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Angola e São Tomé com bons resultados no combate à fome

Rafael Belincanta (Roma)27 de maio de 2015

O relatório anual das Nações Unidas (ONU) sobre a fome no mundo foi apresentado nesta terça-feira (27.05) em Roma. A fome continua a ser preocupante em África, mas há casos de sucesso, como Angola e São Tomé e Príncipe.

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A FAO é a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e AgriculturaFoto: AP Graphics

O relatório “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo” (SOFI, em inglês) foi apresentado esta quarta-feira (27.05), em Roma, pelas três agências da ONU com sede na capital italiana: a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO),o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).

Segundo o relatório, 795 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Na última década, mais de 167 milhões saíram desta situação, e em 25 anos o número foi reduzido em 216 milhões.

A América Latina e a Ásia registaram progressos particularmente positivos. Já o continente africano continua em alerta vermelho.

De acordo com a FAO, em África há mais de 220 milhões de pessoas subalimentadas, o que representa 23.2% da população do continente. Esta é a mais alta taxa de prevalência de qualquer região do mundo. Atualmente, 24 países africanos enfrentam crises alimentares, o dobro do que em 1990.

“Nós temos algumas regiões que definitivamente ficaram para trás: os países asiáticos que estão em conflito (como a Síria, o Iraque ou o Iémen), e a África central subsaariana, são as regiões que concentram a fome no mundo”, afirmou José Graziano da Silva, diretor geral da FAO.

Angola e São Tomé fazem progressos

O relatório aponta Angola e São Tomé como os dois países lusófonos que melhores resultados obtiveram neste âmbito: ambos conseguiram atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) de reduzir para metade a subnutrição até 2015.

Em Angola, estima-se que 3,2 milhões de pessoas passem fome, o que representa uma diminuição de 52,1% em relação aos 6,8 milhões de 1990. Apesar dos avanços, este número indica que 14% dos angolanos ainda têm falta de acesso a alimentos.

Jose Graziano Da Silva Direktor FAO
Jose Graziano da Silva, diretor da FAO.Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou

Em São Tomé e Príncipe, o número de malnutridos sempre se manteve inferior a 100 mil pessoas, e terá diminuído 51,4% neste período. Atualmente, a percentagem de são-tomenses que ainda passam fome é de 6,6%.

“Na costa atlântica de África, há países como Angola e também Cabo Verde que fizeram progressos notáveis nos últimos anos. Alguns países que foram destruídos pela guerra civil, como é o caso de Angola, recuperaram e utilizaram os recursos da produção mineral, entre eles o petróleo, para promover o desenvolvimento, inclusive o desenvolvimento rural”, diz José Graziano da Silva.

Angola foi um dos países que se comprometeu, ao assinar o Tratado de Maputo, em 2003, a investir 10% do orçamento em desenvolvimento de agricultura. Todavia, essa percentagem não chegou sequer a 2%.

“Toda a África tem este potencial. África hoje precisa de paz em primeiro lugar, mas precisa também de um desenvolvimento mais inclusivo e de um compromisso maior dos governantes com o desenvolvimento interno de seus países”, declara o diretor geral da FAO.

Segundo o documento, a crise económica dos últimos anos travou os progressos no combate à fome, juntando-se a outras causas como desastres naturais, fenómenos meteorológicos graves, instabilidade política e conflitos civis.

FAO tem apoiado os produtores rurais africanos

Graziano recorda ainda que a maior parte da produção em África vem dos pequenos produtores rurais, especialmente das mulheres, e destaca uma iniciativa que resultou no Brasil e que, aos poucos, começa a ser implementada no continente africano através de programas da FAO. O programa PAA, Compras de Africanos para a África, tem garantido que parte da produção destes pequenos agricultores seja vendida.

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"A aquisição direta do governo por um preço justo diretamente dos agricultores familiares veio propiciar o acesso ao mercado que eles não tinham. Isso hoje tem muito êxito em África e nós estamos a preparar-nos para implementar em países asiáticos como, por exemplo, Timor-Leste”.

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