Zélia Duncan reapresenta Itamar Assumpção ao público alemão
16 de setembro de 2013Ícone da chamada Vanguarda Paulistana, o cantor e compositor Itamar Assumpção (1949/2003) teve uma história bem peculiar na Alemanha. Na década de 80, dois de seus discos – Intercontinental! Quem Diria! Era só o que Faltava!! e Sampa Midnight – foram lançados pelo selo alemão Messidor, sediado em Frankfurt, mesmo sendo ele um músico desprezado pelas maiores gravadoras brasileiras.
Agora Itamar "retornou" à Alemanha pelas mãos da cantora Zélia Duncan. Envolvida emocionalmente com o repertório de Itamar desde os tempos em que ainda batalhava pelo seu primeiro CD (que sairia em 1990), Zélia já havia gravado 11 canções do compositor paulistano antes de dedicar um disco e show inteiros a ele.
"Cerquei-me de músicos e do meu produtor Kassin, que é muito curioso e estudioso desse assunto. Conseguimos uma sonoridade linda e espontânea. O momento é muito feliz", declarou Zélia, em entrevista à DW Brasil, sobre Tudo Esclarecido.
O disco, que vem colecionando elogios da crítica especializada no Brasil, encantou também a plateia alemã no início deste mês, quando Zélia se apresentou em Frankfurt. O público deixou-se arrebatar por composições como Noite Torta, Código de Acesso e Fico Louco, esta o melhor momento do espetáculo.
Se não pôde contar com o cenário que vinha utilizando na turnê brasileira, Zélia teve no entanto a oportunidade de receber no palco Fabiana Cozza, intérprete paulista que iria cantar na mesma sala no dia seguinte, ao lado da HR-BigBand.
DW Brasil: Ao gravar Tudo Esclarecido, você abriu mão de tocar com músicos que já haviam trabalhado com Itamar Assumpção. Isso foi intencional desde o momento em que nasceu a ideia do disco?
Zélia Duncan: Quis o disco tocado por músicos que não tivessem influência dele, e isso deu um frescor de surpresa e arrebatamento apaixonado.
Você apresenta dois espetáculos simultaneamente no Brasil – o show Tudo Esclarecido e o TôTatiando, baseado na obra de Luiz Tatit. Concorda que, ao mirar na faceta solar de Itamar, em suas músicas mais leves, você acaba por aproximá-lo da bem-humorada obra de Tatit?
Foi sem querer, mas sim, eles afinal são complementares e igualmente importantes para a música de São Paulo e do Brasil.
Nesse disco há Ney Matogrosso e Martinho da Vila em participações especiais. Você já teve oportunidade de cantar com algum deles ao vivo, nesta temporada de divulgação do álbum?
Ainda não, mas o mais importante é ter o registro desses artistas reverenciando a obra de Itamar.
O arranjo que vocês fizeram para a canção Mal Menor parece tornar possível o fato de Roberto Carlos, um dia, vir a gravar Itamar Assumpção. Você acredita nisso?
Muito difícil, mas seria lindo.
Fazer esse show na Alemanha tem algum significado especial para você?
Cantar longe é sempre um desafio diferente. E nesse caso, sei que Itamar adorava a Alemanha e se sentia acolhido, então fica mais especial ainda.
Ver Itamar Assumpção em cena era estar diante de seus melhores momentos, tal a teatralidade dele. Fazer Tudo Esclarecido no palco exigiu mais de você em termos cênicos?
Não por isso, mas porque eu, pessoalmente, tenho me voltado muito para a teatralidade e suas imensas possibilidades. Mas é uma soma incrível ter as músicas de Itamar comigo.
Esse trabalho é uma exaltação ao Itamar compositor. O que você acha dele como intérprete de obras alheias?
Sempre original e surpreendente!
Você tem consciência de ter atingido com esse disco um nível de gravação muito superior aos registros de Itamar em termos de sonoridade?
Se isso for verdade, fico muito honrada de ser o instrumento para trazer uma qualidade técnica mais legal para uma música que merece.
E como você chegou às músicas que eram inéditas?
Eu tinha tudo. Nesse ponto, eu tive muita sorte. Alice Ruiz [parceira de Itamar] me deu um disco dele, de inéditas, há um tempão. Foi de lá que eu tirei Tudo ou Nada, que é uma música incrível e que está no Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band, onde eu gravei quatro músicas de Itamar. As filhas dele e a Zena, viúva dele, também tinham me dado já um monte de coisas. Eu estou contracenando com essas músicas há muito tempo, e na hora de gravar o disco, pensei: se eu puder, vou usar um pouco desse material também. Zélia Mãe Joana, que era uma grande surpresa, acabou ficando. Nem as filhas conheciam direito essa música.
Vocês vão apresentar esse show em algum outro país da Europa?
Não, nós vamos voltar para casa, porque temos muitas coisas a fazer no Brasil, já estamos até cuidando da gravação do DVD desse show. Eu o recheei com outras músicas do Itamar que não estão no disco, como Quem Canta Seus Males Espanta.