IURD Angola: Tribunal condena bispo mas não decide gestão
1 de abril de 2022O tribunal de Comarca de Luanda condenou esta quinta-feira (31.03), o ex-líder espiritual da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves da Costa, a três anos de prisão com pena suspensa por crime de violência doméstica do tipo psicológico, por coagir pastores angolanos a submeterem-se a uma vasectomia.
O antigo presbítero-geral da IURD e a direção da Universal devem ainda indemnizar com 45 milhões de kwanzas (90.690 Euros), os dois ex-pastores da congregação. A defesa dos queixosos já apresentou recurso.
O bispo brasileiro foi absolvido dos crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais, burla por defraudação e expatriação ilícita de capitais que pesavam a todos os réus.
O ex-diretor da TV Record Angola, Francisco Teixeira, o atual a presidente do conselho administrativo da IURD em Angola, o bispo angolano António Ferraz, e o pastor angolano Belo Kifua foram absolvidos de todos os crimes de todos os crimes. O tribunal ordenou o desbloqueio das contas e a restituição dos bens apreendidos.
Direção aberta ao diálogo com dissidentes
O juiz da causa, Tutri António, esclareceu que o tribunal julgou apenas matérias que constituem crimes no processo. Sobre a gestão da igreja, as partes deverão litigar noutra instância judicial.
"É uma questão que deve ser resolvida no outro tribunal. As pessoas que estão aqui a disputar pela igreja têm advogados e os advogados sabem onde devem se dirigir para poder determinar com quem vai ficar a gestão da igreja, quem vai receber de volta os bens que o tribunal mandou restituir. Portanto, esta parte já não me compete, já não compete aos meus colegas, e por esta razão, não nos pronunciamos", frisou.
A decisão do tribunal foi correspondida pela atual liderança da Igreja do Reino de Deus. O bispo e líder espiritual, o angolano Alberto Segunda, disse que a justiça foi feita e garante que haverá mais disciplina interna para se evitar novos processos contra a IURD do brasileiro Edir Macedo.
"A igreja vai continuar com o seu curso normal da pregação do evangelho, agora com mais disciplina, porque algumas coisas de que é acusada não fazem parte da liturgia e vamos vigiar mais, acompanhar mais os pastores para não voltarmos ao tribunal", disse o bispo angolano da IURD.
Por seu turno, o presidente do conselho de administração da IURD, António Ferraz, absolvido dos crimes, afirma que a direção da igreja está disponível a dialogar com os bispos e pastores dissidentes. "Têm que reconhecer e procurar a autoridade da igreja para falar, porque foram eles que saíram da igreja, nós continuamos, se eles vierem à igreja, está aberta para todos, mas tudo tem uma regra e se eles, humildemente, procurarem a direção da igreja, nós vamos recebê-los com muito prazer”, disse o líder religioso angolano à imprensa.
Fiéis aplaudem decisão
A IURD em Angola está em conflito desde 2019, período em que um grupo de bispos e pastores angolanos anunciou a sua saída da igreja, e acusou a direção brasileira de vários crimes. A acusação resultou no encerramento de vários templos e no processo judicial em que os dissidentes saíram derrotados.
O acórdão do tribunal foi aplaudido efusivamente por milhares de fiéis que apoiam a liderança indicada pelo fundador da IURD, Edir Macedo e acreditam que a direção vai retomar a gestão de todos os templos encerrados pelo Estado angolano.
"Temos a certeza de que a igreja vai ser aberta e será entregue ao bispo Edir Macedo. E o bispo Edir Macedo tem quem colocar na gestão. Agora estamos com o bispo Alberto Segunda. Esse é o nosso bispo. Não é cópia. Cópia são eles", disse Luísa Matias, uma das seguidoras da IURD, à DW.
Os queixosos que perderam a causa não prestaram declarações à imprensa. Mas o advogado de Alfredo Ngola, ex-pastor submetido a uma vasectomia, que deverá ser indemnizado em cerca de 30 milhões de kwanzas (mais de 60 mil euros), refere que o tribunal correspondeu às expectativas.
"O tribunal atendeu ao nosso pedido, julgou e condenou o líder máximo da igreja e solidariamente ele deve fazer o pagamento deste valor. Obviamente que este valor não poderá, em certa medida, reparar todos os danos, mas poderá dar condições ao nosso assistente de voltar à África do Sul, para fazer uma reversão, tratar-se condignamente", realçou.