Volks quer investigar 'viagens de lazer'
26 de julho de 2005Já a empresa de auditoria KPMG deverá entregar somente em outubro à direção da Volkswagen o relatório final das investigação sobre as práticas suspeitas que deram origem a um dos maiores escândalos de corrupção e desvio de dinheiro da Alemanha nos últimos anos.
O relatório preliminar entregue na segunda-feira (25/07) não trouxe novidades devido à montanha de papéis com os quais os auditores se confrontaram. Quase 20 profissionais da KPMG estão há três semanas checando as acusações de corrupção e desvio de dinheiro na montadora alemã.
Investigações semelhantes também são conduzidas, em separado, pela Promotoria Pública de Braunschweig. O presidente do conselho fiscal da montadora, Ferdinand Piëch, já declarou que pretende ver todos os fatos esclarecidos "até o último detalhe". Ele disse que dedicará um dia da semana para se ocupar exclusivamente do problema.
No centro do escândalo estão os ex-diretores de Recursos Humanos da Skoda Helmuth Schuster e Klaus-Joachim Gebauer, o ex-presidente do conselho de fábrica da Volkswagen Klaus Volkert e o ex-diretor de Recursos Humanos da Volkswagen Peter Hartz. A Skoda é uma montadora tcheca que pertence à Volkswagen.
As investigações abordam dois pontos, cuja conexão ainda é desconhecida: o suposto desvio de dinheiro, por meio da formação de uma rede de empresas de fachada usadas para acertar negócios com a própria Volkswagen, e as "viagens de lazer" de membros do conselho de fábrica a vários países do mundo, entre eles o Brasil. Os representantes dos trabalhadores estão sendo acusados de terem sido comprados pela direção da Volkswagen, que teria pago os custos das viagens e a companhia de prostitutas, algumas delas brasileiras.
Negócios suspeitos
Segundo a imprensa alemã, Schuster, Gebauer e Volkert estariam por trás da empresa F-Bel, que teria tentado convencer a direção da Skoda a montar em Praga um parque temático nos moldes da Autostadt, que a Volkswagen mantém em Wolfsburg. Nesse negócio, sobrariam limpos entre 10 e 15 milhões de euros, mas a diretoria financeira da Skoda barrou os projetos da F-Bel.
Outro projeto que ficou no papel era o de exportação de carros da Skoda para Angola por meio de uma empresa comandada por um testa-de-ferro de Gebauer e Schuster. A empresa que intermediaria o negócio lucraria cerca de mil euros por veículo, ou algo entre 10 e 20 milhões de euros por ano.
O projeto caiu após a demissão de um funcionário do Commerzbank que estaria envolvido no caso. No computador dele foram encontrados documentos que apontavam para práticas suspeitas de Schuster e Gebauer na Volkswagen.
Golpe da Índia
Schuster também é acusado de ter aplicado um golpe no governo do Estado indiano de Andhra Pradesh. Ele acertou a instalação de uma montadora do grupo Volkswagen no Estado e pediu dois milhões de euros de adiantamento, a serem depositados na conta de uma empresa que, como ficou comprovado mais tarde, era de fachada. O governo local depositou o dinheiro, que sumiu. A Volkswagen divulgou nota afirmando não ter nada a ver com a empresa de Schuster, mas teve que bancar o prejuízo e ressarcir os indianos.
Prostitutas brasileiras
O escândalo se completa com as famosas "viagens de lazer" de membros do conselho de fábrica, assunto obrigatório em toda a imprensa alemã nas últimas semanas. Segundo a revista semanal Der Spiegel, as primeiras viagens do gênero remetem ao ano de 1996.
O jornal Bild publicou que o poderoso Peter Hartz foi um dos favorecidos com os serviços de prostituição pagos pela montadora. A prostituta que o atendeu é brasileira, chama-se Josélia R. e trabalha num bordel de luxo em Lisboa, o Elefante Branco, afirmou o jornal. Já Volkert teria uma relação não muito bem esclarecida com Adriana B., uma moça que vive em São Paulo, afirmou a revista Focus.
Segundo a imprensa alemã, Gebauer era o responsável por organizar o serviço de prostituição, obedecendo às ordens de Hartz. A Volkswagen também teria pago compras feitas por membros do conselho de fábrica em joalherias: a Der Spiegel cita, como exemplo, a rede brasileira H. Stern.
"Logo conheceremos, com nome e foto, todas as damas que, no Brasil, na Espanha, em Portugal, na Índia e na República Tcheca, tiraram do aborrecimento membros do conselho de fábrica e empresários do grupo VW em Wolfsburg", escreveu a revista Der Spiegel na sua edição desta semana.