, a situação encontra-se calma e controlada neste preciso momento. As nossas posições encontram-se a fazer desdobramentos naqueles pontos até que a ordem fique reestabelecida, isto por causa do fenómeno "chupa-sague" protagonizado por indivíduos de má-fé", afirmou.