Angola procura fórmula ideal para baixar custos de internet
25 de outubro de 2018A inclusão digital em Angola ainda é uma miragem, apesar da cotação que o país detém em África. Os preços de acesso à internet em Angola não são acessíveis. Atualmente, na rede móvel, o custo de 100 megabytes (MB) é de cerca de 1,60 dólares americanos (o equivalente a cerca de 0,016 dólares por megabyte). Confrontado pela DW África com estes dados, António Nunes, administrador da operadora de telecomunicações Angola Cables, reconhece que os tarifários ainda são caros, comparado com os preços praticados no mercado internacional.
"Hoje não. Mas eu perguntaria o que é que é hoje acessível? Um dos grandes dilemas que nós temos em África na sua generalidade é que o preço da internet continua muito alto. Não é uma questão só de Angola especificamente", afirma.
Ainda são preços proibitivos, admite, recordando que os africanos pagam duas vezes mais os serviços de acesso aos conteúdos através da Europa. "O facto de termos alguns países que ainda bloqueiam a entrada de players (operadores) no mercado faz com que o valor dos serviços seja mais alto", explica.
Baixar as tarifas aplicadas no mercado
E será possível baixar os custos no acesso a dados ou à informação digital? "Possível é sempre. Uma das ideias e uma das propostas de valor que estamos a realizar é, efetivamente, ao podermos trazer esta internet para África e ela ser algo que nós possamos entregar aos mercados africanos com maior eficiência. Passando a ser mais local, nós conseguimos reduzir o preço do custo da internet", responde António Nunes.
É por esta razão que a operadora angolana, há nove anos no mercado, está a investir em infraestruturas internacionais, com o objetivo de otimizar o valor do custo. "Por exemplo, desde que a Angola Cables entrou no mercado, os custos da transmissão internacional baixaram mais de 100%. Portanto, temos vindo a trazer valor para o mercado",destaca.
Por outro lado, ainda de acordo com o administrador da Angola Cables, quanto maior for o número de operadores mais eficiente será o processo de redução dos preços ao consumidor. "O que temos que fazer é conseguir por um lado arquivar o conteúdo em África – e esta é uma das razões pelas quais nós estamos a desenvolver data centers - e, por outro lado, como estamos a consumir este produto em África maioritariamente, pagarmos em África e não termos que transportar este mesmo conteúdo da Europa até aqui", explica Nunes.
"Só estes fatores diferenciadores fazem com que o preço do custo da internet desça significativamente. Portanto, isso traz valor para o mercado e traz uma diminuição brusca da utilização deste tipo de produto", explica. "Esta é uma das propostas de valor que nós queremos trazer para Angola", precisa.
Inclusão digital em marcha
Angola está a passar por uma crise profunda devido à dependência do petróleo, com efeitos no plano social. No entanto, reconhece que a inclusão digital no país é um desiderato entre as prioridades do Estado angolano, com o envolvimento de parceiros tecnológicos como a Angola Cables.
Além disso, António Nunes considera que, apostando na recuperação da economia, também é necessário investir mais na educação da população. "Um dos fatores fundamentais é ensinar a população", sublinha. "Sem dúvida nenhuma que a digitalização de todo este processo é uma forma de nós conseguirmos acelerar a inclusão desta população. Através dos sistemas de informação e da internet, podemos capacitar as populações de uma forma muito mais acelerada."
Foram já construídas várias infraestruturas de telecomunicações e o país já dispõe de mais de 15 mil quilómetros de fibra instalada, o que vai permitir o acesso à informação pela população de forma mais acelerada em comparação com o processo tradicional.
Angola como centro de conetividade de África
O gestor da multinacional angolana, formado na Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, foi um dos oradores, esta quarta-feira (24.10), no Portugal Digital Summit, num painel que apresentou projetos destinados a acelerar a inovação com tecnologias digitais avançadas. Nunes deu a conhecer operações e investimentos em curso de instalação de cabos de fibra ótica de alta velocidade, o que poderá transformar Angola no centro da conectividade entre África, o Ocidente e o Oriente.
"O facto de colocarmos Angola dentro da arena com estas infraestruturas, teremos que ter benefícios relativamente a isso, porque estamos dentro do processo. Até agora já investimos cerca de meio bilião de dólares em cabos submarinos. Por isso, nesta fase, é uma fase de recuperação do investimento feito. Mas estamos atentos àquilo que venha a ser a próxima evolução dentro deste tipo de infraestruturas", diz.
Com a ligação Sul-Sul, entre África e a América Latina, a Angola Cables passou a alimentar os data centers do continente africano através do Brasil ou da Europa. Alexandre Fonseca, presidente da Associação da Economia Digital de Portugal (ACEPI), sustenta que o desenvolvimento do digital terá impactos no crescimento da economia africana, em particular dos países lusófonos.
"Quanto melhor for a infraestrutura que liga África à América Latina e à Europa, mais rápido e melhor se fará o desenvolvimento destes países. E essa é uma das grandes oportunidades, até na perspetiva de acesso à informação, e pela importância da democracia", conclui.