Veneza enfrenta pior cheia em 50 anos
13 de novembro de 2019Veneza registra sua maior cheia em mais de 50 anos. A prefeitura da cidade decretou estado de emergência nesta quarta-feira (13/11). Pouco antes da meia-noite, o nível da água atingiu 1,87 metro acima do nível do mar.
O prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, culpou as mudanças climáticas pela "situação dramática" na cidade. "Pedimos ao governo que nos ajude, os custos serão altos", afirmou.
"Precisamos que todos nos ajudem e que todos se unam para enfrentar estes que são evidentemente os efeitos das mudanças climáticas", disse o prefeito, citado pelo jornal local Il Gazzettino.
Desde que os registros começaram, em 1923, o nível da água esteve mais alto apenas uma vez: durante uma inundação devastadora em 1966, quando a água chegou a ficar 1,94 metro acima do nível do mar.
A altura da água voltou a diminuiu ligeiramente no decorrer da madrugada, conforme informação do prefeito, divulgada pelo Twitter nesta quarta-feira.
Brugnaro pediu a rápida conclusão de um projeto de construção de barreiras móveis submarinas, destinadas a proteger Veneza das inundações que periodicamente atingem a cidade, no fenômeno chamado de acqua alta.
Conhecida pelo acrônimo Mose, a estrutura de barreiras começou a ser erguida em 2003. As obras foram atrasadas devido a custos excessivos e escândalos de corrupção, e a previsão atual é de que o sistema seja inaugurado em 2021.
A mídia italiana informou que um morador de 78 anos morreu vítima de choque elétrico, ao tentar acionar uma bomba de drenagem após as águas invadirem sua casa.
A Guarda Costeira disponibilizou embarcações adicionais para servirem como ambulâncias aquáticas.
"Não estávamos esperando tanto", disse Petra Schaefer, do Centro Alemão de Estudos Venezianos. O instituto, financiado pelo governo alemão – é sediado no histórico Palazzo Barbarigo della Terrazza, diretamente no Grande Canal de Veneza. "A previsão era de 1,45 metro", diz a historiadora da arte em entrevista à DW. "Estávamos preparados para 1,60 metro."
O arquivo da instituição ficou inundado até a altura do joelho, danificando documentos, material publicitário e livros, que afundavam na água salobre, que o vento tempestuoso sopra incansavelmente na lagoa adentro, acompanhado da chuva constante.
Schaefer, que mora em Veneza há 20 anos, não entrou em pânico, apesar das sirenes de inundação, acionadas pelo menos quatro vezes durante a noite de terça para quarta-feira. "Em todos os lugares as pessoas ofereceram sua ajuda – houve uma grande onda de solidariedade", afirmou.
A célebre Praça de São Marcos está sendo especialmente afetada pela maré alta, por estar localizada em uma das partes mais baixas da cidade. O átrio da Basílica de São Marcos foi inundado, e as autoridades planejam vigiar a elevação do nível da água no prédio também durante a madrugada. A situação deve perdurar até sábado, preveem as autoridades locais.
O engenheiro Pierpaolo Campostrini, curador da Basílica de São Marcos, disse que a dimensão da inundação na terça-feira só foi vista cinco vezes na longa história da igreja, cuja construção começou em 828 e que foi reconstruída após um incêndio em 1063.
O prefeito afirmou via Twitter que a basílica sofreu graves danos, assim como todas a cidade as ilhas da Lagoa de Veneza.
Mais preocupante, segundo Campostrini, é que três desses cinco episódios ocorreram nos últimos 20 anos, mais recentemente, em 2018. As autoridades prometeram melhorias nas defesas contra inundação do edifício.
Chuvas intensas caem desde terça-feira na Itália, afetando em particular as regiões da Sicília, Calábria, Basilicata e Veneza, onde as precipitações se somam à maré alta incomum.
As chuvas provocaram o fechamento de escolas em várias cidades ao sul, incluindo Taranto, Brindisi e Matera, assim como as cidades sicilianas de Pozzallo e Noto, de acordo com o serviço nacional de meteorologia.
Em Matera, Capital Europeia da Cultura deste ano, um tornado causou a queda de árvores e postes de iluminação, danificando vários telhados e edifícios.
MD/afp/dpa/ap/rtr
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