Viúva de líder da ex-Alemanha Oriental quebra silêncio
4 de abril de 2012Durante anos, jornalistas viajaram até o Chile, onde a alemã Margot Honecker vive exilada, na esperança de conseguir uma entrevista. A viúva do ex-líder da Alemanha Oriental Erich Honecker recusou-se repetidamente a falar com os repórteres alemães – insultando-os ou molhando-os com a mangueira do jardim.
Neste ano, porém, Honecker – que foi ministra da Educação da República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Oriental, entre 1963 e 1989 – publicou um livro sobre a educação popular no leste do país [Zur Volksbildung, no título original], assim como os últimos registros do diário de seu marido. Ela também concedeu uma entrevista à emissora de TV alemã ARD nesta segunda-feira (02/04).
Em um documentário de 90 minutos sobre a era Honecker, exibido pela emissora para mais de 4 milhões de espectadores, a viúva de 84 anos defendeu veementemente a Alemanha comunista.
Honecker disse nunca ter compreendido por que se tentava escapar para o oeste, por cima do Muro de Berlim, se tantos morriam durante a fuga. "Não havia necessidade disso. Não era preciso escalar o Muro. Ter de pagar por tal estupidez com a própria vida é doloroso, principalmente para as mães que sofriam com isso", considerou.
Um sistema melhor
O marido de Margot Honecker, Erich, que supervisionou a construção do Muro de Berlim em 13 de agosto de 1961, foi forçado a renunciar seu cargo político pouco antes de o Muro cair, em 9 de novembro de 1989.
É claro que havia prisioneiros políticos, pessoas que "prejudicavam o socialismo" na Alemanha Oriental, diz Honecker no documentário. "Ninguém precisa se desculpar por isso", afirma.
A maioria dos alemães que assistiram à entrevista nesta segunda-feira desaprovou os comentários da viúva, mas não esperava algo diferente da obstinada linha-dura. Mais de 20 anos após o colapso do Estado, vítimas da Alemanha Oriental mostraram-se ainda indignados. "Que tipo de pessoa é essa?", questionou uma mulher que foi presa por tentar escapar pelo Muro de Berlim e cujo filho pequeno foi, então, dado para adoção pelo Estado. "É um desaforo, inacreditável", diz.
A contrarrevolução
Honecker alega que a adoção forçada não existia na Alemanha Oriental – convicta de ter evitado acusações criminais. Vivendo no Chile desde 1992, ela recebe do governo alemão uma pensão mensal de 1.500 euros.
Na entrevista para a televisão, Honecker descreve a noite de outubro de 1989 em que a Alemanha Oriental celebrou seu 40º aniversário em Berlim. Em uma procissão à luz de velas, jovens aclamavam Mikhail Gorbachev – então secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética –, acompanhado do marido Erich, com endurecidas feições.
Erich Honecker não acreditava mais na ilusão de conseguir salvar a Alemanha Oriental, disse a viúva. Para ele, a queda do Muro de Berlim era uma "contrarrevolução".
"Os outros é que devem se desculpar"
Durante alguns meses, os Honecker – que um dia foi o casal mais poderoso do país – foram abrigados pela família de um pastor luterano, antes de fugir para Moscou para evitar acusações criminais. Erich Honecker foi, então, extraditado para a Alemanha em 1992 e acusado de crimes cometidos durante a Guerra Fria. Em 1993, ele foi, porém, libertado ao adoecer de câncer no fígado e viveu com a esposa em Santiago do Chile até a sua morte, em 1994.
Eles tiveram sorte, afirma o ex-ministro do Exterior da União Soviética Eduard Shevardnadze no documentário de TV, relembrando que o líder romeno Ceausescu, por exemplo, foi sumariamente executado.
Quanto a um julgamento final sobre a Alemanha Oriental, Margot Honecker confia na história. Ela diz sempre acreditar "que se colhe o que se planta". A existência da RDA não foi à toa, afirma. Para a ex-ministra, o que há de errado no mundo é que as pessoas ainda são exploradas e mortas em guerras. "Os outros é que devem se desculpar", diz Honecker.
Autor: Bernd Gräßler (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque