Ultradireita nomeia candidata ao governo da Alemanha
7 de dezembro de 2024O partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) nomeou neste sábado Alice Weidel como sua primeira candidata mulher ao comando do país nas eleições antecipadas, previstas para o dia 23 de fevereiro.
Weidel, que é co-líder da bancada do partido no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão) e também co-dirigente da sigla, será a primeira mulher nos quase 12 anos de história da AfD a concorrer sozinha ao cargo de chanceler federal.
Antes, ela já havia sido co-candidata com outros colegas homens do partido: em 2017 ao lado de Alexander Gauland e em 2021 com o também co-líder da AfD Tino Chrupalla.
A deputada e economista de 45 anos já havia anunciado suas pretensões em setembro. O lema de sua campanha será uma expressão que, traduzida para o português, pode significar tanto "tempo para a Alemanha" quanto "está na hora da Alemanha".
AfD está em segundo lugar nas pesquisas e quer romper "cordão sanitário"
A AfD aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, oscilando entre 17 e 19% – bem atrás dos conservadores da aliança CDU/CSU, que somam mais de 30%, e muito próximo dos social-democratas do SPD, partido do atual chanceler federal, Olaf Scholz.
"Somos a segunda força nas pesquisas a nível federal e por isso queremos ser parte do governo", afirmou Weidel.
Até agora, o partido de retórica anti-imigração e crítico ao apoio militar à Ucrânia segue isolado por um "cordão sanitário" imposto pelos demais membros do Bundestag, que se recusam a costurar alianças com a sigla dada a experiência histórica traumática da Alemanha com o extremismo de direita – a AfD é atualmente monitorada pelo serviço secreto alemão por suspeita de extremismo, e tem poucas chances reais de fazer parte de um governo dado o seu isolamento.
Ainda assim, o partido deve avançar significativamente no Parlamento. Na última eleição, em 2021, a sigla obteve 10,4% dos votos.
A candidatura de Weidel ainda terá que ser ratificada em um congresso nacional da AfD em 11 de janeiro, mas esse aval agora é considerado mera formalidade.
Qual é a agenda de campanha da AfD
"Nosso país já não é o que foi", disse Weidel, aludindo à fase de prosperidade que se sucedeu à reconstrução no pós-guerra, e afirmando que a Alemanha hoje se encontra "em uma de suas crises mais profundas".
Segundo Weidel, os últimos governos acabaram com essa prosperidade, quebrando "a espinha dorsal da indústria alemã" e estragando "tudo o que funcionava" com sua cruzada intervencionista contra a economia de mercado.
Como solução, a alemã propõe "baixar os impostos e os preços da energia", a reativação de usinas nucleares e de carvão e a retomada da compra de gás natural – presumivelmente da Rússia.
Na economia, uma de suas inspirações é a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que defendeu redução de impostos, corte de subsídios estatais e privatizações.
Weidel também critica o que chama de "violência excessiva de imigrantes", prometeu fechar as fronteiras e deportar de imediato "ilegais, criminosos, estupradores e assassinos", bem como suspender a prestação de assistência social a estrangeiros.
A candidata da AfD é ela mesma casada com uma mulher nascida no Sri Lanka, com quem tem dois filhos – um modelo de família radicalmente diferente do defendido pela AfD em seu programa partidário: "Na família, mãe e pai cuidam de suas crianças sempre com responsabilidade compartilhada."
Apesar disso, Weidel se diz contrária à "ideologia de gênero" e defende que o Estado precisa "parar de se intrometer" na vida das pessoas através de políticas de diversidade.
Também é contra o envio de armas à Ucrânia – uma agenda que agrada à Rússia. "Somos o partido da paz. Se não querem guerra na Alemanha, votem na AfD."
Numa entrevista dada em agosto ao Welt am Sonntag, Weidel também anunciou que seu partido pretende "reformar a União Europeia" – e, caso isso não seja possível, defendeu que cada país deveria ter a chance de organizar um referendo para decidir sobre a permanência no bloco, como aconteceu no Reino Unido.
Um rascunho do programa partidário da AfD apresentado dias antes da nomeação de Weidel defende a saída da UE e da zona do euro, uma política dura contra imigrantes, a reaproximação com a Rússia, restrições ao aborto e a promoção de um modelo de família tradicional.
ra (efe, DW, ots)