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Um metodista na Casa Branca

Daniel Scheschkewitz (sv)18 de setembro de 2007

Apesar da rígida separação entre Estado e Igreja, George W. Bush é um dos presidentes mais religiosos da história recente norte-americana. Mesmo assim, não se pode falar em tendência a uma religião oficial no país.

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Bush: afã religiosoFoto: AP

Numa comparação entre as nações industrializadas, os Estados Unidos são o país com o maior número de cidadãos religiosos. De acordo com depoimentos próprios, mais de 65% da população do país se diz adepta de uma crença e as igrejas costumam ficar cheias nos fins de semana. A maioria dos norte-americanos reza diariamente – também em público – e acredita na vida após a morte. Não seria de se estranhar, então, que a religião exerça, também no âmbito político, um papel essencial.

Religiões prosperam

No entanto, a separação entre Igreja e Estado é um dos fundamentos da Constituição norte-americana. Um quesito no qual nem o presidente George W. Bush ousou tocar. E nem mesmo quis fazer isso, garante Alan Wolfe, especialista em questões religiosas. Segundo ele, a separação entre Igreja e Estado ainda é intocável no país.

"Na Europa, há religiões oficiais, que estão morrendo. Nos EUA, onde a liberdade religiosa se tornou um princípio, as religiões prosperam", diz Wolfe. Abolir no país a separação entre Estado e religião significaria o fim das religiões, acredita o especialista.

Mesmo neste contexto, é possível dizer que a religião ganhou uma dimensão ainda maior desde a chegada de Bush à Casa Branca. Até antes de começar sua cruzada contra o "Eixo do Mal", o presidente já demonstrava seu afã religioso. Uma de suas primeiras medidas, ao assumir o cargo após a polêmica eleição em 2000, foi nomear um encarregado especial da Casa Branca para questões filantrópicas e religiosas. Bush quis, com isso, tirar parte das tarefas de cunho social das mãos do Estado e fortalecer o papel da Igreja no setor da assistência social.

Metafísica e política externa

Fato é que o presidente norte-americano é um membro praticante da Igreja Metodista. A opção pela religião surgiu relativamente tarde na vida de Bush, depois que ele resolveu se abster do álcool e se entregar "à virtude". Frente ao cronista Bob Woodward, o presidente até mesmo confessou receber incumbências de um "poder maior". Com a luta contra o que chamou de "Eixo do Mal", Bush introduziu uma categoria metafísica na realidade da política externa. Vários observadores viram aí um afã religioso excessivo.

O especialista Alan Wolfe suspeita, porém, que Bush não é tão religioso quanto as pessoas acreditam que seja. "De qualquer forma, ele não é cristão da forma como interpreto o conceito de cristão. Não vejo, por exemplo, nada da humildade e do pacifismo de Jesus Cristo em seu comportamento."

"Tampouco há nele a dúvida, própria da tradição das reflexões agostinianas sobre o conceito de pecado. Assim, sua política externa é de fato perigosa, contudo não porque seja movida pela religião, mas sim por se inspirar numa religiosidade mal compreendida ou por ser encabeçada por um homem cuja personalidade gera perigo", diz Wolfe.

Criacionismo x darwinismo

Charles Darwin Symbolbild
Escolas norte-americanas: criacionismo em vez de DarwinFoto: AP Graphics

Hoje, as seitas pentecostais nos EUA descobriram novos campos de ação para além da Casa Branca. Um de seus propósitos é reformar os currículos escolares em todo o país, colocando para escanteio a Teoria da Evolução de Darwin, em prol do que chamam de visão de mundo "criacionista", que propaga até mesmo no âmbito das Ciências Naturais a existência de uma força criadora celestial.

Para a Casa Branca, no entanto, acredita William Galston, do renomado think tank Brookings, os propósitos de uma direita religiosa não surtem mais um efeito estratégico, uma vez que entre os candidatos republicanos para as eleições de 2008 não há, até agora, nenhum candidato em vista.

"A direita religiosa está decepcionada com os atuais candidatos nos quadros republicanos e sente-se desprezada por estes", aponta o especialista. Os três candidatos com mais chances – John McCain, Rudolph Giuliani e Mitt Romney – são vistos, por razões distintas, com desconfiança pela direita religiosa. "Escolher um entre esses três é visto como um ato do Diabo", conclui Galston.

Direita religiosa: menos influência

De acordo com o especialista Wolfe, é clara a tendência de redução gradual da influência da direita religiosa no país. Segundo ele, vem diminuindo nos EUA o número de pessoas para as quais a religião é o que há de mais importante, e que só vêem a política sob lentes religiosas. "A direita religiosa teve os olhos maiores que a barriga", diz Wolfe.

"Seus líderes James Dobson e Richard Land reclamam que não possuem nenhum candidato para a presidência em 2008. E eles realmente não têm esse candidato. Toda essa conversa repetida por oito anos consecutivos pelo ideólogo-mor do Bush, Karl Rove, de que as bases do Partido Republicano haviam se transformado numa fortaleza religiosa-conservadora indestrutível, acabou se mostrando vazia. Essa fortaleza, no fim de tudo, não existe." (sv)