Umeå, na Suécia, é Capital Cultural mais setentrional da Europa
22 de dezembro de 2013Os planos de Umeå como Capital Cultural Europeia 2014 são ambiciosos. Quanto a isso, Anna Olofsson, diretora de marketing da cidade no norte da Suécia, não deixa dúvidas. "A grande meta do Ano Cultural é o crescimento", pontifica, com voz firme.
No salão de recepção da prefeitura, ela aponta energicamente para o mapa da cidade pregado na parede e esclarece que a intenção é atrair investidores. "Precisamos crescer mais, para apresentarmos a variedade de ofertas que se espera de uma cidade moderna."
Hoje, Umeå já é uma das localidades suecas que crescem mais rapidamente. Nos últimos 50 anos, a população triplicou: no núcleo urbano vivem 80 mil, em toda a área municipal são 116 mil pessoas. Olofsson espera que, em alguns anos, seja possível quase duplicar esse número de habitantes, alcançando os 200 mil.
Natureza, cultura e modernidade
Em 2010, o Conselho Europeu escolheu Umeå para ser Capital Cultural em 2014, ao lado de Riga, na Letônia. A cidade sueca está 650 quilômetros ao norte de Estocolmo – portanto, a apenas 150 quilômetros do Círculo Polar, sendo, até agora, a Capital Cultural mais setentrional da União Europeia.
A localidade na província de Västerbotten se beneficia de uma expansão industrial e do patrocínio estatal ao estudo universitário. Grande parte de seus cidadãos tem formação excelente, problemas sociais são praticamente inexistentes, a taxa de criminalidade é mínima. Além disso, o local onde viveu o autor de best-sellers de suspense Stieg Larsson (1954-2004) é considerado um dínamo cultural da costa norte sueca: pequeno, porém potente.
Décima-segunda cidade do país em tamanho, Umeå reúne natureza intocada, muitas vezes inóspita, e modernidade urbana. Por um lado, não é raro se verem alces atravessando suas ruas, há trenós puxados por cães e viagens de caiaque. Por outro, ela dispõe da internet de banda larga mais veloz do mundo ocidental, ostenta uma cena cultural ativa e uma universidade de prestígio internacional. Mas é importante não repousar sobre esses louros, ressalva a chefe de marketing Olofsson.
No térreo da prefeitura, a equipe organizadora do Ano Cultural trabalha com afinco para tornar realidade as visões de crescimento de Umeå. Com uma verba total de cerca de 40 milhões de euros, seus 37 integrantes cuidam para que o público internacional perceba a cidade como cosmopolita e voltada para o futuro.
Sobre quase todas as paredes veem-se cartazes com um coração vermelho sorridente, o símbolo da Capital Cultural. Dezenas de caixas com brochuras, panfletos e filipetas estão espalhadas por sobre o carpete marrom-claro. Reina um caos criativo, em forte contraste com a tranquilidade concentrada com que se trabalha aos computadores.
Terra de povos indígenas
Chama especialmente a atenção uma porta branca de madeira, coberta de assinaturas coloridas. "Nesta porta se eternizaram todos os artistas que se apresentaram aqui", esclarece Fredrik Lindegren, diretor artístico do Ano Cultural.
Com seu jeito relaxado, pulôver listrado e jeans, ele parece mais um estudante do que alguém que ocupa um cargo tão sério. No entanto, é o responsável por 300 eventos, de festivais, récitas de ópera, exposições a leituras públicas e concertos de música pop e rock.
Umeå espera receber durante o ano até 200 mil visitantes. Na seleção para Capital Cultural 2014, a cidade convenceu o júri com seu slogan "Curiosidade e paixão", sua relevância como motor do progresso regional e com seu foco na cultura dos nativos lapões (ou sami), o único povo indígena da União Europeia.
"O título Capital Cultural Europeia implica uma série de desafios", enfatiza o promotor cultural Lindegren. Afinal de contas, estão em jogo verbas da UE das quais cabe se mostrar merecedor. Uma tarefa nada simples: como tem noticiado a imprensa sueca, ao contrário do que se esperava, os patrocinadores se mantêm reticentes, e o financiamento de alguns dos projetos permanece em aberto.
Além disso, alguns representantes dos lapões manifestaram-se céticos em relação ao Ano Cultural, preferindo aguardar para ver se sua cultura será tratada com a ênfase condizente. Há, ainda, críticas de que a municipalidade de Umeå estaria mais interessada em autopromoção do que em eventos culturais inovadores.
Da ópera ao punk
Fredrik Lindegren contrapõe a tais acusações alguns pontos altos do programa. "Durante o Midsommar [festa do solstício de verão], quando na Suécia fica claro praticamente 24 horas, haverá toda uma série de eventos ao ar livre inusitados."
Ele recomenda com veemência a ópera Elektra, de Richard Strauss, encenada pelo centro de eventos culturais NorrlandsOperan em cooperação com o grupo catalão La Fura dels Baus. "Vai ser uma apresentação com fogo e água, sangue e drama", promete.
No centro da programação estão as oito estações do calendário lapão: o tempo do despertar na primavera; o do retorno no início do verão, o crescimento no alto verão, a reflexão no verão tardio; a colheita no outono, o vigor no fim do outono; o tempo da peregrinação no inverno, e o dos cuidados, no fim do inverno. Distribuídas ao longo do ano, mostras com obras de artistas sami permitem penetrar um pouco na vida desse povo.
Cosmopolitismo com tradição
Os organizadores também pretendem mostrar o lado jovem da cidade, com um torneio juvenil de futebol e concertos heavy metal e punk. Afinal, em Umeå vivem 34 mil estudantes universitários, vindos de todas as regiões do país e do exterior.
"A idade média é de 37 anos", anuncia Anna Olofsson, com visível orgulho. A flutuação demográfica, devido à chegada e partida dos estudantes, é tão forte, que, do ponto de vista estatístico, sua população é totalmente renovada a cada sete anos. Essa dinâmica tornou Umeå uma cidade cosmopolita, "aberta a novas ideias e a diferentes formas de vida e de criação".
E as raízes de tamanha tolerância se encontram no passado distante, prossegue. No norte da Suécia, os camponeses nunca foram servos feudais e, já no século 18, desenvolveu-se uma cultura de discussão progressista, igualitária, a partir da qual os cidadãos desenvolveram sua formação e sua autoestima.
Nesse ponto, a diretora de marketing retoma seu tema central: o crescimento de sua cidade natal. Mais uma vez ela agita forte os tambores da publicidade: a Suécia é um país avançado, "mas quem quiser ver, numa cidade, a essência dessa mentalidade, que venha a Umeå".