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ReligiãoAngola

"A situação vai ficar feia": Polícia reprime vigília da IURD

20 de abril de 2022

Fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) dizem que a polícia os agrediu durante uma vigília num templo na capital angolana, Luanda. Jovem conta que agente policial os ameaçou queimar "com água quente".

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Foto: Borralho Ndomba

Nas redes sociais circularam imagens dos agentes da polícia junto à Catedral do Maculusso, em Luanda. Fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) dizem que os agentes as agrediram para os expulsar do local. A polícia terá também lançado gás lacrimogéneo.

Várias pessoas ficaram feridas e houve relatos de detenções.

Uma jovem cristã da Universal, que se identificou como Toya, acusou a polícia de se colocar do lado da ala dissidente da IURD, reconhecida pelo Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR). Desconfia inclusive que viu um pastor "disfarçado de agente".

"O policial chamou-me pelo nome e questionou o que estava a fazer aqui. Disse que estava na vigília e fomos invadidos. Ele disse: 'vai para casa porque viemos prontos para vos queimar com água quente e a situação aqui vai ficar feia'. Por me chamar pelo nome, só deve ser um reformado, mas estava fardado e com uma pistola", disse a jovem.

Disputa sobre gestão do património

A Catedral do Maculusso foi um dos mais de 100 locais de culto que tiveram de encerrar as portas durante dois anos, por ordem da Justiça angolana. Mas um acórdão do Tribunal da Comarca de Luanda, datado de 31 de março de 2022, determinou o "levantamento das apreensões e a restituição imediata" dos templos, segundo disse na terça-feira (19.04) o bispo angolano Alberto Segunda, líder da ala não reconhecida pelo INAR.

Angola - Alberto Segunda, angolanischer Bischof der IURD (Igreja Universal do Reino de Deus - Universalkirche des Königreichs Gottes)
Bispo angolano Alberto SegundaFoto: Borralho Ndomba/DW

No entanto, a ala sente-se injustiçada por continuar a ser impedida de realizar atividades religiosas nos mais de 100 templos, enquanto os dissidentes cultuam nas igrejas não arrestadas pelo Estado.

"Só queremos cultuar em liberdade e paz. Se os dissidentes também querem pregar, eles já têm outros templos. Porque é que querem fazê-lo aqui? Eles não são os legítimos donos", afirmou um fiel da ala liderada por Alberto Segunda.

Em comunicado, a polícia de Luanda esclareceu que a interdição se deve à "violação dos selos apostos" pelas autoridades competentes em alguns templos da IURD.

O porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, garantiu que a corporação tomará as medidas necessárias para que os imóveis apreendidos não sejam utilizados até que as autoridades judiciais decidam a quem serão entregues.

"A polícia em Luanda vem apelar a todos os crentes para respeitarem a tramitação processual administrativa para a entrega definitiva dos templos", disse Goubel.

A polícia não fez quaisquer comentários sobre as acusações de violência.

Angola - Gläubige der IURD (Igreja Universal do Reino de Deus - Universalkirche des Königreichs Gottes) in Luanda
Polícia pede a fiéis da IURD para esperarem por atribuição do patrimónioFoto: Borralho Ndomba/DW

Bispo dissidente no meio da polícia?

O pastor angolano Olívio Alberto, pertencente à ala do bispo Alberto Segunda, alertou para a alegada presença do líder dos dissidentes, o bispo Valente Bezerra Luís, durante operação policial na Catedral do Maculusso.

"O que é que o ex-bispo Valente Bezerra, no momento que que polícia agrediu os fiéis da IURD, estava a fazer junto da polícia, apontando e indicando as pessoas agredidas e levadas presas?", questionou Alberto.

Contactado pela DW África, o bispo Valente Bezerra Luís rejeitou as acusações.

"Sou bispo. Não sou agente da polícia. Quem me viu está com problemas de visão", afirmou.

Ainda assim, Bezerra Luís elogiou a ação policial na Catedral do Maculusso: "Parabenizo a polícia porque as autoridades estão aí para repor a legalidade. Se a polícia continua lá é porque alguns cidadãos estão a criar desordem", disse o religioso angolano, rejeitado por vários fiéis como líder da IURD em Angola.

Entretanto, alguns membros da IURD que foram detidos na manhã de quarta-feira já se encontram em liberdade, de acordo com a direção da Universal liderada pelo bispo Alberto Segunda.

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