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Dilma no cinema

6 de outubro de 2011

Diretor búlgaro que viveu no Brasil quer contar a história da presidente, que tem raízes no Leste Europeu. "Somos um país pequeno. Eu acho que todo mundo aqui sente como se a Dilma fosse um de nós", diz o cineasta.

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Dilma é recebida por brasileiros que vivem em SófiaFoto: Agência Brasil

Viktor Trapkov tem uma história que renderia um bom roteiro de filme. Mas o diretor de cinema búlgaro decidiu se debruçar sobre um outro relato de vida, que se assemelha bastante à sua própria. Ele vai contar na Bulgária a trajetória de Dilma Rousseff: assim como o pai da presidente, o pai de Trapkov deixou o país do leste europeu para tentar a sorte no distante território latino-americano. As filmagens para o documentário, que deve ficar pronto até o fim do ano, começaram com a visita de Dilma à Bulgária.

O diretor búlgaro, que viveu no Brasil entre 1990 e 2000, conversou com a Deutsche Welle em Sófia. Ele quer que o público brasileiro também assista ao seu filme.

Deutsche Welle: Como você descobriu o Brasil?

Viktor Trapkov: Quando eu tinha 3 anos, em 1964, meu pai foi para o Brasil e nunca mais voltou. Minha mãe ficou aqui sozinha, eu era filho único. Naquela época, a situação na Bulgária não estava nada bem. Todo o tempo minha mãe falava sobre meu pai, dizia que ele estava construindo uma fábrica e meu pai mandava muitas cartas.

Quando eu tive a chance de viajar para fora, fui para o Brasil. Já tinha estudado cinema em Moscou. E fui atrás do meu pai, cheguei a São Paulo com 80 dólares, sem falar português, só falava russo e francês. Fiquei quatro meses procurando por ele. Achei emprego num bar russo como cantor de músicas francesas – eu menti dizendo que era francês.

Conheci uma atriz brasileira que me ajudou a achar meu pai. Ela colocava anúncios no rádio, e um amigo do meu pai ouviu a mensagem e entrou em contato. Nós nos encontramos num café, foi estranho porque eu não o conhecia, mas depois passamos a sair uma vez por semana. Meu pai hoje tem 91 anos e ainda vive no Brasil, no Rio de Janeiro. A minha mãe continua na Bulgária, tem 71 anos.

E como foi que a Dilma Rousseff entrou na sua vida?

Eu tenho saudades do Brasil, tenho amigos lá. Há dois meses, eu li uma matéria no jornal búlgaro 24 Horas sobre um livro escrito pelo jornalista brasileiro Jamil Chade, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, que contava a trajetória de Dilma e que seria lançado também em búlgaro [a edição foi lançada na última segunda-feira]. Li também que o jornalista da Bulgária Momchil Indjov era o primeiro daqui a fazer uma entrevista com Dilma e ele colaborou no livro.

Então achei o Momchil e disse a ele que conhecia o Brasil, que era diretor, que sentia nostalgia, que conhecia a alma brasileira e podia compreender aquela história. Disse: "Vamos fazer um filme!" Então nasceu a ideia.

Tenho certeza que poucos no Brasil conhecem a Bulgária como um país. A mesma coisa com os búlgaros, que conhecem o Brasil do carnaval e do futebol. E agora, o de Dilma.

O que você quer mostrar ao público com o seu documentário?

Que existiram muitas dificuldades para toda a família da presidente. A Bulgária passou por muitos problemas. E num momento aconteceu uma coisa bonita dessas: essa mulher, com uma pequena parte do sangue búlgaro que tem, virou a presidente do Brasil.

Eu quero perguntar a ela, um dia eu irei: O que ela acha que o pai dela deu para ela? Pode ser que tenha dado a calma, pode ser que nunca tenha falado nada das dificuldades que ele teve aqui na Bulgária. É uma história muito forte... não digo que seja uma historia de Cinderela, mas parece.  

Em qual parte do processo de produção do documentário vocês estão? Dilma dará entrevista?

A gente queria fazer algo diferente, porque a gente não sabe se vai conseguir as respostas às nossas perguntas. A gente busca receber parte do dinheiro do governo da Bulgária, trabalhamos com produtores muito competentes também.

Vamos filmar a visita dela a Gabrovo [nesta quinta-feira], iremos ao Brasil mostrar onde o pai dela viveu, toda a atmosfera... E, se Deus quiser, e Dilma também (risos), eu queria mostrar em alguma parte do filme como ela vai ver tudo isso.

Queremos mostrar esse documentário para o público na Bulgária e no Brasil.

E o que existe de mais especial para você nessa história?

No Brasil, pode ser muito normal a mistura entre os povos, alguém ser parente de japonês, de italiano... A comunidade búlgara no Brasil é muito pequena, eu conheço quase todo mundo.

Somos um país pequeno. Eu acho que todo mundo aqui sente como se a Dilma fosse parte da família, um de nós. É isso que eu quero mostrar. Durante a visita dela aqui não queria filmar só o protocolo, como é ser presidente. Eu queria mostrar os olhos dela, as emoções, como ela se sentiu. Porque tenho certeza que ela sente alguma coisa diferente aqui. Porque ela sabe algumas histórias da família daqui, e isso emociona.

Entrevista: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler