Uma vida entre drogas, trabalho e hierarquia para os presos alemães
24 de maio de 2006Enormes muros cinzas com topo de arame, uma torre de observação a cada cem metros, um rigoroso sistema de checagem antes de se entrar nos intermináveis corredores e séries de portas de aço antes de se chegar aos prisioneiros – a principal penitenciária de Colônia é o retrato da imagem tradicional de prisões espalhadas pelo mundo. O local foi projetado para 1172 apenados, dos quais 983 homens e 189 mulheres.
Para os presos o dia começa às 6h. Após o café-da-manhã eles vão para escola, treinamento ou trabalho, com apenas meia hora de interrupção durante o intervalo de almoço. Os prisioneiros podem treinar para serem cabeleireiros, costureiros ou tintureiros. Ninguém precisa saber mais tarde que eles terminaram a escola ou aprenderam uma profissão na prisão.
"A vida é realmente boa aqui"
Nathalie, de 23 anos, que não quis dizer por que está na prisão, garante que a vida atrás das grandes não é ruim. Na sua cela ela tem uma mesa, cadeira, televisão e um gravador. "Nós temos até mesmo um banheiro e pia nas nossas celas", diz. "A vida é realmente boa aqui."
Todos os prisioneiros são obrigados a fazer algum tipo de trabalho. Andi, 33 anos, que trabalha em um centro de inspeção de aparelhos elétricos, usa uma máquina de escrever, já que computadores não são permitidos na prisão por questão de segurança.
"É aqui que mantemos controle sobre os rádios e televisores que os presos solicitam para manter em suas celas", ele afirma. "Os aparelhos são então mandados para um responsável por procurar objetos ilegais dentro, como armas, drogas, dinheiro ou informações secretas. Se está tudo em ordem, eles são trazidos de volta e eu os fecho."
Os prisioneiros também podem trabalhar na cozinha, lavanderia, depósito de lixo ou em oficinas para as quais grandes companhias externas também solicitam trabalho. Eles recebem muito menos do que ganhariam pela mesma função fora. O ganho máximo é cerca de 300 euros por mês.
"Eles têm que economizar grande parte dos pagamentos para quando forem soltos", diz Angela Wotzlaw, vice-diretora da prisão de Colônia, acrescentando que eles podem usar uma parte do dinheiro para compras. No entanto, de acordo com ela, tais compras só podem ser encomendadas de uma lista específica e os itens são trazidos de fora.
Drogas, um parte da vida na prisão
Afora trabalho e escola não há muito mais o que os prisioneiros possam fazer durante seu tempo livre. Eles podem ir à biblioteca ou praticar algum esporte por uma hora e meia cada semana. Alguns usam o tempo para se encontrar com seus advogados.
Cada preso tem a permissão de receber visitas por meia hora quatro vezes ao mês. A pequena sala de visitas com mesas de madeira possui espelhos em cada canto, que permitem o monitoramento dos encontros por parte dos seguranças. Mas apesar disso, de acordo com Wotzlaw, a sala de visitas caracteriza-se como um risco para a entrada de drogas ilegais.
"Eu estaria mentindo se dissesse que poderíamos evitar isso", diz ela. "Simplesmente não é verdade. Nós poderíamos apenas fazer isso se fechássemos completamente a prisão e acabássemos com contatos humanos", afirma. "Por exemplo, algumas visitas trazem drogas em suas bocas e passam adiante através de um beijo. Mulheres que vêm para a prisão freqüentemente escondem drogas nas partes íntimas de seus corpos."
Apesar de não se falar sobre o assunto, as drogas são parte da vida na prisão, de acordo com Wotzlaw. Ela acrescenta que para muitos a prisão é seu primeiro ponto de contato com substâncias ilegais. "Os traficantes são freqüentemente as pessoas mais respeitadas na hierarquia criada entre os presos", explica a diretora.
"Nós concluímos que sentenciados por abuso sexual e estupro se encontram na parte de baixo deste sistema hierárquico, mas estupradores estão ainda um pouco acima dos molestadores de crianças", diz ela.
Tratados como humanos pela primeira vez
O agente penitenciário Peter Piontek disse que brigas e desavenças entre os presos são ocorrências regulares. Como punição, eles são constantemente mantidos por uma semana em suas celas.
Muitos deles aprendem a comer com garfo e faca pela primeira vez em suas vidas na prisão, e para outros é também a primeira vez que aprendem a seguir regras e a ter uma rotina fixa. "Para muitos é realmente o primeiro lugar onde são vistos como humanos e não apenas como vagabundos nas ruas", afirma Piontek.