A necessidade de apostar na agricultura em Moçambique
14 de novembro de 2012Em Moçambique, economistas e políticos lançaram o alerta: o Governo não pode cometer o erro de preterir o desenvolvimento da agricultura a favor dos recursos naturais. Os especialistas são da opinião não obstante a descoberta recente de enormes reservas destes recursos, a agricultura tem que continuar a ser o esteio do desenvolvimento. Sugerem que haja mais investimentos na mecanização da agricultura. Mas a realidade é outra, salientam: o investimento para o setor é pouco quando comparado com outras áreas.
Não é a opinião do ministro da agricultura, José Pacheco, que considera que o executivo está a tratar o setor de forma prioritária. Assim, de entre várias apostas, há planos para produzir 300 mil toneladas de arroz na presente campanha agrícola, diz este governante: “Estamos no bom caminho para reduzir o défice alimentar na importação do arroz. Iremos contratar mais 380 extensionistas para assistir os nossos produtores na luta contra a pobreza”.
Planos do Governo deparam com ceticismo
Os planos não estão a convencer os políticos da oposição. O deputado do Movimento Democrático de Moçambique, Arnaldo Chalaua, sugere que se deve aplicar critérios científicos no desenvolvimento da agricultura: “Se Moçambique elege a agricultura como base de desenvolvimento, não pode fazê-lo com o uso da enxada de cabo curto. É tão importante como necessário apostar na agricultura mecanizada”. Chalaua defende que há que elaborar uma nova estratégia de política agrária e que o país deve finalmente começar a apostar nesta área “que é de extrema importância para combater a pobreza, a fome”..
Por seu lado, o deputado da Renamo, James Marcos, considera o orçamento para agricultura insuficiente: “A agricultura tem sido um falhanço em Moçambique por falta de dinheiro. Sendo base de desenvolvimento, tinha que ter prioridade de topo na alocação dos fundos”. Marcos exige, por isso, mais fundos para concretizar os planos anunciados pelo Governo: “Esse é que é o problema. Se não tivermos dinheiro, não teremos uma agricultura mecanizada.”
Economistas definem prioridades
O economista moçambicano, António Tibane, diz ser urgente investir no regadio de Chókwe, na província de Gaza, para dinamizar a produção do arroz: “O primeiro ponto é uma questão de engenharia. Porque de há um tempo para cá, infelizmente, ocorre uma situação em que um gigante, que é o regadio de Chókwe, começa perder água das valas, simplesmente por não haver manutenção. Não é possível termos um gigante daqueles sem nenhum plano de manutenção.”
Também o economista, António Cumbana, faz sugestões práticas que podiam ser levadas a cabo de imediato. Cumbana defende que se pode tirar proveito dos resíduos dos recursos minerais para servirem de fertilizantes, e desenvolver desta forma a agricultura: “Quando fazemos o processamento e refinação do gás, naturalmente temos os subprodutos, que podem ser usados para, por exemplo, para alimentar a indústria do plástico e poderão também ser usado para a indústria dos adubos.”
Recorde-se que o governo, num passado recente, incentivou a produção da jatrofa e alguns camponeses chegaram a abandonar a produção da mandioca, do milho, do feijão a favor daquele biocombustível.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha