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Crise do euro

17 de setembro de 2011

Ministros das Finanças da UE reunidos em Wroclaw defenderam a introdução de impostos sobre transações financeiras no bloco. A Alemanha pressiona em prol da medida, enquanto Reino Unido e EUA mantêm ceticismo.

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Schäuble (esq.) e Juncker: impostos sobre transações financeiras
Schäuble (esq.) e Juncker: impostos sobre transações financeirasFoto: dapd

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, pretende arriscar mais uma tentativa: depois que a implementação de um imposto global sobre transações financeiras não foi aceita no último ano, ele quer agora, junto com seu colega de pasta francês, François Baroin, tentar introduzir tal taxa em esfera europeia.

Os EUA rejeitam categoricamente a taxação dos mercados financeiros, o que ficou claro através dos pronunciamentos de Timothy Geithner, secretário do Tesouro norte-americano, presente ao encontro de ministros europeus na polonesa Wroclaw. Mesmo assim, a Europa deverá seguir adiante, ressaltou neste sábado (17/09) Schäuble. "Não supreendeu ninguém o fato de Tim Geithner não ter dito, espontaneamente, que essa seria a ideia capaz de solucionar agora todos os problemas", disse o ministro.

Uma certeza, afirma ele, é a de que o bloco europeu está trabalhando com toda força na implementação desses impostos. Já em outubro próximo, a Comissão da UE irá apresentar o projeto de lei em questão. O ministro britânico das Finanças, George Osborne, vê com bastante ceticismo uma taxação do gênero, temendo que a medida traga desvantagens para Londres como centro financeiro. Os governos da Polônia e Itália também manifestam dúvidas quanto à medida.

Na pior das hipóteses, Schäuble defende que apenas os 17 países da zona do euro adotem os novos impostos, embora ele ainda não queira "recuar". As taxas a serem cobradas irão trazer dinheiro aos caixas públicos, ou seja, dinheiro que foi usado anteriormente para salvar bancos e companhias de seguros. Além disso, negócios que envolvem altos riscos financeiros deverão ser taxados de tal forma, que, pelo menos na zona do euro, não valham mais a pena.

Grécia sob pressão

Timothy Geithner, visita inédita em reunião ministerial
Timothy Geithner, visita inédita em reunião ministerialFoto: dapd

Em Wroclaw, aconteceram várias e intensas conversas com o ministro grego das Finanças, Evangelos Venizelos. Schäuble deixou claro a ele que as finanças gregas ainda precisam melhorar muito. Caso os avaliadores da UE, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) não possam realmente emitir um parecer positivo até início de outubro próximo, o próximo crédito ao país, no valor de oito bilhões de euros, poderá não ser liberado.

Jean-Claude Juncker, coordenador das finanças na zona do euro, afirmou à Deutsche Welle que, caso os avaliadores da UE verifiquem que a Grécia não respeita às exigências, a parcela de crédito será suspensa. "Acho que especular agora o que vai acontecer então é precipitado", disse Juncker.

Nenhum dos ministros presentes ao encontro quis dar declarações concretas a respeito da inadimplência da Grécia. Schäuble afirmou que, mesmo que Atenas não receba, em outubro, as verbas planejadas, não há necessidade de um plano de emergência. Afinal, o país já recebeu a confirmação de uma ajuda de 110 bilhões de euros e encontra-se dependente dos mercados financeiros.

BCE alerta para enfraquecimento da conjuntura

Os presidentes dos bancos centrais dos países europeus também participaram do encontro, entre eles Jens Weidmann, presidente do Banco Central Alemão, pela primeira vez no grêmio. Ele é o sucessor de Axel Weber no cargo, que deixou a presidência do banco no primeiro semestre deste ano. Weidmann também observa a situação com olhos críticos, embora se posicione de maneira mais diplomática.

Ministros das Finanças da UE e presidentes de bancos centrais reunidos em Wroclaw
Ministros das Finanças da UE e presidentes de bancos centrais reunidos em WroclawFoto: AP

Ele é contra o envolvimento dos bancos centrais no processo de quitação de dívidas públicas. Geithner quis sugerir aos europeus esse modelo, em prática nos EUA. Weidmann se posicionou em Wroclaw também contra programas de aquecimento da conjuntura financiados pelo Estado. "Os riscos para a conjuntura aumentaram sensivelmente. Isso acontece devido ao nervosismo dos mercados financeiros, que tem a ver com a crise das dívidas públicas nos países da zona do euro. Agora chegou a hora de reaver a confiança do investidor. Isso não se consegue através de novos programas para a conjuntura, mas apenas através da consolidação e do fortalecimento que derivam da capacidade de concorrência", afirmou.

Por outro lado, os ministros europeus das Finanças veem a situação de Portugal e da Irlanda com otimismo, já que os dois países implementaram suas medidas de austeridade de maneira distinta daquelas da Grécia, estando a caminho de uma situação mais favorável. A Irlanda e Portugal receberão 150 bilhões de euros em crédito do fundo de salvação FEEF.

Situação dos bancos

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, confirmou em Wroclaw, mais uma vez, que os bancos centrais mais importantes do mundo teriam, a fim de ajudar os bancos, entrado em um acordo que prevê a injeção de mais capital no mercados financeiros. Bancos franceses e italianos, que mantêm títulos públicos de países europeus em dificuldades, ficaram sob pressão nas últimas semanas.

Jean-Claude Trichet, presidente do BCE
Jean-Claude Trichet, presidente do BCEFoto: picture alliance / dpa

Os bancos não fornecem créditos suficientes uns aos outros, porque a falta de confiança é geral. Apesar disso, Juncker não vê a situação dos bancos na Europa de maneira estritamente crítica. "Depois dos testes para medir o estresse dos bancos, cheguei à conclusão de que a situação geral dos bancos europeus é estável. Há alguns bancos que precisam ser recapitalizados. E isso vai acontecer", disse Juncker à Deutsche Welle.

O teste de estresse dos bancos europeus mostrou que oito instituições bancárias da Grécia e da Espanha precisam de injeções de capital. A UE pretende evitar, através do exame regular dos bancos, o desencadeamento de uma nova crise como aquela ocorrida após a falência do Lehman-Brothers há três anos.

No início de outubro próximo, os ministros das Finanças da UE irão se reunir de novo, a fim de discutir a liberação da parcela de crédito para a Grécia. A reunião em Wroclaw foi prematuramente interrompida, porque a polícia polonesa apresentou dúvidas quanto à manutenção da segurança dos ministros no contexto de uma manifestação contra as medidas europeias de austeridade. Os sindicatos europeus haviam conclamado para uma grande manifestação em Wroclaw, com a presença de até 30 mil pessoas, que deveria impedir a viagem dos ministros de volta para casa.

Autor: Bernd Riegert, de Wroclaw (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque