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Vitória conservadora na Turquia preocupa UE

(sm)5 de novembro de 2002

O sucesso eleitoral do partido liderado pelo radical islâmico turco Recep Erdogan causa apreensão na Europa. Berlim conta com continuidade da política de integração da Turquia na União Européia.

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Istambul comemora resultado das urnasFoto: AP
O governo alemão espera que a vitória eleitoral dos conservadores islâmicos na Turquia não altere a política pró-européia de Ancara, nem a estabilidade das relações bilaterais. Numa primeira reação, Berlim mostrou neutralidade em relação ao resultado das urnas e declarou estar aguardando o programa de governo e a formação do novo gabinete na Turquia.

O Partido pela Justiça e Desenvolvimento (AKP), ameaçado de proibição um mês antes das eleições parlamentares, conquistou cerca de 34% dos votos, de acordo com o resultado ainda não oficial da apuração. Com isso, os conservadores islâmicos, opositores do Estado laico previsto na constituição turca, detêm mais de 360 das 550 cadeiras do parlamento em Ancara, o que corresponde a uma maioria de quase dois terços. Os social-democratas, que ficaram com 19% dos votos e 180 cadeiras, anunciaram uma “oposição construtiva”.

Minaretes e baionetas

Diante da apreensão generalizada de que o partido religioso possa isolar politicamente a Turquia, o controverso líder do AKP, Recep Tayyp Erdogan, anunciou de antemão que o novo governo manterá a proximidade com o Ocidente e trabalhará para o ingresso do país na União Européia. Erdogan também assegurou que seu partido vai cooperar com o FMI e traçar um programa econômico que fortaleça o papel internacional da Turquia.

O líder político de 48 anos, que levou seu partido ao poder 15 meses após a fundação, não poderá ser primeiro-ministro. O ex-prefeito de Istambul foi condenado à prisão em março de 1999 por incitação à violência religiosa, após ter recitado publicamente os versos “os minaretes são as nossas baionetas”.

Durante os últimos anos, as forças islâmicas turcas vem sobrevivendo e se fortalecendo, apesar das seguidas cassações de seus partidos, considerados inconstitucionais por defenderem um Estado religioso. Elas sempre se reagrupam em novas siglas, como após a proibição do Partido da Virtude, em meados do ano passado, que levou as forças políticas islamitas a racharem em duas frentes. Delas, o AKP – sob liderança de Erdogan – é a mais bem-sucedida. Em outubro passado, a promotoria geral do Estado havia tentado em vão proibir o novo partido.

Ameaça ao ingresso na União Européia?

Numa reação cautelosa ao resultado das urnas na Turquia, a União Européia se mostrou disposta a cooperar com o país, partindo do pressuposto de que o parlamento em Ancara prosseguirá a política pró-Europa. A Comissão Européia espera que a Turquia coloque em prática as reformas necessárias para seu ingresso na UE. Em seu relatório sobre o desenvolvimento dos candidatos à UE, divulgado em meados de outubro, a Comissão havia constatado que a Turquia ainda não preenche os critérios de aceitação, não apenas econômicos, mas também políticos, como as garantias democráticas. Mesmo assim, Ancara espera da UE sinal verde para iniciar as negociações de seu ingresso.

O governo alemão anunciou que a próxima cúpula da UE, a ser realizada em Copenhague, em dezembro, discutirá a fundo a aceitação da Turquia na comunidade. A oposição democrata-cristã na Alemanha se opõe ao início das negociações sobre um possível prazo de ingresso do país na União Européia. Os liberais alemães advertem contra o isolamento da Turquia, temendo que isso possa levar a uma radicalização de tendências islâmicas extremistas, antidemocráticas e antieuropéias.

O resultado das urnas na Turquia coincide com a orientação política dos turcos residentes na Alemanha. De acordo com uma enquete do Centro de Estudos Turcos, em Essen, a maioria deles apoiou os dois partidos mais bem votados. Mesmo assim, a integração da Turquia na UE é considerada prioritária pela maioria da população turca na Alemanha. Muitos temem que o novo governo possa prejudicar este processo.