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ConflitosÁfrica do Sul

África do Sul: Protestos sob forte aparato de segurança

cvt | com agências
20 de março de 2023

Pelo menos 87 pessoas foram detidas na África do Sul por "violência pública" devido aos protestos convocados pelo líder da oposição Julius Malema. Polícia e soldados foram destacados por todo o país.

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Protestos na África do Sul
Partido de Esquerda EFF apelou a um "encerramento nacional"Foto: Alet Pretorius/REUTERS

Milhares de manifestantes reuniram-se hoje numa praça na capital Pretória preparando-se para marchar até aos Edifícios da União, a sede do Governo, onde a polícia e as tropas estavam em patrulha.

Milhares de outros reuniram-se em outras partes do país, de acordo com imagens veiculadas nos meios de comunicação locais.

"Os agentes da autoridade, através da Estrutura Nacional Conjunta de Operações e Inteligência (NATJOINTS), prenderam, nas últimas 12 horas, 87 manifestantes em todo o país por crimes relacionados com violência pública", referiu a polícia sul-africana (SAPS), em comunicado esta manhã. As detenções terão sido realizadas à noite, antes mesmo do início dos protestos.

"Dos 87, 41 foram presos em Gauteng (província onde estão localizadas Joanesburgo e a capital Pretória), 29 em North West, 15 no Free State. Também há detenções em outras províncias, como Mpumalanga e Cabo Oriental, a atualizar quando as informações estiverem disponíveis", adiantou.

As autoridades sul-africanas salientaram que "pelo menos 24.300 pneus" - regularmente utilizados como combustível em protestos violentos no país - foram confiscados em todo o país pelas autoridades policiais.

"Eram pneus colocados estrategicamente para atos de criminalidade", sublinhou a NATJOINTS, acrescentando que "6.000 foram apreendidos no Cabo Ocidental, 4.500 no Free State, 3.600 em Gauteng, 1.513 no Cabo Oriental e mais alguns em outras províncias".

Protestos na África do Sul
No cartaz lê-se: "Ramaphosa tem de renunciar agora"Foto: Themba Hadebe/AP/dpa/picture alliance

Forças de segurança nas ruas

A polícia e soldados estavam destacados por toda a África do Sul esta segunda-feira enquanto o país se preparava para protestos, após o partido de esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês) ter apelado a um "encerramento nacional".

"Esperamos que aqueles que irão marchar, desde que o façam pacificamente, não temos razões para interferir com eles", disse hoje o ministro da polícia Bheki Cele aos repórteres em Joanesburgo.

"A polícia terá de ser dura sem ser realmente brutal", disse ele, acrescentando que empresas de segurança privadas também estavam a ajudar a polícia.

Em Pretória, o membro da EFF Gift Boquopane, de 42 anos, juntou-se ao protesto com a sua esposa e filhos.

"Eles não fazem nada por nós", disse Boquopane referindo-se ao Governo.

"Estamos cansados de perder carga", acrescentou, numa referência aos apagões de eletricidade.

Uma mulher de 27 anos, que não quis ser identificada, disse que apoiava o protesto porque as falhas de energia tinham perturbado seriamente os negócios.

"Apoio-o, mas não apoio as coisas que acontecem durante os protestos". Todo o roubo, toda a violação de propriedades", afirmou.

Cyril Ramaphosa
Manifestantes demandam a renúncia do Presidente Cyril RamaphosaFoto: ESA ALEXANDER/REUTERS

Exigências dos manifestantes

A África do Sul encontra-se desde sexta-feira (17.03) em estado alerta máximo devido aos protestos anunciados para o dia de hoje pelo partido de oposição Combatentes da Liberdade Económica contra os"cortes de eletricidade crónicos" e uma economia em "colapso", pedindo ainda a renúncia do Presidente Cyril Ramaphosa, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994 no país.

"Ninguém pode parar uma revolução", disse o líder do EFF Julius Malema aos seus apoiantes na sexta-feira.

Já o porta-voz do partido, Sinawo Tambo, disse à agência de notícias francês AFP que as preocupações sobre saques e violência eram "infundadas" e acusou as autoridades de usarem de força excessiva, mobilizando o exército numa tentativa de intimidar os apoiantes.

Pelo menos 3.400 militares do exército sul-africano (SANDF, na sigla em inglês) foram destacados desde domingo (19.03) para apoiar a Polícia na "prevenção e combate a qualquer ato de criminalidade e para manter a ordem pública".

Alguns partidos de oposição, empresas e grupos privados de transportes públicos coletivos rejeitaram a adesão à ação de protesto.

No sábado (18.03), um tribunal de Joanesburgo ordenou ao EFF que não encerrasse escolas, lojas, empresas, comércio e vias públicas com o protesto, e que não incitasse à violência, depois de o principal partido de oposição da África do Sul, a Aliança Democrática (DA), lhe ter pedido que proibisse o protesto.

"A EFF tem todo o direito de protestar, mas o partido não tem o direito de manter a África do Sul refém ao fazê-lo", disse o líder da DA, John Steenhuisen.

Entretanto, a concessionária de eletricidade sul-africana Eskom, cancelou os cortes regulares de eletricidade para esta segunda-feira.

Julius Malema
Julius MalenaFoto: imago/Gallo Images

Protestos mortais

As ruas de Pretória e Joanesburgo estavam calmas esta segunda-feira de manhã, com poucos carros a circularem pelas ruas normalmente movimentadas.

A maioria das lojas estava fechada e uma concessionária de automóveis de Pretória havia retirado todos os veículos das suas vitrines.

O protesto reativa memórias dos motins mortais de julho de 2021, a pior violência desde o fim do apartheid na África do Sul, quando pelo menos 350 pessoas foram mortas em protestos desencadeados pela prisão do ex-Presidente Jacob Zuma.

No seu boletim semanal de segunda-feira, o Presidente Ramaphosa disse que qualquer pessoa ou organização era livre de convocar protestos, "mas ninguém deveria ser forçado, ameaçado ou intimidado a juntar-se a esse protesto".