Um mês para a Copa
11 de maio de 2010Em quatro semanas, o maior evento esportivo do planeta vai dominar as manchetes. Até lá, a África do Sul garante que estará com tudo pronto para receber as seleções mundiais e os visitantes. De fato, o país inaugura novas instalações num ritmo frenético. E o presidente Zuma ressalta: "Você pode ver quando nós dizemos que estamos prontos. Não é apenas retórica."
De fato, o novo terminal do aeroporto de Joanesburgo foi aberto ao público no último sábado (08/05) e a agenda de inaugurações está cheia. No entanto, há ainda preocupações de última hora que não foram resolvidas desde que o país ganhou o direito de sediar o evento, tais como os gargalos no sistema de transporte.
A um mês dos jogos, o país também lida com uma greve nacional, que mobiliza cerca de 20 mil trabalhadores dos setores ferroviário e portuário. A paralisação prolongada interrompe o tráfego marítimo, compromete a exportação de carvão e minério de ferro, bem como a distribuição de combustível.
Vai e volta dos estádios
A África do Sul investiu 1,9 bilhão de euros em infraestrutura, a fim de ampliar aeroportos, reformar rodovias e aprimorar as redes de transporte público. Ainda assim, os esperados 373 mil visitantes poderão ter problemas para se locomover de um ponto a outro, preveem especialistas do setor.
Uma boa notícia é que, depois do aumento de até 215% no preço das passagens aéreas entre as cidades-sede nas datas dos jogos, os valores caíram devido a uma investigação das autoridades anticartel.
Mas o transporte por terra continua sendo um problema. Ainda não se sabe como os turistas irão chegar e sair das cidades pequenas que abrigarão jogos, como Nelspruit, Polokwane e Bloemfontein.
A jornalista brasileira Sabine Righetti passou um mês na África do Sul e conheceu Durban, Pretória, Joanesburgo e Cidade do Cabo, grandes centros urbanos. "Com exceção de Joanesburgo, que é a maior cidade do país e tem transporte público e uma quantidade considerável de táxis, as outras três têm o transporte bastante precário", conta. A avaliação é de quem está acostumada ao sistema brasileiro de transporte público.
"Na Cidade do Cabo, o transporte é basicamente feito por minivans que são ruins, fazem cada dia um trajeto diferente e não têm horários fixos. Em geral, espera-se bastante tempo nos pontos. Tem dias em que todas as minivans do centro estão indo para praia e, se você quiser ir para universidade, está lascado", conta Sabine.
Segundo a jornalista, Pretória, a capital administrativa do país, tem o pior transporte das cidades pelas quais passou. "Tive enormes dificuldades para ir do estádio Loftus Versfeld aos pontos turísticos. Era dificílimo encontrar táxis – que andavam sem identificação – e não vi ônibus circulando."
Joanesburgo, Cidade do Cabo e Durban devem receber a tempo para a Copa a rede BRT (Bus Rapid Transit), com ônibus rápidos de linha percorrendo pontos estratégicos. O país também planejou um serviço que fará o transporte dos visitantes dos estacionamentos para os estádios, semelhante ao usado na Copa das Confederações e que apresentou problemas na época. Desta vez, os organizadores prometem uma ação mais coordenada.
Está prevista para oito de junho – apenas três dias antes do início dos jogos – a entrada em funcionamento do trem rápido Gautrain, o primeiro do tipo no país. O trecho inicial vai conectar o aeroporto internacional de Joanesburgo ao subúrbio chique de Sandton, onde os hotéis estão concentrados.
Os africanos comparecem
Se uma previsão feita há dois anos apontava a visita de 483 mil turistas, esse número não deverá passar de 373 mil. E, como a venda de entradas ao público estrangeiro não correspondeu às expectativas, os ingressos passaram a ser oferecidos nos estádios africanos desde o mês passado.
A resposta foi imediata: na primeira semana, 180 mil lugares foram vendidos, segundo dados da Fifa. Até então, na África do Sul, os ingressos estavam disponíveis apenas pela internet e em agências bancárias.
Os preços também são um atrativo: por 140 randas, o equivalente a 14 euros, pode-se garantir uma entrada. O valor oferecido aos africanos é bem mais baixo do que o estabelecido para quem compra um ingresso fora do país.
Mas o estádio principal, Soccer City, onde acontecerão o jogo de abertura e a final, ainda não foi entregue à Fifa. Para completar a obra, falta concluir as obras do estacionamento e de paisagismo.
Mesmo assim, Danny Jordaan, da comissão organizadora, afasta qualquer pessimismo: "Tudo está completo. Nossos estádios estão, simplesmente, entre os melhores. Esta Copa do Mundo abraçou este país".
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Rodrigo Rimon