"É impossível derrotar a Rússia", diz Putin em entrevista
9 de fevereiro de 2024Em uma rara entrevista de mais de duas horas ao ex-âncora da Fox News, Tucker Carlson, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou ser "impossível" derrotar a Rússia. Falando em russo e com dublagem em inglês, o líder do Kremlin também sugeriu que o fim da guerra na Ucrânia está nas mãos de Kiev, a quem voltou a atribuir a culpa pelo conflito.
"Até agora, tem havido alvoroço e gritaria sobre infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha", disse o presidente russo ao comentador e analista político conservador. "Mas agora, aparentemente, estão começando a se dar conta de que isso é difícil de alcançar, se é que é possível de alguma forma. Na minha opinião, é impossível por definição."
O líder russo insistiu ainda que os dois países estavam prestes a chegar a um acordo para acabar com as hostilidades em abril de 2022, durante negociações em Istambul, mas que a Ucrânia teria então recuado quando as tropas russas se retiraram das proximidades de Kiev. "Mais cedo ou mais tarde, haverá um acordo", acrescentou.
Putin acusou ainda a Ucrânia de ter começado o conflito em 2014, quando o então presidente Viktor Yanukovich foi deposto. Ele disse que a Rússia quer acabar com essa guerra e destacou que Moscou "ainda não atingiu seus objetivos" na Ucrânia. "Um desses objetivos é a desnazificação. Eu me refiro ao banimento de qualquer movimento neonazista", enfatizou o chefe do Kremlin, repetindo o argumento usando por Moscou para justificar a invasão ao país vizinho.
Risco de expansão da guerra para países vizinhos
Putin também sugeriu que a Rússia não tinha intenção de enviar tropas para a Polônia ou Letônia, países membros da Otan. "Apenas num caso", observou. "Se a Polônia atacar a Rússia. Por quê? Porque não temos interesse na Polônia, na Letônia ou em qualquer outro lugar. Por que faríamos isso? Nós simplesmente não temos nenhum interesse."
Putin aproveitou a ocasião para se dirigir aos tomadores de decisões americanos: "Vou lhe dizer o que estamos falando sobre este assunto e o que estamos transmitindo à liderança dos EUA. Se vocês realmente querem parar de lutar, precisam parar de fornecer armas".
Parlamentares americanos seguem debatendo sobre o envio de ajuda à Ucrânia. No entanto, é incerto se a Câmara dos Representantes, dominada pelos republicanos, aprovará fundos para Kiev, já que os aliados próximos ao ex-presidente Donald Trump votaram contra tal apoio no passado.
"Não seria melhor negociar com a Rússia? ", questionou Putin. "Fazer um acordo. Já entendendo que a situação está se desdobrando, percebendo que a Rússia lutará pelos seus interesses até o fim."
A Casa Branca tem insistido que cabe a Kiev decidir quando dar início a negociações com autoridades russas.
Entrevista concedida excepcionalmente
Esta foi a primeira vez que o líder russo concedeu uma entrevista à imprensa ocidental desde 2019, bem antes, portanto, de sua decisão de invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022. A conversa de mais de duas horas foi gravada em Moscou na última terça-feira (06/02) e divulgada no site de Carlson na quinta.
Segundo o Kremlin, Putin só concordou com a entrevista porque a abordagem de Carlson seria distinta das reportagens "unilaterais" do conflito na Ucrânia feita por muitos meios de comunicação ocidentais. Conhecido por espalhar teorias da conspiração, Carlson foi demitido da Fox News no ano passado sem nenhuma explicação por parte da emissora americana.
O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, minimizou o impacto da entrevista antes mesmo de ela ir ao ar, alertando os potenciais telespectadores: "Lembrem-se que se trata de Vladimir Putin. Não se deve considerar nada do que ele tem a dizer."
Avanços na libertação de Gershkovich
Putin também indicou que seria possível se alcançar um acordo para a libertação do jornalista Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, preso na Rússia há quase um ano por acusações de espionagem. "Tem havido muitos exemplos bem sucedidos destas negociações coroadas de sucesso", disse Putin. "Provavelmente, isso também será coroado de sucesso, mas temos que chegar a um acordo."
Em comunicado, o jornal americano afirmou que Gershkovich "é um jornalista e jornalismo não é um crime" e que "qualquer representação em contrário é pura ficção".
ip (AP, DPA, Reuters, AFP)