Africanos apostam em lançar mais satélites para o espaço
5 de abril de 2019Há cada vez mais países africanos a enviar satélites para o espaço. Os objetivos: garantir o acesso rápido à internet, alertar para desastres naturais e promover o desenvolvimento do continente.
É graças ao satélite "Icyerekezo" que a Escola St.Peters, numa pequena ilha do Lago Kivu, no Ruanda, está finalmente ligada à internet. Antes, estudantes e professores tinham apenas uma ligação por cabo – cara e ineficiente. Joselyne Abanhirwa, uma das alunas desta escola, tem grandes expetativas:
"Não importa em que ano estão, todos os estudantes vão sair-se bem na escola. Antes, não era possível pesquisar coisas que não percebíamos, porque não conseguíamos aceder aos motores de busca sem internet. Agora, vamos poder pesquisar mais rápido".
O satélite "Icyerekezo" – em português, "Visão", foi lançado recentemente a partir da Guiana Francesa, na América do Sul. O Centro Espacial de Kourou é muito concorrido – a linha do Equador está apenas a 500 quilómetros de distância. Aqui, a rotação da Terra permite aos foguetões atingirem uma velocidade de lançamento mais alta do que em qualquer outro lugar.
O projeto é apoiado pelo Governo do Ruanda e a empresa britânica One-Web. O satélite é o pioneiro. Ao "Icyerekezo" seguir-se-ão mais cinco satélites. Patrick Nyirishema é o diretor da entidade reguladora do Ruanda, também responsável pelas telecomunicações:
Escolas ligadas à internet
"Se um serviço é útil e vai ser útil durante muitos anos para o Ruanda e até para outros países, sentimos, como país, que devemos desenvolvê-lo. Porque é que temos sempre de procurar serviços de outros, quando também podemos fornecê-los? Ainda que não possamos fornecer tudo para já, poderemos fazê-lo no futuro".
Segundo o Ministério da Informação e Tecnologia do Ruanda, cerca de 40 por cento das escolas secundárias e 14 por cento das escolas primárias já estão ligadas à internet.
Além do Ruanda, há outros países africanos de olhos postos no espaço: as ambições espaciais do continente têm vindo a crescer cada vez mais nos últimos anos. A Etiópia terá o seu primeiro satélite ainda este ano. A China apoia com 6 milhões de dólares e conhecimentos técnicos e será responsável pelo lançamento do satélite de observação terrestre. A Etiópia vai tornar-se assim o quinto país da África Subsaariana com o seu próprio satélite no espaço.
Em 1999, já o pequeno satélite experimental "Sunset", da África do Sul, entrava em órbita a bordo do foguete norte-americano Delta II. Desde então, vários países africanos criaram agências espaciais e muitos juntaram-se ao "clube" dos proprietários de satélites: Angola, Quénia, Gana, Argélia, Egito e Nigéria. Mais de duas dezenas de satélites africanos estão actualmente no espaço – cerca de metade desde 2017. Islam Abou El-Magd, académico egípcio especialista em política espacial, aponta os motivos simples por trás destes desenvolvimentos.
Acelerar o desenvolvimento
"África reconheceu a importância de estar presente no espaço. A tecnologia é o principal motor deste interesse africano. As razões são simples: Hoje em dia, áreas como as comunicações, os telemóveis, a navegação e a previsão meteorológica estão diretamente ligadas à tecnologia espacial numa base diária", diz Islam Abou El-Magd.
Em 2017, a União Africana adotou uma estratégia espacial. O objetivo é criar uma agência espacial pan-africana tendo em conta as necessidades específicas do continente. Em fevereiro, a organização adjudicou ao Egito o contrato para a sede da agência, que terá lugar no Cairo. Depois, deverá começar a trabalhar com os países cujos programas espaciais estão mais desenvolvidos – a África do Sul e a Nigéria.
Mas muitos criticam o investimento africano em tecnologia espacial, dados os enormes desafios que o continente enfrenta. Em muitos países, faltam escolas, hospitais, estradas e outras infraestruturas básicas. Ainda assim, os especialistas defendem o potencial dos programas espaciais em áreas como a segurança e a gestão de desastres naturais.
A África do Sul desenvolveu um satélite de observação meteorológica que ajuda no combate aos incêndios florestais. Já na Nigéria, os satélites contribuem para o combate ao grupo extremista islâmico Boko Haram, fornecendo dados precisos sobre a região. O sonho nigeriano vai ainda mais longe: o país quer enviar um astronauta para o espaço até 2030.