"Vamos derrubar Biden", diz Bannon ao se entregar ao FBI
15 de novembro de 2021Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Donald Trump, se entregou nesta segunda-feira (15/11) às autoridades americanas após ter sua prisão decretada. Ele responde a duas acusações de desacato, após se recusar a colaborar com uma investigação sobre a invasão do Capitólio – a sede do Congresso americano – no dia 6 de janeiro.
Bannon, principal estrategista da campanha vitoriosa de Trump em 2016 e um dos ícones da nova direita nos Estados Unidos, aproveitou a ocasião para chamar a atenção de seus apoiadores, promover seu site War Room, e lançar novos ataques ao atual presidente do país.
"Isso é só barulho", afirmou aos jornalistas, ao chegar cercado de seguranças ao escritório do FBI. "Quero que vocês se mantenham focados nesta mensagem. Vamos derrubar o regime de Joe Biden."
Na última sexta-feira, um júri indiciou Bannon, de 67 anos, por se recusar a testemunhar ou fornecer documentos ao comitê da Câmara dos Representantes que investiga o violento ataque ao Capitólio, em Washington. A pena para cada uma das duas acusações de desacato varia de um mês a um ano de prisão.
Os investigadores acreditam que Bannon e outras pessoas próximas ao ex-presidente Trump poderiam ter informações sobre as ligações entre a Casa Branca e a turba de apoiadores da direita radical americana que invadiram a sede do Congresso.
O incidente ocorreu no dia em que os parlamentares iriam certificar a vitória de Biden sobre Trump nas eleições de novembro de 2020. Os apoiadores de Trump se baseavam em acusações feitas pelo ex-presidente de que teria havido fraude nas eleições, o que jamais chegou a ser provado.
Conhecimento prévio do ataque
Em outubro, a Câmara dos Representantes, de maioria democrata, aprovou uma resolução contra Bannon com 229 votos a favor - nove deles de republicanos - e 202 contra, pedindo ao Departamento de Justiça que tomasse providências contra o ex-estrategista de Trump.
A comissão de investigação intimou Bannon a depor por acreditar que "tinha algum conhecimento prévio dos acontecimentos extremos que aconteceram" em 6 de janeiro, quando Trump incentivou uma insurreição.
A turba de apoiadores do republicano acabou invadindo e depredando o Capitólio, interrompendo o processo que oficializava a vitória de Biden nas eleições - e a derrota de Trump. Cinco pessoas morreram no episódio.
Os legisladores baseiam as suas suspeitas contra Bannon em declarações que o ultradireitista fez em seu podcast na véspera do ataque ao Capitólio por centenas de apoiadores radicais do ex-presidente.
"Será que o caos se vai instalar amanhã? Muitas pessoas me disseram: 'Se houvesse uma revolução, seria em Washington'. Bem, este vai ser o momento de vocês na história", disse Bannon aos seguidores.
Bannon, que não quer depor ao Congresso, se amparou em uma ação judicial apresentada por Trump para impedir que certos documentos relacionados com os acontecimentos ocorridos sejam revelados, pedindo ao comitê que adie o seu comparecimento até que a Justiça decida, o que foi rejeitado.
Em 2016, Bannon foi apontado como um dos estrategistas-chave da avalanche de boatos e mentiras que turbinaram a bem-sucedida campanha de Trump, fomentando rancor de setores do eleitorado conservador em questões como imigração.
Ligações com clã Bolsonaro
Bannon, um ex-executivo dos setores bancário e de mídia que já comandou o site de ultradireita Breitbart News, também mantém laços estreitos com a família Bolsonaro, especialmente com o deputado de extrema direita Eduardo Bolsonaro, que costuma elogiar o americano. Bannon já prestou várias consultorias informais ao clã brasileiro e anunciou apoio a Jair Bolsonaro antes do segundo turno das eleições de 2018.
Ele ainda criou um projeto internacional chamado "O Movimento", para aproximar líderes populistas de direita e extremistas pelo mundo. O deputado Eduardo Bolsonaro é o representante do grupo no Brasil.
Ele ainda mantém relações com o ideólogo ultraconservador Olavo de Carvalho, que exerce influência sobre os filhos do presidente Jair Bolsonaro.
Bannon chegou a ser preso em agosto de 2020 sob a acusação de desviar dinheiro de uma campanha de apoio à construção de um muro entre os Estados Unidos e o México – que havia sido uma das promessas da campanha de Trump em 2016. Ele acabou sendo solto após pagar fiança de US$ 5 milhões.
Em novembro do mesmo ano, ele ainda teve sua conta no Twitter excluída por "glorificação da violência" ao escrever que Anthony Fauci — principal especialistas em doenças infecciosas dos EUA — e o diretor do FBI Christopher Wray deveriam ser decapitados.
rc/lf (Reuters, AFP)