World Wide Will
Ele é um dos autores mais encenados e mais influentes do mundo: William Shakespeare faz 450 anos. Extraordinária é a capacidade de suas peças de serem compreendidas e adaptadas a praticamente qualquer cultura do planeta.
Popularidade atemporal
As obras de William Shakespeare são passíveis de adaptação e interpretação por praticamente qualquer cultura do planeta. Isso se deve à universalidade de seus temas e à forma, profunda porém acessível, como são tratados. A palheta do dramaturgo e poeta é vasta, indo do amor e paixão até à morte e assassinato, passando pelo ciúme e intrigas.
Identificação ou distância
Shakespeare descreve os imbróglios interpessoais de protagonistas com os quais o espectador comum se identifica – ou dos quais pode se distanciar o máximo possível. "Macbeth", por exemplo (na foto, numa produção em Teerã), é uma história de ambição de poder – Macbeth sobe ao trono da Escócia por uma rede de intrigas – que termina em carnificina.
MacBotswana
O mesmo texto-base, um espetáculo totalmente diverso: Shakespeare também possibilita conexões com os mitos africanos. "Okavango MacBeth" (2009) foi a primeira ópera criada em Botswana. O diretor Alexander McCall Smith transportou a temática da sede de poder para a realidade cotidiana e a situação do país. A peça foi montada com atores amadores locais e apresentada numa velha garagem.
Shakespeare samurai
Mais uma versão: "Trono manchado de sangue" ("Kumonosu-jô"), de Akira Kurosawa, 1957, situa "Macbeth" no tempo dos samurais, no século 16. A obra-prima do cineasta japonês narra a tragédia em imagens de assombradora beleza. O ator Toshiro Mifune (esq.) interpreta o papel do general shakespeariano.
Amor proibido no estilo MTV
Ao filmar em 1996 a tragédia das casas Capuleto e Montecchio de Verona, o diretor australiano Baz Luhrmann permaneceu no espírito da cultura pop da década de 90. Assim, seu "Romeu e Julieta", estrelado por Leonardo DiCaprio e Claire Dane, conquistou a plateia jovem. Seus toques de filme de ação não se distanciam tanto assim da intenção original de Shakespeare de divertir as massas.
"Romeo rocks"
O casal de dançarinos americanos Rasta Thomas e Adrienne Canterna também colocou o entretenimento em primeiro plano, em sua atlética interpretação daquela que possivelmente é a mais romântica história de amor do mundo: "Romeu e Julieta". O show de rock-balé teve estreia em setembro de 2013, em Hamburgo.
Sunita ama xiita
Em "Romeu e Julieta em Bagdá", produção de 2012 da Iraqi Theatre Company, o casal protagonista é formado por um xiita e uma sunita – duas facções adversárias do islamismo. Desse modo, a peça que participou do World Shakespeare Festival amplia o conflito entre os dois amantes, do campo familiar original, para a sociedade de um país e até mesmo para o âmbito de uma religião mundial.
"Ser ou não ser" em russo
"Hamlet" é uma das peças shakesperianas mais conhecidas. Originalmente, desenrola-se na Dinamarca a tragédia do jovem príncipe que quer vingar a morte do pai e acaba precipitando a todos na desgraça, inclusive a si mesmo. Mas com as devidas alterações, nada impede que a história seja ambientada à Rússia. Nesta produção de 2006, o ator Nikolay Lazarev monologa no Teatro das Forças Armadas Russas.
Sonho de uma noite sul-coreana
Também o teatro oriental costuma recorrer à obra do "Bardo de Avon". Em seu "Sonho de uma noite de verão" de 2010, o grupo teatral sul-coreano Yohangza empregou um sem número de recursos cênicos. O resultado foi uma explosão de música e movimento, que transporta alegria e energia transbordantes ao combinar a história original com mitologia coreana e artes interpretativas.
Lear no deserto
A influência do dramaturgo elisabetano chega até o campo de refugiados Zaatari, no deserto jordaniano. Majd Ammari, que aos 13 anos fugiu da Síria, representa o "Rei Lear". O diretor e ator sírio Nawwar Bulbul trabalhou com as crianças durante mais de dois meses, na esperança de atrair a atenção para as más condições no campo de refugiados.
Tempestade talibã
A década de 1960 foi uma época de ouro para a cena teatral afegã. Então vieram os talibãs e proibiram toda atividade teatral. Assim, quando, em julho de 2012, foi levada ao palco em Cabul "A tempestade" de Shakespeare, tratava-se também de uma mensagem: um sinal decidido para deixar para trás os anos tempestuosos e tentar um recomeço.
Afinal, quem era Shakespeare?
O debate não é novo: William Shakespeare terá sido realmente o autor de "Hamlet", "Macbeth" e outros tantos? Em seu filme histórico "Anônimo", de 2011, o diretor alemão Roland Emmerich se coloca do lado dos pesquisadores que atribuem a verdadeira autoria dessas obras ao nobre Edward de Vere, conde de Oxford. Na foto, Vanessa Redgrave como Elisabeth 1ª e Rhys Ifans como De Vere.